Adilson Araújo, presidente da CTB
Acompanhado de líderes empresariais e do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro participou de uma reunião na manhã desta quinta-feira (7) com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, em Brasília. O encontro teve o propósito de debater as consequências econômicas do coronavírus e pressionar pelo fim do isolamento social, adotado nos estados e municípios com o respaldo do STF.
Significativamente, representantes da classe trabalhadora não foram convidados. São considerados inimigos pelo governo neofascista, subserviente aos interesses dos grandes capitalistas e dos Estados Unidos.
Demagogo consumado
O líder da extrema direita promoveu mais espetáculo degradante, pronunciando um discurso marcado pela demagogia e o descaso com a vida. Procurou capitalizar a renda mínima de R$ 600,00 para trabalhadores que perderam sua fonte de renda, ocultando o fato de que tanto ele quanto Paulo Guedes foram contra tal valor.
A proposta original do Ministério da Economia era de míseros R$ 200,00. Considerado risível pelos movimentos sociais e pela maioria do Parlamento, o valor foi elevado, podendo somar R$ 1,2 mil por casal, por determinação do Congresso, cabendo destacar que a CTB e demais centrais sindicais tiveram um papel destacado nesta conquista.
É notório também que Bolsonaro e a equipe econômica atrasaram deliberadamente tanto a sanção da Lei 10.835, que instituiu a renda mínima, quanto a liberação dos recursos. O fato dele agora querer aparecer como pai da criança revela um traço da sua personalidade política. A exemplo do seu ídolo Donald Trump, trata-se de um demagogo consumado.
O povo não conta
Os representantes do capital argumentaram a Toffoli que o Brasil está quebrado e que a economia está na UTI, respaldando as pressões do presidente pelo fim do isolamento. O movimento sindical e as forças progressistas também defendem a necessidade de proteção de empresas, especialmente as micros, pequenas e médias, ao lado do emprego e renda de trabalhadores urbanos e rurais contra a recessão.
Porém, foi ignorado o fato de que, nesta quinta (7), o Brasil já contabiliza quase 9 mil mortes decorrentes da Covid-19 e um estudo da USP sugere que nosso país é o novo epicentro da doença, com bem mais de 1 milhão de casos. Os pobres formam a maioria das vítimas, mas a vida do povo não está no radar de preocupações das elites e do atual governo.
Alguns estados, como Pará, Ceará e Maranhão, já determinaram o lockdown, medida de isolamento total da população. Mas Bolsonaro continua desprezando a vida alheia e insistindo irresponsavelmente no fim do isolamento social.
“Economia também é vida. Não adianta ficarmos em casa e quando sairmos não ter o que comprar nas prateleiras”, esbravejou o líder da extrema direita, que decidiu incluir a construção civil no rol das atividades essenciais com o objetivo de livrar o ramo do isolamento social, revelando total desprezo pela saúde, segurança e vida dos operários. Patrões não costumam frequentar canteiros de obras e não ocorrem riscos.
Mentiroso contumaz, o presidente costuma afirmar que representa a vontade do povo brasileiro. Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que não é verdade. Os dados revelam que a maioria do povo é favorável ao isolamento social (86%), apesar das perdas econômicas, e ainda que nada menos que 93% mudaram sua rotina durante o período de isolamento, em diferentes graus.
A vida é o bem maior do ser humano e na hierarquia de prioridades do Estado deveria ocupar o primeiro lugar. Assim tem sido na maioria dos países, mas não no Brasil. A insanidade de Jair Bolsonaro é fiel aliada do coronavírus. O presidente é o principal obstáculo ao enfrentamento da pandemia e gerador da crise política e institucional.