Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP), mostra que robôs foram responsáveis por mais da metade das publicações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro no Twitter.
As informações foram divulgadas pelo jornal Valor. Nada menos que 55% dos 1,2 milhão de posts que usaram a expressão # BolsonaroDay no 15 de março, das fracas e fatídicas manifestações golpistas de que ele participou em Brasília, depois de retornar de uma viagem aos Estados Unidos em que 24 membros da comitiva que o acompanhou contraíram coronavírus.
Exército de robôs
A pesquisa identificou a ação de 23,5 mil usuários não humanos a favor do presidente em um universo total de 66 mil usuários que publicaram a “hashtag” naquele dia. É um exército de “bots” e ciborgues criados, cultivados e programados para fazer bombar o assunto que for conveniente para quem os comanda, no exato momento escolhido para o ataque.
A essa tropa somam-se 1,7 mil contas que publicaram sobre #BolsonaroDay e, horas depois, foram apagadas do Twitter. O comportamento, segundo as pesquisadoras, é típico de bots. Antes de sumir, o grupo foi responsável por 22 mil tuítes a favor de Bolsonaro.
Robô não adoece
“Um uso massivo de robôs não quer dizer necessariamente que aquela campanha nas redes sociais está fraca e precisou ser inflada”, explica a doutora em Antropologia Social e autora do estudo Isabela Kalil. “O bot não vota nem adoece de covid-19, por exemplo, mas influencia a forma como os humanos votam e se previnem ou não diante de uma pandemia.
Marie Santine, pós-doutora em Ciência da Informação, alerta que as redes sociais são sujeitas a manipulações e explica que, além de inflar temas de interesse de quem os comanda, os robôs são usados na política brasileira para orientar os argumentos da militância, chamar a atenção de usuários e até mesmo pautar a imprensa. “É o fenômeno que chamamos de sequestro de atenção”, diz a pesquisadora da UFRJ.
Eleição de 2018
A manipulação das redes sociais, com a criação de uma fábrica de Fake News e utilização de robôs para sua difusão massiva, foi decisiva para a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, e a disseminação das ideias reacionários da extrema direita, recheadas de ódio e intolerância, que hoje orientam a Presidência.
O uso desses recursos nas redes, capitaneado pelo gabinete do ódio, não é gratuito e acessível a todo e qualquer usuário. Sai caro. O líder neofascista e a campanha infame que precedeu sua eleição foram financiados por ricos empresários nacionais e estrangeiros, a quem na Presidência ele procura servir com uma política abertamente entreguista, antidemocrática e antipopular.
De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, cada contrato de disparos em massa de mensagens chega a R$ 12 milhões e, entre as empresas que compraram pacotes para a campanha de Bolsonaro, está a Havan. O proprietário da rede varejista, Luciano Hang, apelidado de velho da Havan, chegou a ser proibido pela Justiça de coagir seus funcionários a votarem no candidato do PSL durante a campanha em 2018 e hoje, em sintonia com o presidente, é um dos que fazem alarde pela reabertura do comércio e o fim do isolamento social.
Embora a prática de disparos de robôs na campanha presidencial fosse ilegal, além de imoral, chefes do Poder Judiciário, cúmplices do golpe de Estado de 2016, foram coniventes e não se preocuparam em investigar e muito menos punir o crime. Fizeram vistas grossas enquanto o ovo da serpente se desenvolvia.
Agora brincando com fogo, com uma aposta insana e irresponsável contra a OMS, a ciência, os governadores, o Parlamento, o Judiciário, a maioria da sociedade, o bom senso e o próprio Ministério da Saúde, Bolsonaro fica a cada dia mais isolado politicamente e vê crescer as chances de que, para o bem de todos e a felicidade geral da nação, terá o mandato encurtado. Os robôs não vão evitar sua desmoralização e queda.