Por Marcos Aurélio Ruy
Nesta seleção de músicas relacionadas direta ou indiretamente ao mundo do trabalho, apenas canções que tenham mulheres na autoria. E como oficialmente o Carnaval aconteceria nos dias 23, 24 e 25, para tudo se acabar na quarta-feira de cinzas, dia 26, e o Dia Internacional da Mulher – 8 de março – está próximo, as selecionadas versam sobre a visão das mulheres sobre o trabalho, a vida, o machismo e a igualdade de direitos. Toda palavra cantada sobre a alma feminina. Elas por elas.
Seus desejos, a luta por direitos iguais, o enfrentamento ao patriarcado, ao machismo e ao sexismo para serem respeitadas e poderem levar a vida como quiserem, livres de assédio, de violência, de estupro, de discriminação. Respeito é o que elas querem.
“Só mesmo rejeita/Bem conhecida receita/Quem, não sem dores/Aceita que tudo deve mudar”, versos da música Triste, Louca ou Má (2016), de Juliana Strassacapa, do grupo Francisco, el Hombre, denuncia as definições misóginas e maldosas de homens que têm medo da liberdade da mulher. Têm medo do feminino, portanto, condenam tudo o que supostamente ameaça o seu poder de macho e rejeitam qualquer mudança no status quo.
Triste, Louca ou Má, de Juliana Strassacapa; interpretação: Francisco, El Hombre
Triste, louca ou má
Será qualificada ela
Quem recusar
Seguir receita tal
A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina
Só mesmo rejeita
Bem conhecida receita
Quem, não sem dores
Aceita que tudo deve mudar
Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar
Um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar
Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só
Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só
Eu não me vejo na palavra
Fêmea: Alvo de caça
Conformada vítima
Prefiro queimar o mapa
Traçar de novo a estrada
Ver cores nas cinzas
E a vida reinventar
E um homem não me define
Minha casa não me define
Minha carne não me define
Eu sou meu próprio lar
E um homem não me define
Minha casa não me define
Minha carne não me define
Eu sou meu próprio lar
Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só
Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só
Ela desatinou (e um homem não me define)
Desatou nós (minha casa não me define)
Vai viver só (minha carne não me define)
Eu sou meu próprio lar
Ela desatinou (e um homem não me define)
Desatou nós (minha casa não me define)
Vai viver (minha carne não me define)
Eu sou meu próprio lar
Iza (Isabela Cristina Correia de Lima Lima, na foto acima) há
algum tempo está na linha de frente contra o racismo e o machismo.
Suas canções dançantes refletem as agruras de um povo que busca
seu caminho com autonomia. “Rolê com as mininis/De shortinho e
biquínis/Saímos do gueto mas o gueto nunca vai sair de nós”,
canta em Linha de Frente (2018) para mostrar o seu compromisso com um
mundo mais igual.
E define o seu trabalho afirmando que
“dando a volta por cima, se eles ostentam grana, nós portamos a
rima”. A cantora e compositora carioca tem um trabalho pop
mesclando R&B, reggae fusion soul e gêneros musicais nacionais.
Se projetou pela internet e se tornou uma das vozes mais ouvidas pela
juventude, principalmente das periferias. Na linha de frente ela
assegura que “eles não passarão, passarão não”.
Linha de Frente, de Iza, Pablo Bispo, Ruxell e Sérgio Santos
Nóis tamo no topo
Mas veio lá do poço
Valorizei minha voz
Então fique com o troco
Aqui na linha de frente
Quem bota cara é quem sente
Hoje como filé
Mas eu já roí o osso
Porque nós (nós)
Quebra (quebra)
Nós (nós)
Brinca (brinca)
Tem que respeitar (tem)
Tem que, tem que respeitar (tem)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar (ai ai ai)
Buggattis e martinis
Shorts e lamborghinis
O poder de compra da minha voz entrou para o Guinness
Rolê com as mininis
De shortinho e biquínis
Saímos do gueto mas o gueto nunca vai sair de
Nós (nós)
Quebra (quebra)
Nós (nós)
Brinca (brinca)
Tem que respeitar (tem)
Tem que, tem que respeitar (tem)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar
Da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar
Vamos portando fama
Dando a volta por cima
Se eles ostentam grana e nós portamos a rima
Porque o bonde é pesadão, pesadão-dão-dão
Eles não passarão, passarão-não-não
Porque nós (nós)
Quebra (quebra)
Nós (nós)
Brinca (brinca)
Tem que respeitar (tem)
Tem que, tem que respeitar (tem)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar
Da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
Da linha de frente (ai ai ai)
O bonde vai chegar e ninguém vai passar
Luana Hansen (foto) é uma rapper paulistana. Como feminista, canta as dores e os amores das mulheres das periferias. Mostra a força e determinação das mulheres nada vulneráveis e mesmo assim precisam de políticas públicas que lhes deem oportunidades iguais numa sociedade profundamente conservadora, machista e racista. Como mulher negra busca romper com as desigualdades e todo o tipo de preconceito.
Em Ventre Livre de Fato (2013), Luana se reporta à Lei do Ventre Livre, de 1871, que tornava livre as filhas e filhos das escravas nascidas após essa data. “Hipocrisia, pra desconhecido é punição/Mas se for da família é só tratar com discrição/Morre negra, morre jovem, morre gente da favela/Morre o povo que é carente e que não passa na novela”.
Ela denuncia o abandono de muitas mulheres grávidas e por isso existem no Brasil milhões de pessoas sem o nome do pai no registro de nascimento. Além de defender a legalização do aborto como direito da mulher, essencialmente.
Ventre Livre de Fato, de Elisa Gargiulo e Luana Hansen
Nasceu, mais um fruto do acaso
E o mané que não quer nada o sobrenome é descaso
Uma gravidez indesejada mesmo com prevenção
Não importa sua crença ou religião
E imagina de uma forma perigosa e clandestina
Como é que vai fazer para mudar a sua sina
Um direito que em vários países já é estabelecido
No Brasil quase sempre passa despercebido
Hipocrisia, pra desconhecido é punição
Mas se for da família é só tratar com discrição
Morre negra, morre jovem, morre gente da favela
Morre o povo que é carente e que não passa na novela
28 De setembro não é só mais um
É dia de luta não é um dia comum
Direito imediato,revolução de fato
Protesto na batida,ventre livre de fato
“Lutar pela legalização do aborto, é lutar pela saúde da mulher”
Um Milhão de abortos no brasil, por ano
Vai dizer que não sabia, vai dizer que é engano
A cada sete mulheres, uma já fez aborto
Isso é estatística não é papo de louco
Inseguro, feito de uma forma clandestina
Acorda brasil o nome disso é chacina
Hipocrisia, pra desconhecido é punição
Mas se for da família é só tratar com discrição
Morre negra, morre jovem, morre gente da favela
Morre o povo que é carente e que não passa na novela
28 De setembro não é só mais um
É dia de luta não é um dia comum
Direito imediato,revolução de fato
Protesto na batida,ventre livre de fato
Direito imediato, revolução de fato
Protesto na batida,ventre livre de fato
“Lutar pela legalização do aborto, é lutar pela saúde da mulher”
“Direito ao próprio corpo, legalizar o aborto”
Marisa Monte (foto) canta o sonho em Vilarejo (2006). Sonho de ter “em todas as mesas, pão/Flores enfeitando/Os caminhos, os vestidos, os destinos/E essa canção/Tem um verdadeiro /Para quando você for”.
É o sonho de ter o trabalho como força motriz da sociedade para impulsionar o desenvolvimento com distribuição da riqueza produzida e vida boa para todas as pessoas. Límpida e clara.
Vilarejo, de Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Pedro Baby
Há um vilarejo
ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê
o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá
o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso
se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutas em
qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos
semeando o mundo real
Toda gente cabe lá
Palestina,
Xangri-Lá
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e
voa
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e
janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
Em
todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os
vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro
amor
Para quando você for
Apesar de não ser muito conhecida do grande público, Sueli Costa já teve suas músicas gravadas por dezenas de grandes nomes da música popular brasileira como Ney Matogrosso, Simone, Cauby Peixoto, Pedro Mariano, Joanna, Fagner, Fafá de Belém, Alaíde Costa, Ângela Rô Rô, Elis Regina, Ivan Lins, Zélia Duncan, Zizi Possi, Agnaldo Rayol, Gal Costa, entre outros.
Em Vida de Artista (1994), retrata o trabalho dos artistas, muitas vezes pouco entendido como trabalho, por não ser tão visível como outros tipos de trabalho. Ela vê o artista como qualquer trabalhador com desejos, vontades e dificuldades. “O que é uma vida de artista/No mercado comum da vida humana”, canta.
Vida de Artista, Sueli Costa e Abel Silva
O que é uma vida de artista
No mercado comum da vida humana
Um projeto de sonho inocente
Eu talvez não te veja esta semana
Pescador quando tece sua rede
Jogador quando joga a sua sorte
Cada um que conhece sua sede
É artista da vida ou da morte
Quero ver se a menina dos seus olhos
Aprendeu os detalhes dessa dança
Quero ver se o riso em tua boca
Ainda lembra de leve uma criança
O que é uma vida de artista
No mercado comum da vida humana
Um projeto de sonho inocente
Não se esqueça de mim esta semana
A cantora e compositora Leci Brandão rende homenagem à profissão das profissões, a do magistério. Em Anjos da Guarda (1995), ela homenageia as professoras e professores do país, tão vilipendiados por um governo destruidor de sonhos ao valorizar a beligerância contra as pessoas pensantes e discordantes de sua ideologia nazista.
Por isso, essa homenagem de Leci Brandão se mostra ainda mais atual e ganha força contra a ditadura dos ignorantes. “Protetores das crianças do meu país/Eu queria, gostaria/De um discurso bem mais feliz/Porque tudo é educação”. Impossível reverência maior aos mestres com muito carinho.
Anjos da Guarda, de Leci Brandão
Professores
Protetores das crianças do meu país
Eu queria, gostaria
De um discurso bem mais feliz
Porque tudo é educação
É matéria de todo o tempo
Ensinem a quem sabe de tudo
A entregar o conhecimento
Ensinem a quem sabe de tudo
A entregar o conhecimento
Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
É que se muda uma nação
Na sala de aula
Não há idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele, que ele merece!
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele, que ele merece!
Professores
Protetores das crianças do meu país
Eu queria, como eu gostaria
De um discurso bem mais feliz
Porque tudo é educação
É matéria de todo o tempo
Ensinem a quem pensa que sabe de tudo
A entregar o conhecimento
Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
É que se muda uma nação
Na sala de aula
Não há idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele que ele merece!
A cantora e compositora paulista, Céu está na estrada há muitos anos, mas só conseguiu gravar seu primeiro disco em 2005. Desde então vem conquistando sucesso em cima de sucesso num trabalho singular na música popular brasileira.
Em Varanda Suspensa (2016), ela canta o ser “tropical, latino-americana/Litoral, início de janeiro/Tardes de veraneio, lume dos faróis/Anunciando a noite neon/Descansar a vista/Até onde a vista alcança/De uma zona temperada/Até onde o sonho te leva”. E o sonho leva longe quando pensamos e cantamos. Vamos nessa viagem.
Varanda Suspensa, de Céu e Hervé Salters
Descansar a vista
Até onde a vista alcança
De uma zona temperada
Até onde o sonho te leva
Na varanda suspensa
De São Sebastião
Intocada por ipoméias
Pés de manga, costela-de-adão
Eu me sentava pra ver
Aquele quadro vivo mudar
Vista para Ilhabela
Éramos a tela impressionista
Tropical, latino-americana
Litoral, início de janeiro
Tardes de veraneio, lume dos faróis
Anunciando a noite neon
Descansar a vista
Até onde a vista alcança
De uma zona temperada
Até onde o sonho te leva
Na varanda suspensa
De São Sebastião
Intocada por ipoméias
Pés de manga, costela-de-adão
Eu me sentava pra ver
Aquele quadro vivo mudar
Vista para Ilhabela
Éramos a tela impressionista
Tropical, latino-americana
Litoral, início de janeiro
Tardes de veraneio, lume dos faróis
Anunciando a noite neon
Descansar a vista
Até onde a vista alcança
De uma zona temperada
Até onde o sonho te leva
Até onde a vista alcança