Os ataques assassinos dos Estados Unidos no Iraque, amplamente repudiados, têm significado histórico e sentido geopolítico. Apesar da política sistemática de Washington de disseminar violência no Oriente Médio, eles ganham maiores dimensões por ter exterminado Qassim Suleimani, líder da Guarda Revolucionária do Irã e figura estratégica da resistência anti-imperialista no Oriente Médio.
É verdade que Donald Trump, desde que entrou na cena política, se soube na contramão do direito internacional. Por qualquer ângulo que se olhe para ele, é impossível não ver um criminoso de guerra. Além dos tiques primitivos, seu governo padece de escândalos potencialmente explosivos. Só que nenhum desses fatos justifica uma operação desse calibre.
Ele é isso, mas é, sobretudo, um típico líder político norte-americano de direita, ligado ao capital financeiro, incapaz de compreender a importância das pessoas individualmente. Essa facção dominante daquele país inclui entre seus líderes os altos chefes militares. Os senhores da guerra hoje são, pela natureza do regime norte-americano, uma importante fonte de poder.
A carnificina de Trump no Iraque, portanto, choca porque, primeiro, é cruenta; depois, porque cria assustadoras perspectivas. Tamanha insanidade, no entanto, deve ser entendida no âmbito dos históricos massacres no Oriente Médio, diretamente ou por meio do abastecimento de armas, ajuda militar e tecnológica, além de retaguarda política. O governo de Israel e grupos terroristas espalhados na região são os destinatários dessas operações.
Por trás de tudo estão poderosos interesses econômicos do cartel mundial do petróleo, corporações aliadas a outras, sobretudo as produtoras de armamentos. São elas que constituem o cerne dos lobbies que elegem governos para representar os seus interesses na Casa Branca. Para essas corporações, o controle das principais artérias da geopolítica mundial constitui um ponto nevrálgico, uma tarefa vital ao domínio dos depósitos de matérias-primas estratégicas, como petróleo e gás natural.
O Iraque flutua sobre um mar de petróleo de 112 bilhões de barris comprovados ao longo de um cinturão de campos petrolíferos que correm paralelos à fronteira iraniana. E um verdadeiro maná ainda está invisível: existem projetos para a exploração de várias jazidas com um potencial de produção gigantesco, de um custo estimado de US$ 38 bilhões. É um pote de ouro negro.
Mas não é só isso: o Iraque é o único país da região com múltiplas vias para as exportações, uma das quais — através da Turquia — evita o vulnerável Estreito de Ormuz, que pode ser fechado com facilidade, por onde passa um quinto do petróleo consumido no mundo. Para os Estados Unidos, responsáveis todos os anos pela combustão de 30% do petróleo extraído no planeta, o domínio desse espaço é essencial.
Rússia e China também têm motivos de sobra para se preocuparem com a grande presença militar dos Estados Unidos às portas de suas fronteiras. Washington está mais arrogante e belicoso do que nunca. Mas esses países têm reagido com contundência. Ao contrário do governo brasileiro, que, mesmo com divisões internas – inclusive com divergências dos militares quanto à posição do presidente e do Itamaraty -, em lugar de se manifestar com autonomia, correu para endossar o terrorismo da Casa Branca.
O presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista ao programa Brasil Urgente, na rede Band de televisão, que é favorável a qualquer medida de combate ao “terrorismo”. Em nota, o Itamaraty endossou o ataque, dizendo que apoia a “luta contra o flagelo do terrorismo”. São posições que, mais uma vez, põe o governo brasileiro na condição de capacho da Casa Branca, uma manifestação indigna para um país que conquistou, a duras penas, respeito no cenário internacional.
Via Portal Vermelho