Por Umberto Martins, editor do Portal CTB
O portal de notícias da Globo (G1) destacou a cobertura da greve nacional da Educação e das massivas manifestações de protesto com as quais foram temperadas nesta histórica quarta-feira, 15 de maio de 2019. Mas procurou omitir uma informação fundamental, a de que o movimento, que teve o ativo apoio das centrais e dos movimentos sociais, foi originalmente convocado em defesa das aposentadorias e contra a reforma da Previdência do governo Bolsonaro, que é particularmente cruel com os educadores e, ainda mais, com as professoras.
Não é preciso muito esforço para deduzir do comportamento dos jornalistas globais que houve uma determinação editorial muito clara neste sentido. Todos os âncoras e comentaristas do G1 sustentam a meia verdade de que as manifestações são exclusivamente contra os cortes no orçamento das universidades federais, que eles por sinal tentam amenizar e justificar, deixando de dizer que o alvo principal é a malfadada reforma. Um ou outro repórter não deixou de observar, ao vivo, que os manifestantes “também protestavam contra a reforma da Previdência”.
A bem da verdade, seria imprescindível informar que a greve foi convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) em 20 de abril, antes do anúncio do bloqueio de verbas (em 30/4) que está estrangulando as universidades e comprometendo inúmeros programas científicos e sociais. A profunda indignação da categoria com a reforma da dupla Bolsonaro/Guedes, ansiada pelos banqueiros e rentistas, foi o grande motivo da mobilização, que progressivamente foi ganhando a adesão e o reforço de outras entidades da categoria, bem como dos estudantes, das centrais sindicais e movimentos sociais. Os cortes no orçamento da Educação contribuíram fortemente para ampliar o movimento.
O jornalismo praticado pela Globo está longe de ter a objetividade e isenção que seus patrocinadores, sob o tacão da família Marinho, aparentam. O que ali se faz, com mais notoriedade em conjunturas de radicalização da luta de classes, é guerra ideológica e seus jornalistas têm que forçosamente aderir aos conceitos e opiniões da patroa. Quando ousam sair da linha, são calados e colocados sob censura, como ocorreu com Chico Pinheiro. É o que os críticos chamam de pensamento único.
Este pensamento único transparece nas notícias sobre a Previdência. Aqui não há espaço para o contraditório, a reforma é o remédio miraculoso para todos os males do Brasil e ponto final, sem ela não teremos mais emprego, nem crescimento, nem serviços públicos. É este o cantochão entoado em uníssono por todos os profissionais da empresa, mesmo os que serão prejudicados pelas mudanças propostas por Guedes e Bolsonaro não devem pensar diferente e se, por acaso, pensarem não devem expressar opinião.
Daí para a manipulação de fatos e notícias é menos que um passo. Há poucos dias, o jornal O globo fez uma leitura enviezada dos resultados de uma pesquisa para “informar” que “seis em cada dez brasileiros concordam com a reforma”, um Fake News, que uma análise mais detida do levantamento logo desmascara. Em relação à reforma da Previdência, a guerra ideológica tornou-se notória e nesta quarta-feira (15) se sobrepôs ao jornalismo.
Queira ou não a mídia da família Marinho, que apoiou os golpes de 1964 e 2016 contra a classe trabalhadora, a greve nacional da Educação foi um grande “esquenta” para a greve geral convocada pelas centrais sindicais, com apoio dos movimentos sociais, para 14 de junho, que também tende a superar as expectativas e pode ser a maior e mais ampla greve da história do movimento operário brasileiro.