Bolsas asiáticas e europeias caem após Trump anunciar novo aumento nas tarifas contra produtos chineses. No Brasil, o Ibovespa recuou 1,04%, ao passo que o dólar – como é praxe – seguiu o caminho inverso, encerrando o pregão com alta de 0,47% e perto dos R$ 4,00 (valendo R$ 3,9574). Presidente dos EUA promoveu o pânico nos mercados de capitais ao anunciar a elevação das tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos importados da China DE 10% para 25%.
As bolsas asiáticas e europeias registram forte. A bolsa de Xangai abriu o dia caindo mais de 5%. A de Shenzhen, a segunda mais importante da China, despencava 4,95%. A de Hong Kong 2,44%.
A bolsa de Tóquio não abriu devido a um feriado nacional no Japão, mas o índice futuro da Nikkei opera em queda de 2,4%. Os mercados também operam em queda em Taiwan, em Singapura, na Austrália e na Indonésia.
Na Europa, as bolsas caíam mais de 2%. A da Alemanha – a mais sensível ao temores de uma guerra comercial – abriu em queda de 1,7%. A francesa caía 1,8% na abertura e as bolsas da Itália e da Espanha, mais 1%. A inglesa está fechada hoje, devido a um feriado bancário.
Anúncio de Trump
Trump afirmou no domingo (5), em uma rede social, que “por dez meses, a China tem pagado tarifas para os EUA de 25% sobre US$ 50 bilhões de [produtos de] alta tecnologia e 10% sobre US$ 200 bilhões de outros produtos”. O presidente dos EUA disse que essas taxas “são parcialmente responsáveis por nossos grandes resultados econômicos” e “os 10% vão subir para 25% na sexta” – o ponto que gerou forte reação do mercado.
Ele falou também que outros US$ 325 bilhões em produtos da China importados pelos EUA continuam sem tarifas, “mas serão em breve” taxados em 25%. E lamentou que as negociações comerciais entre os dois países estejam avançando “muito lentamente”. “O acordo comercial com a China continua, mas muito devagar, enquanto tentam renegociar”.
Reação chinesa
Apesar da ameaça, um porta-voz chinês disse que uma equipe de Pequim está “se preparando para viajar para os Estados Unidos” para continuar as negociações comerciais e “tentando obter mais informações” sobre o anúncio de Trump.
Geng Shuang se negou a dizer se o principal enviado chinês, o vice-primeiro-ministro, Liu He, iria a Washington, como planejado. Questionado sobre Liu He, Geng disse apenas que uma “equipe chinesa” estava se preparando para viajar.
O editor-chefe do jornal “Global Times”, publicado pelo People’s Daily, do Partido Comunista chinês, afirmou que é “muito improvável” que Liu He vá aos Estados Unidos nesta semana.
Guerra comercial
Há anos, os EUA reclamam que a China gera ao país um considerável déficit comercial (que é a diferença entre os produtos exportados e os importados entre os países).
As duas potências também travam uma batalha em relação à propriedade intelectual, especialmente no setor de tecnologia, com Trump acusando Pequim de violar segredos comerciais das empresas americanas
Por isso, o combate aos produtos “made in China” é uma bandeira de Trump desde a campanha presidencial de 2016. A meta do governo Trump era reduzir em pelo menos US$ 100 bilhões o rombo com a China.
Só que há controvérsia até no cálculo do tamanho buraco: nas contas de Trump, é de US$ 500 bilhões; nas da China, é de US$ 275,8 bilhões. Já os dados oficiais dos EUA apontam para um déficit de US$ 375 bilhões ao ano.
Decadência americana
A guerra comercial, que o governo norte-americano desencadeou há mais de um ano contra a China, reflete tensões geopolíticas mais amplas e complexas, derivadas do progressivo declínio da hegemonia dos EUA no mundo em contraste com a rápida ascensão da China, que exibe taxas de crescimento significativamente mais altas do que as potências capitalistas do chamado Ocidente.
O presidente Trump diz que as medidas protecionistas que têm adotado estão promovendo o renascimento da indústria e concomitante crescimento da economia, mas na verdade os EUA continuam crescendo a um ritmo bem menor do que a China e o déficit comercial entre os dois países, favorável aos asiáticos, continua em alta.
Por outro lado, o conflito é fonte de forte instabilidade nos mercados de capitais, bem como de insegurança que tornam mais sombrias as perspectivas de evolução da economia mundial, com impactos negativos particularmente sobre as economias periféricas como a do Brasil e Argentina, ambas já em estado crítico.
Alta recente
As bolsas vinham subindo forte neste ano, impulsionados pelo ânimo dos investidores com os sinais de melhora no relacionamento entre os dois países e o avanço nas negociações. Trump disse, mais de uma vez, que as negociações comerciais estavam indo bem.
Nick Twidale, analista da Rakuten Securities citado pela agência Reuters, diz que a decisão de Trump “tem o potencial de ser um verdadeiro fator de mudança” no ânimo dos mercados.
“Ainda há uma questão de saber se esta é uma das famosas táticas de negociação de Trump ou se vamos ver um aumento drástico nas tarifas”, afirma Twidale. “Se for o último, nós veremos uma pressão enorme de queda em todos os mercados”.