A barbárie cometida pelos militares fez mais uma vítima fatal. Luciano Macedo estava internado desde 7 de abril. Movido por um sentimento de solidariedade, ele tentou ajudar Evaldo Santos, que teve o carro atingido por militares e foi morto quando seguia com a família para um chá de bebê. Leia abaixo a reportagem de Henrique Coelho e Elza Gimenez, do G1 Rio
O catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, baleado no último dia 7 após o Exército atirar 80 vezes contra um carro em Guadalupe, Zona Norte do Rio, morreu nesta quinta-feira (18). Ele foi atingido ao tentar ajudar a família do motorista do veículo, o músico Evaldo Santos Rosa, que morreu no local.
A morte de Luciano foi confirmada por familiares do catador, que receberam a notícia às 6h. Em seguida, a informação foi repassada aos advogados que cuidam do caso.
O catador estava internado no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na região onde foram feitos os disparos. Na quarta-feira (17), a Justiça ordenou que Luciano fosse transferido para o Hospital Moacyr Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
A Secretaria Estadual de Saúde, no entanto, informou que a transferência não seria possível devido ao estado de saúde da vítima, que era considerado gravíssimo.
Tentativa de ajudar família
Luciano foi baleado quando tentava ajudar a família que estava no carro atingido pelos disparos do Exército. As cinco pessoas que estavam dentro do veículo iam para um chá de bebê: Evaldo dos Santos Rosa; a esposa dele; o filho, de 7 anos; o sogro de Evaldo (padastro da esposa); e uma amiga da família. Ninguém portava armas.
Evaldo morreu na hora. O sogro dele, Sérgio Guimarães de Araújo, foi baleado nos glúteos e teve alta no último domingo (14). A esposa, o filho de 7 anos e a amiga não se feriram.
Militares afastados
Dez dos 12 militares do Exército que estavam na patrulha no dia que o carro foi atingido foram presos após prestarem depoimento sobre a ação. Nove seguiram presos após audiência. A investigação do caso ficará a cargo da Justiça Militar.
No dia dos disparos, o Comando Militar do Leste (CML) informou, por meio de nota, que os agentes tinham respondido a “injusta agressão” de criminosos ao desferir os tiros. A Polícia Civil informou na ocasião que “tudo indica” que o veículo foi confundido com o de criminosos.
Em um boletim de ocorrência registrado na 30ª DP (Marechal Hermes), um motorista contou que foi assaltado por cinco homens em um sedã branco por volta das 14h (meia hora antes do incidente) na mesma região.
Na manhã do dia seguinte à morte do motorista atingido pelos disparos, uma segunda-feira, o CML disse que identificou “inconsistências” entre os fatos reportados pelos militares e informou que os agentes acabaram afastados.
“Esse procedimento prolongou-se pela madrugada, tendo sido coletado também, até o presente momento, o depoimento de uma testemunha civil. Um membro do Ministério Público Militar acompanhou todo o procedimento”, diz a nota.