A última quarta-feira, 3 de abril, ficará por algum tempo gravada na memória nacional com as imagens do espetáculo deprimente protagonizado pelo ministro da Economia de Bolsonaro durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ), que foi encerrada prematuramente depois que ele ofendeu a mãe e a avó do deputado Zeca Dirceu (PT/PR). Paulo Guedes perdeu as estribeiras e ganhou um apelido: Paulinho Tchutchuca.
O desequilíbrio emocional do ministro tem explicação. Ele foi submetido a uma artilharia pesada e eficiente da oposição, que desmontou uma a uma as concepções e argumentos enganosos com que pretende incutir na opinião pública uma falsa consciência sobre sua proposta desumana.
Mentiras desmascaradas
Guedes se comportou como se estivesse diante de uma plateia de leigos ou amigos empresários que só têm a ganhar esfolando um pouco mais a nossa classe trabalhadora, mas se enganou, o público era outro. Contou com um risível apoio de estreantes do partido de Bolsonaro (PSL), o silêncio constrangido e eloquente do Centrão e não teve equilíbrio para suportar a saraivada de críticas.
A falácia de que a PEC 06/2019 visa combater privilégios e atenuar as desigualdades sociais, baseada numa tímida redução da contribuição para quem ganha até dois salários mínimos (que nem de longe compensa o aumento do tempo de trabalho e de contribuição para conquistar o direito), foi desmascarada pelo deputado Alessandro Molon (PSB/RJ).
O parlamentar carioca asseverou que 91% da economia de R$ 1 trilhão que o governo quer fazer com a reforma virá do RGPS (Regime Geral de Previdência Social), que abarca milhões de trabalhadores do setor privado (peões da construção civil, metalúrgicos, químicos, comerciários, professores, vigilantes, motoristas, garis), bem como das aposentadorias rurais e do Benefício de Prestação Continuada, recebido por deficientes ou idosos sem rendimentos.
Não se pode falar com seriedade de privilegiados entre aposentados ou pensionistas do RGPS, cuja maioria recebe apenas o salário mínimo e onde o teto é de R$ 5.839,45. Tampouco é o caso das aposentadorias rurais e do BPC, que também não ultrapassam o salário mínimo. No entanto, são esses trabalhadores e trabalhadoras que vão pagar a conta. Privilégio é uma exclusividade dos ricaços, na maioria provenientes das classes dominantes, com as quais o ministro está identificado e que não arcará com um centavo do ônus imposto pela reforma. “Esta proposta é cruel com os mais pobres”, sentenciou Molon.
Insinuações levianas
Em mais uma ofensa à classe trabalhadora brasileira, o ministro da Economia de Bolsonaro fez insinuações levianas, sem apresentar provas, sobre supostas fraudes nas aposentadorias rurais, com base no fato de que um grande número de trabalhadores rurais aposentados reside em áreas urbanas. Demonstrou, conforme alertaram parlamentares nordestinos, uma admirável ignorância da vida no campo e nas cidades adjacentes que em geral abrigam grande número de aposentados e pensionistas rurais. Também despreza o fato de que milhares de municípios brasileiros, sobretudo no Nordeste, dependem dos recursos das aposentadorias, pensões e BPC para girar suas modestas economias.
Na sexta (5), no 18º Fórum Empresarial Lide, discursando para uma plateia amigável, da sua mesma classe social, o empresário-rentista Paulo Guedes disse que o lema da sua equipe é “sem recuo e sem rendição”, uma bravata que não parece sustentável. No mesmo dia o capitão presidente informou que a capitalização pode esperar, sugerindo que será retirada do projeto e já se ensaia recuos também em relação ao BPC e aposentadorias rurais, uma vez que o Centrão exige alterações nestes aspectos para apoiar o texto.
A reforma do ministro de Jair Bolsonaro é a menina dos olhos do empresariado, que com ela só tem a lucrar, e muito, a começar pela desoneração das contribuições com o INSS. Não há como discordar do deputado Zeca Dirceu: Paulo Guedes é um tigrão com os trabalhadores, aposentados e pensionistas, mas em relação aos ricos e poderosos é o Paulinho Tchutchuca, apelido que, segundo as más línguas, ele teria recebido nos EUA, quando estudava em Chicago.
Umberto Martins