Ninguém Solta a Mão de Ninguém, um livro-manifesto contra Bolsonaro

Livro de estreia do selo independente Claraboia, Ninguém Solta a Mão de Ninguém – Manifesto Afetivo de Resistência e pelas Liberdades será lançado nesta quarta-feira (3/4), na Livraria Tapera Taperá, em São Paulo. O projeto, inspirado numa arte que viralizou durante a campanha eleitoral de 2018, discute o País sob o governo Bolsonaro e traz textos de autores como Juca Kfouri, Anielle Franco (irmã de Marielle Franco), Renato Janine Ribeiro, Leonardo Sakamoto, Antonio Prata e Vera Iaconelli.

Ao todo, são 22 colaborações inéditas (e uma já publicada), em diversos gêneros – poesia, prosa, ensaio, canção, crônica, charge e carta –, com organização a cargo da jornalista e editora Tainã Bispo. Segundo a Claraboia, os textos “se dão as mãos em uma narrativa cujo fio condutor é o afeto, a resistência e a bandeira colorida das liberdades individuais”.

“É um projeto independente e apartidário, que reflete sobre as diversas pontes que precisaremos (re)construir para enfrentar o obscurantismo, a burrice, a deselegância, a violência, os preconceitos e esse cheiro de mofo de assola o país”, explica Tainã. As páginas do livro são ilustradas pela artista Thereza Nardelli, que cedeu os direitos da arte para a publicação. Há também uma charge do cartunista Junião, além da letra da canção Por Quantas Vezes?, feita em parceria pela cantora Ceumar e pelo escritor Lauro Henriques Jr.

Depois de São Paulo, o livro será lançado na Livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro. Ninguém Solta a Mão de Ninguém estará disponível para venda na Amazon em versão física e em e- book,bem como livrarias independentes, como Blooks, Zaccara, Martins Fontes e Quixote.

Leia abaixo dois trechos do livro:

Renato Janine Ribeiro:

A meta, o valor, a finalidade é que o Brasil precisa acabar com a miséria (praticamente liquidada, nos últimos anos, mas que agora ressurge) e, mais adiante, com a pobreza. Isso se faz pela inclusão social. Isso significa garantir condições dignas de alimentação, moradia, transporte e saúde. Além disso, uma educação de qualidade. Separo a educação dos outros fatores porque educação é 100% investimento. Educar é preparar pessoas para viver melhor, o que inclui ganhar mais e gastar em produtos melhores. A batalha pela qualidade é essencial, na educação. Apesar de termos ampliado enormemente o número de alunos em todos os níveis de ensino, a qualidade da formação recebida ainda deixa a desejar.

Anielle Franco:

Ao chegar àquela rua no dia do crime, a primeira imagem que vi foi exatamente a mão de minha irmã pendurada para fora do carro com seu sangue escorrendo e pingando. Uma imagem forte, uma imagem que jamais esquecerei. Uma imagem que pude apenas gravar e lembrar, pois, infelizmente, naquele momento fui proibida de segurar a mão dela. Tudo o que eu queria era segurar e tocar, embora simbolicamente eu soubesse que seria a última vez. E não pude. Eu gritava: “me deixa segurar a mão dela”. Eu não consegui! Mas, hoje, sigo segurando as mãos dos meus. Seguro firme as mãos de todas as mulheres vítimas de violência doméstica ou qualquer outro tipo de violência; principalmente as mulheres negras como eu, que continuam sendo a carne mais barata do mercado. Por aqui, seguiremos honrando o sangue de Marielle Franco e lutando por igualdade, respeito e representatividade.

 

 

 

Release:

Livro reúne textos de Juca Kfouri, Anielle

Franco, Renato Janine Ribeiro e Vera Iaconelli

sobre o Brasil pós-eleições de 2018

Ninguém Solta a Mão de Ninguém — Manifesto Afetivo de Resistência e pelas Liberdades é inspirado em arte que viralizou no período eleitoral e discute o país sob Bolsonaro

Primeiro livro da editora Claraboia, “Ninguém solta a mão de ninguém – manifesto afetivo de resistência e pelas liberdades” chega para discutir o momento que o país vive. Na obra, o leitor encontrará vinte e dois textos inéditos e uma reprodução que perpassam entre os mais diversos gêneros literários como poesia, prosa, ensaio, canção, crônica, charge e carta, e se dão as mãos em uma narrativa cujo fio condutor é o afeto, a resistência e a

bandeira colorida das liberdades individuais.

Organizado de forma independente pela editora Tainã Bispo, a obra reúne vinte e quatro nomes entre jornalistas, escritores, artistas e representantes dos movimentos negro e LGBTQ+ com a intenção de manter vivo o sentimento de coletivo da nação. “É um projeto independente e apartidário, que reflete sobre as diversas pontes que precisaremos (re)construir para enfrentar o obscurantismo, a burrice, a deselegância, a violência, os preconceitos e esse cheiro de mofo de assola o país”, explica a editora.

Entre os nomes de destaque da obra estão os jornalistas Juca Kfouri, Leonardo Sakamoto, Antonio Prata, a psicanalista Vera Iaconelli, o ex-Ministro de Estado da Educação Renato Janine Ribeiro, os escritores Julián Fuks e Alexey Dodsworth e a Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro brutalmente assassinada em Março de 2018.

As 192 páginas do livro que carrega a cor amarela predominante como um grito de alerta ainda apresentam ilustrações inéditas da artista Thereza Nardelli, que cedeu os direitos da arte para a publicação, e uma charge do cartunista convidado Junião. A cantora Ceumar também marca presença no livro com a canção “Por quantas vezes?”, criada em parceria com o escritor Lauro

Henriques Jr.

Inspirada pela ilustração da tatuadora que viralizou nas redes sociais no dia 28 de outubro de 2018, a editora Tainã sentiu a necessidade de criar pontes entre pessoas que pudessem dar as mãos e fazer resistência com as palavras.

“Foi justamente esse ânimo que senti ao ver a ilustração. Depararme com essa imagem forte e delicada me deu o impulso necessário para transformar indignação, perplexidade e raiva em uma reposta concreta”, explica a organizadora da obra. Frase dita por Lêda Maria Brandi Nardelli para sua filha em um momento difícil de família, foi no contexto da eleições presidenciais que a tatuadora se apossou das palavras da mãe para criar a arte, instantaneamente divulgada por inúmeros artistas, famosos e influenciadores. Só no Instagram da Thereza, onde foi publicada originalmente, a ilustração conta com mais de 55 mil curtidas. A frase se tornou uma corrente de afeto e inspirou a primeira obra do selo independente Claraboia.

Com lançamento agendado para 3 de abril na Livraria Tapera Taperá (São Paulo) e 12 de abril na Livraria Leonardo da Vinci (Rio de Janeiro), o livro estará disponível para venda na Amazon em versão física e em e- book e em algumas livrarias independentes, como Blooks, Zaccara, Martins Fontes e Quixote. “Por quantas vezes?”, canção de Ceumar e Lauro Henriques Jr. já está disponível nas plataformas de streaming. O clipe pode ser acessado em:

Trechos da obra:

Julián Fuks

Não estou só, sei que não estou só no desalento, no estranhamento, na desconfiança. Somos muitos a nos perguntar como tantos puderam aderir à barbárie, como se deixam tomar por uma noção tão equívoca da ordem.

Somos uma imensa minoria a nos indagar a natureza de tal fenômeno, se estaremos cercados por aquilo que Hannah Arendt assombrosamente descreveu como a banalidade do mal. Seja como for, certos ou errados em nossa visão, o caso é que o país se converteu para nós num estranho familiar — sinistro, ominoso, propenso em algum limite também a nos aniquilar.

Renato Janine Ribeiro

A meta, o valor, a finalidade é que o Brasil precisa acabar com a miséria (praticamente liquidada, nos últimos anos, mas que agora ressurge) e, mais adiante, com a pobreza.

Isso se faz pela inclusão social. Isso significa garantir condições dignas de alimentação, moradia, transporte e saúde. Além disso, uma educação de qualidade. Separo a educação dos outros fatores porque educação é 100%

investimento. Educar é preparar pessoas para viver melhor, o que inclui ganhar mais e gastar em produtos melhores. A batalha pela qualidade é essencial, na educação.

Apesar de termos ampliado enormemente o número de alunos em todos os níveis de ensino, a qualidade da formação recebida ainda deixa a desejar.

Anielle Franco

Ao chegar àquela rua no dia do crime, a primeira imagem que vi foi exatamente a mão de minha irmã pendurada para fora do carro com seu sangue escorrendo e pingando. Uma imagem forte, uma imagem que jamais esquecerei. Uma imagem que pude apenas gravar e lembrar, pois, infelizmente, 74 naquele momento fui proibida de segurar a mão dela. Tudo o que eu queria era segurar e tocar, embora simbolicamente eu soubesse que seria a última vez. E não pude. Eu gritava: “me deixa segurar a mão dela”.

Eu não consegui!

Mas, hoje, sigo segurando as mãos dos meus.

Seguro firme as mãos de todas as mulheres vítimas de violência doméstica ou qualquer outro tipo de violência; principalmente as mulheres negras como eu, que continuam sendo a carne mais barata do mercado. Por aqui, seguiremos honrando o sangue de Marielle Franco e lutando por igualdade, respeito e representatividade.

Sobre a organizadora:

Tainã Bispo é jornalista e editora com atuação no mercado editorial há mais de dez anos. Já passou pelas editoras Ediouro, LeYa e Astral Cultural. Fundou, em 2019, a Claraboia.

Sobre os autores:

Bell Puã é historiadora e poeta do Recife. Vencedora do Campeonato Nacional de Poesia Falada – Slam BR 2017, representante do Brasil na Poetry Slam World Cup 2018, em Paris.

Juca Kfouri é jornalista, colunista do jornal Folha de S. Paulo, do canal ESPN-Brasil e da Rádio CBN.

Vera Iaconelli é psicanalista, diretora do Instituto Gerar e colunista da Folha de S. Paulo.

Thereza Nardelli é cientista social por formação, mas se encontrou como ilustradora e tatuadora. É sua a ilustração que viralizou nas redes sociais na época das eleições do ano passado e que dá vida a capa do livro.

João Wady Cury é jornalista e escritor. Colunista do Caderno2, do Estadão às quintas-feiras, produz conteúdo na área digital há 20 anos.

Leonardo Sakamoto é jornalista, diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e colunista do UOL.

Julián Fuks é escritor e crítico literário. É autor de A resistência, romance ganhador dos prêmios Jabuti, Saramago, Oceanos e Anna Seghers, entre outros.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo. É ex-Ministro de Estado da Educação (2015).

Anielle Franco é professora e atua como diretora no Instituto Marielle Franco.

Yaguarê Yamã é escritor, ilustrador, professor, palestrante e ativista indígena amazonense.

Lauro Henriques Jr. é escritor, poeta e jornalista, nascido em Belo Horizonte (MG).

Ceumar é cantora, nascida em Itanhandu (MG).

Edilamar Galvão é poeta, jornalista e professora universitária. Atualmente, coordena o curso de graduação em Jornalismo na Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP).

Antonio Prata é escritor. Cronista na Folha de S. Paulo aos domingos, trabalha como roteirista na Rede Globo.

Junião faz jornalismo ilustrado desde 1994. Hoje é jornalista e artista gráfico do veículo de diretos humanos, Ponte Jornalismo.

Denis Russo Burgierman é jornalista e escritor, é colunista do Nexo Jornal. Foi diretor de redação de publicações como Superinteressante e Vida Simples e ajudou a criar o programa Greg News, da HBO.

Helena Vieira é pesquisadora, transfeminista e escritora. Recentemente, contribuiu com artigo para o livro Explosão feminista, organizado por Heloísa Buarque de Holanda.

Lêda Maria Brandi Nardelli, brasileira de Belo Horizonte, é economista por formação e cozinheira desde sempre. Disse a frase “ninguém solta a mão de ninguém” para suas filhas em momento de angústia e uma delas deu sentido e alma à fala. E a arte abraçou a resistência.

Débora Noal é psicóloga e trabalha, desde 2008, na organização internacional Médicos Sem Fronteiras.

Angelmar Roman é médico de Família em Curitiba, doutor em Ciências pela USP. Na maior parte do tempo está com seus alunos de medicina, em unidades de saúde da periferia da cidade.

Ricardo Ramos Filho é escritor e professor.

Ana Claudia Quintana Arantes é escritora e médica especialista em Geriatria e Gerontologia e especialista em Cuidados Paliativos.

Alexey Dodsworth é escritor de ficção científica, atualmente cursando doutorado em Filosofia em regime de duplo título na Universidade de São Paulo e na Università Ca’ Foscari di Veneza.

Rogerio Galindo é jornalista e fundador do jornal Plural.

 

Fonte: vermelho.org.br

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