Sou professora aposentada do município. Por mais de 30 anos, atuei nas escolas de Porto Alegre e posso dizer, sem medo de errar, que este é o pior momento vivido pela cidade, pelos serviços públicos e por suas trabalhadoras e trabalhadores. Não à toa, a categoria municipária e funcionários (as) que atuam nos serviços da cidade — especialmente na área da saúde — estão unificados (as) na greve que se inicia dia 31.
A greve é sempre o último recurso de uma categoria. Talvez uma parcela da população não entenda suas motivações e parte dos formadores (as) de opinião e da mídia hegemônica reforçam esse desconhecimento, investindo num discurso que mistura desinformação e preconceito. Não raro, o noticiário se foca nos supostos distúrbios causados ao trânsito durante um protesto e na redução do atendimento. Mas, pouco se fala da situação vivida por estas mães e pais de família em seu cotidiano: do medo do parcelamento, da falta de reajuste e de cortes em seus salários a prejudicar suas contas mensais e seus planos futuros; da sobrecarga de tarefas que muitos (as) enfrentam devido à falta de servidores (as) em diversos setores; das condições inadequadas de trabalho; do assédio moral; de ter de “matar um leão por dia” para prestar o serviço da melhor maneira possível à população.
Desde que se tornou prefeito, Marchezan não dialoga com a categoria; investe no ataque às servidoras e servidores como se estes (as) fossem responsáveis pelos problemas da cidade; aposta numa política de sucateamento da estrutura pública esperando que, assim, possa justificar a venda do patrimônio público e a terceirização dos serviços, uma maneira de agradar quem financiou sua eleição. Não à toa, recentemente buscou fidelizar o apoio de entidades empresariais da cidade a fim de pressionar a Câmara para fazer passar projetos de lei de seu interesse em regime de urgência — dentre os quais nove que atacam a categoria e os serviços públicos. Usa da suposta crise nas contas para parcelar salários, cortar direitos, mudar as regras da aposentadoria e deixar de investir na cidade.
No dia 11 de julho, ao protestarem contra tudo isso na Câmara, os servidores e servidoras foram violentamente reprimidos (as) pela GM e BM, num episódio que escancarou a face mais cruel da ação do poder público contra seus (as) próprios (as) trabalhadores e trabalhadoras. Mas, a categoria não se intimidou e, no dia seguinte, voltou a ocupar a Câmara, conseguindo uma belíssima vitória ao barrar um dos piores projetos de lei propostos por Marchezan — o PLCE 08/18, que acabaria com a carreira do funcionalismo municipal.
É comum setores da sociedade argumentarem que toda essa luta é meramente corporativa e ideológica — e a gestão Marchezan corrobora e incentiva esse discurso. Mas, como professora posso afirmar que não é verdade. A categoria municipária é, por essência, defensora do serviço público por entender que a população tem direito a ser assistida em suas necessidades fundamentais; por entender que enquanto o setor privado busca lucro, o público deve buscar responder às demandas da sociedade no sentido de garantir desenvolvimento humano e social. Este é o foco de nossa luta.
Também é importante salientar que neste contexto de crise que vivemos em nível nacional desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, com o desemprego em alta, novas regras trabalhistas que acabam com os direitos da classe trabalhadora, congelamento dos investimentos públicos, ataques às empresas públicas e à soberania nacional, retração na economia, aumento nos preços e cortes nos programas sociais, a população — especialmente a mais vulnerável — sofre sobremaneira e depende ainda mais do poder público. Porém, em Porto Alegre, o governo Marchezan — misturando uma visão de Estado mínimo que já demonstrou ser fatal para o país e incapacidade de gestão — somente piora a situação da cidade e de seu povo.
Por tudo isso, é fundamental que a população entenda e apoie a categoria municipária porque a luta travada pelos servidores e servidoras interessa a todos, é uma luta que visa a proteger o que há de mais valioso numa cidade, que é seu patrimônio, seus serviços, o atendimento adequado a seus cidadãos e suas cidadãs e a garantia da vida e da dignidade humana.
Silvana Conti é professora aposentada da rede municipal de ensino de Porto Alegre, vice-presidenta licenciada da CTB-RS. Foto: Guilherme Santos/Sul21
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