Nelson Pereira dos Santos morreu neste sábado (21), no Rio de Janeiro, por múltipla falência dos órgãos, aos 89 anos. Como um dos gigantes do Cinema Novo (movimento que revolucionou a cinematografia brasileira mergulhando na alma da nação), Santos deixa um legado fundamental de obras primas para a compreensão do país no qual o Brasil se transformou.
“O Nelson inventou uma maneira de fazer cinema no Brasil, todo o cinema moderno foi inventado por ele. Ele foi o primeiro a filmar a favela como um tema nobre, foi o primeiro a fazer cenas na rua como a gente precisava conhecer o Brasil. Ele inventou um cinema para o país e o país coube dentro do cinema dele”, diz Cacá Diegues, outro grande nome que despontou no Cinema Novo.
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Nelson Pereira dos Santos nasceu no dia 22 de outubro de 1928, em São Paulo. Foi diretor de cinema, produtor, roteirista, montador, ator e professor da Universidade Federal Fluminense, de cujo curso de graduação em cinema foi fundador.
Em 2006, se tornou o primeiro roteirista cinematográfico a ocupar cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Levou para o cinema um Brasil esquecido dos setores elitistas e em 1955 já mostrava a dureza da vida na favela sem romantismo em “Rio 40 Graus”. A mesma preocupação com as questões sociais, mas desta vez no meio rural apresentou na filmagem de “Vidas Secas”, em 1963, adaptação perfeita de obra homônima de outro gigante, o escritor alagoano Graciliano Ramos.
“Rio 40 Graus” foi tão fiel à realidade e de maneira tão sublime reflete as agruras de um sistema injusto e excludente, que a ditadura fascista (1964-1985) o censurou.
O cineasta deixa um acervo cinematográfico impressionante. Além das duas obras primas acima citadas, adaptou “Memórias do Cárcere” (1984) – também de Graciliano Ramos -, dirigiu “Rio Zona Norte” (1957), “Como Era Gostoso o Meu Francês” (1971), “Tenda dos Milagres” (1977), adaptação de obra do baiano Jorge Amado), “Azyllo Muito Louco” (1970), “Brasília 18%” (2006), entre outros grandes filmes.
Sua obra é tão essencial que Caetano Veloso diz que antes dele “tínhamos chanchadas e Vera Cruz: sucesso da bagunça e esforço de respeitabilidade” aí “Rio 40 Graus”, para o compositor baiano, “abriu uma espaço diferente. Tínhamos força própria. A voz do morro ecoa ainda hoje o que significou aquilo”.
Sinta a aridez de alma causada pelo latifúndio em Vidas Secas
Suas últimas obras foram os documentários sobre o “maestro soberano” da música popular brasileira, Tom Jobim. Os documentários “A Música Segundo Tom Jobim” e “A Luz do Tom”. Um gigante falando de outro enchem nossos olhos de alegria e reflexão.
Encante-se com A Música Segundo Tom Jobim
A morte de uma pessoa da grandeza de Nelson Pereira dos Santos entristece qualquer um que ame o país e valorize a cultura. O cineasta é um imortal não por pertencer à ABL, mas por sua obra de grande valor para se pensar o presente e construir um futuro melhor.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB