Falta pouco para termos o país ideal. Com a prisão de Lula no último sábado, só falta prender o restante da canalha petista e também Temer, Aécio e toda a corja do MDB, PSDB e DEM que há décadas vem pilhando o país, obviamente que com a ajuda dos demais partidos. Depois de prender os políticos do Executivo e do Legislativo, vamos prender comunas, sindicalistas, vândalos e baderneiros. O Judiciário nos salvará!
Obviamente que após o saneamento, precisaremos reorganizar as coisas. Mas não podemos dar chance para que partidos nos dividam novamente e criem quadrilhas para tomar de assalto os cofres públicos, então os partidos serão todos extintos. Seremos governados por gente de bem, preferencialmente administradores com experiência empresarial e executivos que já são ricos e não precisarão roubar.
Candidatos já temos. Por enquanto ainda temos políticos, mas temos também grandes empresários, um ex-membro do STF e aquele que alguns consideram “mito”. Este, apesar de estar na câmara de deputados há quase 30 anos, só aprovou dois projetos de autoria própria, então certamente não é político. Talvez fosse justamente desse “mito” que precisássemos para passar o Brasil a limpo. Mas alto lá, não subestimem os potenciais candidatos desse maravilhoso país que estamos construindo.
Neste quesito, e correndo por fora, mas com grandes chances de ser o homem que o Brasil precisa, temos Oscar Maroni, dono do Bahamas Hotel Club, uma conhecida casa de prostituição de luxo sediada na capital paulista. Maroni despontou para a fama nos últimos dias e demonstrou potencial. Com visão estratégica, o dono do prostíbulo cumpriu sua promessa e distribuiu 9 mil latas de cerveja à 3 mil apoiadores que comemoravam a iminente prisão de Lula. Depois, devidamente caracterizado como presidiário, Maroni falou a um repórter e confirmou que influenciado pelas atitudes de Sérgio Moro, “que pra mim é um referencial”, iria se candidatar a presidente. Mas era ato falho, logo corrigido: “presidente não, é pior, deputado federal”. Depois emendou: “eu vou montar um puteiro em Brasília”.
Loucura, loucura, loucura! Esse país tem futuro! Então lembrei de quando vi “Saló ou os 120 dias de Sodoma”, obra-prima de Pasolini. Era início dos anos 1990 e o filme, finalmente liberado, chegava ao Brasil cercado de curiosidade. Do lado de fora do cine Glauber Rocha, uma multidão atraída pelas fotos com nudez explícita, lotou a sala de cinema, mas não ficou para ver o final e talvez não tenha dado atenção à frase de um personagem que disse: “Nós fascistas somos os verdadeiros anarquistas. (…) a verdadeira anarquia vem do poder”.
No país-puteiro sonhado por Maroni, Lula dificilmente desceria da aeronave que o levou a Curitiba, pois antes seria despejado como lixo. Há quem fique excitado com essa possibilidade, mas não se trata de erotismo, mas, simplesmente, de fascismo.
Carlos Zacarias de Sena Júnior é professor do Departamento de História da UFBA. Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde.
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