Primeiramente é importante esclarecer a minha posição com relação aos programas de Aceleração, que são uma necessidade, não só para o nosso estado e sim para o Brasil. O que o artigo levanta é o questionamento do verdadeiro pano de fundo do Mundiar no estado do Pará. Tão necessário é a aceleração que o Plano Nacional de Educação inclusive aponta na Meta 8 “Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar no mínimo 12 anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)”.
Nosso país amarga índices de escolaridade baixíssimos, fato que desdobra em um conjunto de outros índices que contribuem para que nosso país continue neste patamar de desenvolvimento de terceiro mundo. A não verticalização da indústria brasileira pode ser considerada uma sangria industrial mundial, onde o nosso país apesar de ser um dos maiores fornecedores de material prima do mundo, ainda não estabeleceu uma cadeia produtiva industrial para o mercado mundial.
A lógica de mercado implantada pelos tucanos em nosso país somente serve ao mercado financeiro, o sistema bancário brasileiro é uma verdadeira máquina de produzir lucros, no Brasil temos a maior taxa de juros bancários do planeta, em nenhum outro pais do mundo se cobra tanto por crédito como no Brasil. Além do sistema bancário, os grandes veículos de comunicação detém o monopólio da informação.
Em nosso país a notícia tem dono, opinião, e posição política fortemente estabelecida, mais de 200 milhões de habitantes hoje tem acesso à informação moldada cuidadosamente por nada mais que seis famílias, donas dos veículos de comunicação de massa que chegam aos mais longínquos locais de nosso país. Se a informação chega distorcida aos lares dos brasileiros, consequentemente a opinião pública deste povo será cuidadosamente moldada, justamente da forma que estes veículos de comunicação desejam.
Poucos sabem, mas o governo Jatene é um fiel patrocinador deste modelo escravista de desenvolvimento, afirmo isso pois a lógica de prestação dos serviços públicos do seu governo é privatista, inúmeras empresas terceirizadas lucram milhões ao ano com os altíssimos contratos com a esfera pública.
O objeto de estudo e denúncia deste artigo é o maior instrumento de escoamento de recursos públicos já visto em nosso estado, o Programa Mundiar tem dono, ele pertence à Rede Globo de Comunicação, a Fundação Roberto Marinho. Quando Simão Jatene, governador tucano paraense anunciou a aquisição do referido programa, ao povo foi vendida a ideia de que com isto, a questão da distorção idade série seria resolvida; e na realidade, nosso estado despencou no ranking dos jovens fora da Idade Certa dos estados, tristemente 40% dos estudantes paraenses estão matriculados fora da idade certa. Somos o último estado neste ranking.
Em 2013 o Pará era o décimo pior estado com relação a alunos que estavam matriculados fora da idade adequada para os estudos, o fato é que de lá pra cá o cenário só piorou, dados oficiais revelam que o Pará hoje amarga a última colocação neste ranking, somo o pior estado com relação a alunos em distorção idade série.
Não é novidade que principalmente os municípios paraenses do arquipélago Marajoara assumem as últimas colocações em todos os índices sociais, econômicos, educacionais e muitos outros, as Cidades de Bagre e Chaves por exemplo possui nada mais do que 44,4% dos Alunos matriculados fora da idade correta em sua série, e os problemas não se restringem ao Marajó, a Cidade de Garrafão do Norte, Região Nordeste do Estado, possui quase 40% dos alunos nessa situação.
Enfim, a lógica privatista de fazer educação, tão combatida pelos movimentos sociais, não vem dando certo, está mais do que falida, e comprovadamente significa um verdadeiro desperdício de recursos púbicos. E qual a solução para estes problemas?
Muito mais eficaz e autêntico, seria que o estado do Pará criasse o seu próprio modelo de programa de aceleração. Seria bem mais simples e digno a Secretaria Estadual de Educação fazer uma Seleção Interna entre Servidores Efetivos da Rede Estadual de Ensino, onde temos certamente profissionais qualificados e comprometidos com a Educação Pública de nosso estado. A partir daí uma equipe seria credenciada a elaborar um programa Público de Aceleração de Ensino, onde as características regionais internas do Pará fossem respeitadas, se levaria em conta as atividades econômicas desenvolvidas, as questões sociais e culturais que cada região de nosso estado possui, então poderíamos chamar de nosso um programa do povo feito pro povo com a linguagem do povo.
Mas enquanto não tivermos governantes sérios e comprometidos com o povo do Pará de fato, continuaremos amargando os piores indicadores do brasil e do mundo. Mas sério que dias melhores virão, e que nestes melhores dias nossa gente será mais valorizada e respeitada, pois assim mesmo prevê a nossa Constituição Federal.
Thiago Barbosa é coordenador estadual do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará, vice-presidente da Central do Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, seção Pará (CTB-PA) e dirigente estadual do Partido Comunista do Brasil no Pará.
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