A premiação da 90ª edição do Oscar manteve o glamour de sempre, tapete vermelho, gente muito bem trajada. Marca indelével do show business. Mesmo assim, atrai a atenção de todo o planeta. Aos 90 anos da premiação, a academia de Hollywood manteve o discurso contra preconceitos.
Além de levar o prêmio de melhor filme com “A forma da água”, Guillermo Del Toro também ganhou a estatueta de melhor diretor. Essa é a terceira obra de um cineasta mexicano a ganhar o Oscar.
Como um conto de fadas contemporâneo, “A forma da água” mostra a paranóia norte-americana durante a guerra fria, quando a União soviética rivalizava com os Estados Unidos pela hegemonia mundial. E, para os norte-americanos, todo o mundo era iminigo – e ainda é.
Numa metalinguagem, a obra discute o papel do cinema em estampar a alma de uma nação e refletir sobre as suas mazelas. A protagonista Sally Hawkins interpreta uma faxineira muda que entra em contato com a descoberta dos norte-americanos um tipo de criatura meio peixe, meio homem (Doug Jones), por quem a faxineira se apaixona.
“A forma da água”, trailer oficial
Engana-se, porém, quem acreditar que “A forma da água” se trata de um filme sobre amor e ódio, no termo mais banal do tema. Vai muito além. Traz reflexões profundas e atuais. Principalmente nestes tempos sombrios onde prevalecem a violência e o ódio.
Richard Jenkins interpreta um publicitário idoso e homossexual lutando para se manter no mercado dominado por novas tecnologias, no caso a utilização da fotografia. Quem diria. No centro da trama, Jenkins atua como uma espécie de fada madrinha de Hawkins em sua aventura para salvar a vida do seu amado.
A pedra no caminho deles é o policial interpretado por Michael Shannon que descobriu a criatura e utiliza de tortura para obter informações do homem anfíbio. Aliás, torturada tolerada pelo general chefe das Forças Armadas. Guantánamo que o diga…
Del Toro faz um paralelo entre a delicadeza das utopias de haver vida digna, onde prevaleça a solidariedade, o respeito e a generosidade e a truculência do século 21, no qual ganha força o fascismo, o rancor, o desrespeito aos mais pobres, aos negros, às mulheres, aos homossexuais, aos jovens, aos deficientes físicos e mentais e aos idosos.
Faz um contraponto ao “sonho americano”, onde tudo seria cor-de-rosa. Mostra que a maior potência do planeta trata os imigrantes com desprezo, como se fossem seres extraterrestres, “cucarachas” (baratas, como se referem aos latino-americanos). Os norte-americanos veem a imigração como uma ameaça constante ao seu poderio e à sua hegemonia no mundo. “A forma da água” trata da delicadeza de ser humano, num mundo carregado de ódio.
Outras premiações
Jordan Peele ganhou o prêmio de melhor roteiro original pelo filme “Corra!”, que trata de racismo e opressão. Peele se torna assim o primeiro negro a levar essa estatueta para casa. “Uma mulher fantástica”, de Sebastián Lelio, venceu a disputa de melhor filme em língua estrangeira. A obra chilena conta as dificuldades enfrentadas por uma transexual para levar a vida como qualquer pessoa do planeta.
“Corra!”
“Uma mulher fantástica”
Veja abaixo, em negrito, os ganhadores do Oscar 2018:
Melhor Filme
“Dunkirk”
“Me chame pelo seu nome”
“O destino de uma nação”
“Corra!”
“Lady Bird – É hora de voar”
“Trama Fantasma”
“The Post – A Guerra Secreta”
“A forma da água”
“Três anúncios para um crime”
Melhor Diretor
Christopher Nolan (“Dunkirk”)
Jordan Peele (“Corra!”)
Greta Gerwig (“Lady Bird: É hora de voar”)
Paul Thomas Anderson (“Trama fantasma”)
Guillermo del Toro (“A forma da água”)
Melhor Ator
Timothée Chalamet (“Me chame pelo seu nome”)
Daniel Day-Lewis (“Trama Fantasma”)
Daniel Kaluuya (“Corra!)
Gary Oldman (“O destino de uma nação”)
Denzel Washington (“Roman J. Israel, Esq.”)
Melhor Atriz
Sally Hawkins (“A forma da água”)
Frances McDormand (“Três anúncios para um crime”)
Margot Robbie (“Eu, Tonya”)
Saoirse Ronan (“Lady Bird: É hora de voar”)
Meryl Streep (“The Post – A Guerra Secreta”)
Melhor Roteiro Adaptado
“Artista do desastre” (Scott Neustadter e Michael H. Weber)
“Me chame pelo seu nome” (James Ivory)
“A Grande Jogada” (Aaron Sorkin)
“Logan” (Scott Frank, James Mangold e Michael Green)
“Mudbound” (Virgil Williams and Dee Rees)
Melhor Roteiro Original
“Lady Bird: É hora de voar” (Greta Gerwig)
“Doentes de Amor” (Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani)
“Corra!” (Jordan Peele)
“A forma da água” (Guillermo del Toro)
“Três anúncios para um crime” (Martin McDonagh)
Melhor Ator Coadjuvante
Willem Dafoe (“Projeto Flórida”)
Woody Harrelson (“Três anúncios para um crime”)
Richard Jenkins (“A forma da água”)
Sam Rockwell (“Três anúncios para um crime”)
Christopher Plummer (“Todo o Dinheiro do Mundo”)
Melhor atriz coadjuvante
Allison Janney (“Eu, Tonya”)
Mary J. Blige (“Mudbound”)
Lesley Manville (“Trama Fantasma”)
Laurie Metcalf (“Lady Bird: É hora de voar”)
Octavia Spencer (“A forma da água”)
Melhor Filme em Língua Estrangeira
“Uma Mulher Fantástica” (Chile)
“O Insulto” (Líbano)
“Sem amor” (Rússia)
“Corpo e Alma” (Hungria)
“The Square: A arte da discórdia” (Suécia)
Melhor Design de Produção
“Blade Runner 2049”
“A bela e a fera”
“O destino de uma nação”
“Dunkirk”
“A forma da água”
Melhor Fotografia
“O destino de uma nação” (Bruno Delbonnel)
“Blade Runner 2049” (Roger Deakins)
“Dunkirk” (Hoyte van Hoytema)
“Mudbound” (Rachel Morrison)
“A forma da água” (Dan Laustsen)
Melhor Figurino
“A bela e a fera”
“O destino de uma nação”
“Trama Fantasma”
“A forma da água”
“Victória e Abdul”
Melhor Canção
“Remember me” (“Viva – A vida é uma festa”)
“Mighty river” (Mudbound)
Mystery of love (“Call me by your name”)
“Stand up for something” (“Marshall”)
“This is me” (“O rei do show”)
Melhor Edição
“Em ritmo de fuga”
“Dunkirk”
“Eu, Tonya”
“A forma da água”
“Três anúncios para um crime”
Melhor Mixagem de Som
“Star Wars: Os últimos Jedi”
“Em ritmo de fuga”
“Blade Runner 2049”
“Dunkirk”
“A forma da água”
Melhor Edição de Som
“Em ritmo de fuga”
“Blade Runner 2049”
“Dunkirk”
“A forma da água”
“Star Wars: The Last Jedi”
Melhor Animação
“O poderoso chefinho”
“The Breadwinner”
“Viva: A vida é uma festa”
“O Touro Ferdinando”
“Com Amor, Van Gogh”
Melhor Curta de Animação
“Dear Basketball”
“Garden Park”
“Lou”
“Negative Space”
“Revolting Rhymes”
Melhor curta
“Dekalb Elementary”
“The 11 o’ clock”
“My Nephew Emmett”
“The silent child”
“Waty Wote/All of us”
Melhor Trilha Sonora
“Dunkirk”
“Trama Fantasma”
“A forma da água”
“Star Wars: Os últimos Jedi”
“Três anúncios para um crime”
Melhor documentário
“Abacus: Pequeno o bastante para condenar”
“Visages villages”
“Ícaro”
“Últimos homens em Aleppo”
“Strong Island”
Melhor documentário em curta-metragem
“Edith+Eddie”
“Heaven is a traffic jam on the 405”
“Heroin(e)”
“Knife Skills”
“Traffic Stop”
Melhor maquiagem e cabelo
“O destino de uma nação”
“Victoria e Abdul”
“Extraordinário”
Melhores efeitos visuais
“Blade Runner 2049”
“Guardiões da galáxia Vol. 2”
“Kong: A ilha da caveira”
“Star Wars: Os últimos Jedi”
“Planeta dos Macacos: A guerra”
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB. Foto: Lucas Jackson/Reuters