Não é de agora. Mas foi acirrado pelas redes sociais o chamado culto da banalidade, a estranha capacidade de personalidades públicas menores (no sentido de não avançar além da média, ombreando-se com os pensadores maiores), escandindo frases banais, e sendo cultuados pelos medíocres, ou seja, os médios.
Obviamente, personalidades desse tipo têm que estar alinhadas com a banalidade da mídia para prosperar. E chamo de banalidades da mídia aqueles episódios menores, excessivamente humanos entre aspas, que aquecem a alma e descansam o Espírito – porque não exigem o menor esforço intelectual do leitor e mostram que os deuses são excessivamente humanos e portadores das pequenas virtudes dos humanoides. Ou aquelas interpretações históricas ao alcance da dona de casa de Botucatu.
Nos últimos anos, quatro desses personagens me intrigaram: Carlos Ayres Britto, Carmen Lúcia, Luis Roberto Barroso e, antes deles, o pioneiríssimo Cristovam Buarque.
O case Carmen Lúcia é pedagógico. Mal assumiu a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) convocou uma reunião com todos os poderes, incluindo as Forças Armadas, para discutir a premente questão da segurança interna. Mencionou os problemas das organizações criminosas, o poderio de seus armamentos, cunhou algumas frases de efeito, ganhou manchetes, foi até acusada de estimular o intervencionismo militar. Nada mais fez, nem lhe foi cobrado.
Quando se descobriu que tinha um ghost-writer para as frases feitas – o dono de um Blog de frases feitas para todas as situações, que foi indicado para um cargo comissionado no STF – foi como uma injeção de kriptonita na veia da Mulher Maravilha. Apagou-se o que era doce e cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu, desde o dia em que você nasceu, seu Zé Bedeu, como diriam os fraseólogos eruditos da predileção da Ministra.
Ayres Brito era o poeta provinciano que acreditou tanto em seus poderes sobre-humanos, depois de incensado pela mídia, que passou a apregoar seus conhecimentos de física quântica e a divulgar o relativismo de seus versos.
À altura dos demais, e para comprovar que provincianismo não é prerrogativa de Ministros do interior, Luís Roberto Barroso encomendou a seu assessor um levantamento de frases feitas, estereótipos e conceitos de orelha de livros dos brasilianistas e saiu borboleteando pelos salões da Veja carregando a bandeira do Novo Iluminismo, tendo como grande consultor para assuntos contemporâneos o empresário Flávio Rocha, aquele que vê uma ideia e arrocha, como diria a novel Carmen.
Inaugurou a carreira de modo premonitório, lembrando que Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco e San Thiago Dantas o precederam na discussão dos grandes temas nacionais. Enquanto as ossadas dos três reviravam nos túmulos, Barroso conquistava os salões escudando-se no conhecimento vasto de Rocha.
Finalmente, chega-se ao quarto membro do Quarteto Maravilha, o imbatível Cristovam Buarque. Nos seus tempos de esquerdista do bem, proibiu o emprego da palavra “qualidade” no governo do Distrito Federal, garantindo ser um termo neoliberal. Depois, como direitista do bem, tornou-se um neoliberal raso e perpetrou artigos sob o brilhante título “A eficiência é progressista”, onde pontifica: “A própria palavra e o conceito de eficiência eram vistos pela esquerda como assunto burguês, reacionário. O resultado dessa visão ideológica foi que a igualdade não serviu ao povo, porque, sem eficiência, pouco se distribuía”.
Parte da esquerda desenvolveu políticas sociais eficientes. Estão aí o Bolsa Família, Brasil Sorridente, Territórios da Cidadania para comprovar. A parte anacrônica limitou-s a desenvolver bordões, como foi o caso da gestão Cristovam Buarque no DF.
Em suma, são os intelectuais padrão à altura do país que ajudaram a construir.
Luís Nassif é jornalista e blogueiro.
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