Não restam dúvidas de que o presidente dos EUA, Donald Trump, é um demagogo bufão. Mas em matéria de política externa ele parece menos perigoso e agressivo do que seu antecessor democrata, Barack Obama, e a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton. Isto apesar da retórica explosiva contra a Coreia do Norte e o Irã. O caráter imperialista da política e do Estado americano evidentemente não mudou (e não poderia ser diferente).
É preciso lembrar que Obama deixou os EUA à beira de uma guerra com a Rússia, país ao qual impôs duras sanções econômicas em função das divergências em relação à Ucrânia e à Síria, que serviram também de pretexto para que mobilizasse e concentrasse força militar no entorno de Moscou. Clinton, candidata de Wall Street e do complexo industrial-militar que sofreu uma inesperada e humilhante derrota para Trump, era ainda mais belicosa que Obama.
Os fatos sugerem que o atual presidente está reduzindo, sem muito alarde, as tensões em relação à Rússia, encerrou o apoio da CIA a grupos terroristas que combatem o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, e anunciou uma nova política para o país, não mais centrada na oposição implacável a Assad, cuja cabeça era exigida por Obama, Clinton, CIA e Pentágono. Isto não é pouco quando se sabe que enfrenta forte oposição interna a tal orientação.
Depois de encontrar o presidente Vladimír Putin em sua recente visita ao continente asiático, o presidente estadunidense afirmou que acredita na versão do líder russo de que Moscou não interferiu nas eleições americanas. Contradisse e contrariou a mídia e os serviços de inteligência, integrantes do “Estado oculto”, que sustentam o contrário.
Em Pequim, Trump apontou o déficit comercial como principal causa da desindustrialização e decadência dos EUA (no que ele está coberto de razão), mas isentou a China de responsabilidade no problema, diferentemente de seus antecessores que não se cansavam de acusar a potência asiática de manipulação cambial e acenar com sanções e represálias.
Reafirmou também, durante a cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), a retirada dos EUA da chamada Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que a última administração democrata concebeu como uma ampla aliança para isolar e confrontar a China, cujo poder e influência geopolítica cresce diariamente naquele continente e em todo o mundo, ameaçando a belicosa Pax americana.
Donald Trump é um político bilionário que pode ser definido como um falastrão reacionário. É produto da desindustrialização e decadência americana, mas seu propalado isolacionismo é bem-vindo para o mundo na medida em que reduz os conflitos na Ásia e Eurásia com as duas principais potências rivais – China e Rússia. E é basicamente por isto, muito mais do que por suas opiniões conservadoras em vários outros temas, que vem sofrendo forte oposição dentro dos Estados Unidos e não é impossível que venha a ser vítima de impeachment como Richard Nixon em 1973.
Umberto Martins é jornalista e assessor político da CTB