Nos dias 9 e 10 de outubro acontece em Calcutá, na Índia, a reunião do secretariado da Federação Sindical Mundial (FSM). Francisco Sousa, secretário-geral da UISMM e secretário de Relações Internacionais da Fitmetal, falou aos presentes sobre o atual cenário vivido pelos metalúrgicos e mineiros e aproveitou para convocar os trabalhadores a unirem forças na construção do 3º Congresso da UISMM, que ocorrerá entre 23 e 25 de abril de 2018, no Cairo (Egito).
Abaixo, segue o discurso de Francisco proferido durante a reunião:
UIS Metal e Mineração: Balanço e perspectivas de luta
Estimado camarada George Mavrikos, secretário-geral da Federação Sindical Mundial,
Estimados camaradas do Secretariado da FSM e das UIS,
Estimados camaradas indianos,
É com muita atenção que temos acompanhado, desde o Brasil, os últimos lances do xadrez geopolítico mundial. Já se passaram quase dez anos do advento da crise econômica que atingiu em cheio o sistema capitalista. Travamos muitas lutas nesse período, com resultados positivos e também alguns retrocessos, cujas consequências vêm afetando diretamente a classe trabalhadora de todos os continentes.
Chegamos a 2017 em um patamar que requer de nós, dirigentes sindicais, grande responsabilidade perante os desafios dessa conjuntura atual. O Dia Internacional de Ação deste ano, realizado na semana passada por iniciativa da FSM, tratou de um desses dilemas: a situação dos refugiados e imigrantes pelo mundo afora, vítimas da exploração e do preconceito em diversos países.
Vemos também, em especial nos últimos dois anos, o recrudescimento do fascismo e da xenofobia na Europa, nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo. Três eleições recentes atestam esse movimento: o Brexit (no Reino Unido), a vitória de Donald Trump (nos EUA) e o resultado obtido pela extrema-direita no Parlamento da Alemanha, há cerca de 15 dias.
Na América Latina, região que por questões geográficas acompanho de maneira mais próxima, o cenário também é muito preocupante. Se por mais de dez anos nosso continente era visto como uma fonte de inspiração para a luta ao redor do planeta, hoje enfrentamos dificuldades que exigem de nós, dirigentes sindicais, grande disposição para a luta.
Entre 1998 e 2010, fomos capazes de impor uma série de derrotas ao neoliberalismo. Liderados por Chávez, na Venezuela, e Lula, no Brasil, obtivemos avanços importantes para a classe trabalhadora e para a população mais carente. Nos últimos anos, no entanto, diversos reveses demonstraram que as forças imperialistas ainda dispunham de grande arsenal em nossa região. Com isso, empresas, governos e sindicalistas defensores do neoliberalismo ressurgiram com força. O Golpe de Estado de 2016, no Brasil, é o maior símbolo dessa contraofensiva. A resistência do povo venezuelano, por sua vez, é digna de aplausos, tamanho é o poderio das forças que tentam aniquilar as conquistas do Comandante Hugo Chávez.
Falo aqui como secretário-geral da União Internacional Sindical de Metalúrgicos e Mineiros. Esses dois setores, fundamentais para a economia e para o desenvolvimento de nossas nações, também sofrem diretamente os efeitos das conquistas e retrocessos do xadrez geopolítico acima mencionado.
Nossa organização ainda tem uma atuação modesta no sindicalismo mundial, apesar da importância dos setores de metalurgia e mineração. Ao longo deste mandato, iniciado em outubro de 2013, após o nosso 2º Congresso, realizado no Rio de Janeiro, com a presença de entidades sindicais de 23 países, fizemos muitos esforços para garantir que a política da FSM e o nosso sindicalismo classista avançasse ao redor do planeta.
No entanto, é preciso dizer que encontramos muitas dificuldades, em diversos aspectos. Em primeiro lugar, nos deparamos com sérias limitações financeiras para que pudéssemos nos deslocar por todos os continentes e atender todas as demandas surgidas nesse período. Além disso, houve grande dificuldade de comunicação entre os dirigentes que compõem o Conselho Executivo de nossa UISMM, fator que esperamos corrigir no próximo mandato, que se iniciará em 2018.
Assumi a Secretaria Geral da UISMM em um momento muito delicado, por conta da tragédia que acarretou no falecimento do camarada Igor Urrutikoetxea, do País Basco, responsável por reorganizar nossa entidade entre 2008 e 2013. Sua morte, irreparável em diversos aspectos, impediu que uma transição mais apurada fosse realizada. Até hoje ainda enfrentamos algumas dificuldades em virtude de sua perda, mas temos trabalhado com seriedade para garantir que nossa organização atinja novos patamares no próximo período.
Uma das tarefas que tenho enquanto secretário-geral da UISMM diz respeito a ampliar a representatividade da FSM e do nosso modelo de sindicalismo no continente africano. Como muitos aqui já sabem, nosso 3º Congresso ocorrerá no Egito, entre 23 e 25 de abril de 2018, no Cairo (Egito). Será certamente um marco para garantir a ampliação de nossa presença no Norte da África, no Oriente Médio e em países nos quais ainda temos pouca inserção junto aos trabalhadores.
Durante o 3º Congresso da UISMM, teremos como premissa as políticas aprovadas em outubro de 2016, na cidade de Durban (África do Sul), onde se realizou o 17º Congresso da FSM. É a partir da luta, da unidade de ação e do internacionalismo que teremos condições de enfrentar o poderio do imperialismo. Reafirmaremos a necessidade de lutar pela transformação da sociedade capitalista, cujo modelo definitivamente não foi capaz de atender as mais elementares necessidades de grande parte da população.
Até abril teremos muito trabalho pela frente, mas temos a convicção de que mais uma vez os metalúrgicos e mineiros da UISMM não deixarão de cumprir a tarefa que nos foi designada pela classe trabalhadora. Nenhum povo do mundo pode perder sua soberania. Nenhuma nação democrática deve se submeter às políticas de outros povos.
Vida longa à FSM! Vida longa à classe trabalhadora! Viva o socialismo!
Calcutá, 9 de outubro de 2017.
Francisco Sousa – secretário-geral da UISMM e secretário de Relações Internacionais da Fitmetal
Fonte: Fitmetal