A sexta-feira (4) amanheceu fria e triste. Nesta manhã foi divulgada a notícia do falecimento, por volta das 5h da madrugada, do cantor e compositor carioca Luiz Melodia, aos 66 anos.
Melodia realizava tratamento de um câncer na medula óssea desde julho do ano passado. A triste notícia pegou de surpresa a sua legião de fãs e os amantes da música popular brasileira.
Como não se contagiar com “Juventude Transviada”:
“Lava roupa todo dia, que agonia
Na quebrada da soleira, que chovia
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar
Eu entendo a juventude transviada
E o auxílio luxuoso de um pandeiro
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar
Cada cara representa uma mentira
Nascimento, vida e morte, quem diria
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar
Hoje pode transformar e o que diria a juventude
Um dia você vai chorar, vejo claras fantasias”
Autor de grandes sucessos gravou o seu primeiro disco em 1973, com a faixa título “Pérola Negra“, uma ode e aos sentimentos mais profundos:
“Tente usar a roupa que eu estou usando
Tente esquecer em que ano estamos
Arranje algum sangue, escreva num pano
Pérola Negra, te amo, te amo”
Criado no morro de São Carlos, bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, onde nasceu, em 7 de janeiro de 1951, tinha um estilo ímpar e com muita criatividade misturou samba, MPB, rock, blues e soul.
Além de “Pérola Negra”, incorporou ao rico acervo da MPB centenas de canções gravadas no imaginário popular. Quem nunca cantarolou “Magrelinha”:
“O por do sol vai renovar brilhar de novo o seu sorriso
E libertar da areia preta e do arco-íris cor de sangue, cor de sangue, cor de sangue…
O beijo meu vem com melado decorado cor de rosa
O sonho seu vem dos lugares mais distantes”
Suas músicas mostram a vontade se superar as mazelas da vida. Fazendo o caminhar caminhando. Para mostrar ao mundo a vontade de viver com delicadeza, candura, respeitando as diferenças e unindo os desejos mais íntimos com a luta social para melhorar a vida de todo mundo.
Sua música “Farrapo Humano” retrata bem essa vontade de transpor as barreiras impostas pelas pedras do caminho:
“Eu canto, suplico,
lastimo, não vivo contigo
Sou santo, sou franco
Enquanto não caio não brigo
Me amarro, me encarno na sua
Mas estou pra estourar, estourar”
Estourou também no Festival Abertura, da TV Globo em 1974 com a bela “Ébano”. Não venceu, mas seu talento já era reverenciado por público e crítica, numa simbiose completa de negritude e brasilidade, singulares.
Define-se em “Ébano”:
“Meu nome é ébano
Venho te felicitar sua atitude
Espero te encontrar com mais saúde
Me chamam ébano
O novo peregrino sábio dos enganos”
Deixa uma lacuna na canção não só do Rio de Janeiro e do Brasil, mas do mundo. Insuperável na sua mescla de sons e na atualidade perene de suas poesias. Vale repetir o chavão de sempre: Luiz Melodia vive. Todo grande artista é imortal.
“Subi o morro, subi cansado
Pobre de mim, pobre de nada
Morro do medo
Morro do sono
Morro do sonho
Morro do asfalto
Morro do clima lá em cima
O morro é de morar
Cá no terraço cada espaço
Claro quero tocar
Cadência morta paciência
Inda chego até lá, subi
A estrela d’alva ilumina
Soneto numa casa pequenina
O samba de roda tem mais clima
Na dança fluvial de uma menina”
Canta o músico e poeta em “O Morro Não Me Engana”.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy. Foto: Divulgação