O ator Dave Johns e o diretor Ken Loach em cenário de “Eu, Daniel Blake”
Quem ainda bota fé nas “boas intenções” do presidente golpista Michel Temer na reforma da previdência precisa urgente ir ao cinema assistir a obra-prima do inglês Ken Loach, “Eu, Daniel Blake”. Palma de Ouro no importante Festival de Cannes, na França, em 2016.
O filme está em cartaz no Brasil desde janeiro deste ano. Com uma direção aguçada, roteiro bem amarrado, contundente, elenco afinadíssimo, fotografia, trilha sonora e enquadramentos beirando à perfeição, a película provoca e atiça.
De um modo diferente tem a mesma percepção do brasileiro “Vidas Secas” (1963), onde Nelson Pereira dos Santos captou toda a dimensão humana do livro homônimo do grande escritor alagoano Graciliano Ramos.
“Vidas Secas” fala da aridez do sertão nordestino em décadas passadas, provocando a secura das vidas, desumanizando as relações, transformando as pessoas em nada, menos valorizados que bichos.
Tanto que o jornalista Vincent Canby escreveu no jornal norte-americano “The New York Times” que o filme é “um chamamento às armas”.
Mais de 50 anos depois, “Eu, Daniel Blake”, traz para a telona o mesmo impacto de “Vidas Secas”. No meio urbano, numa cidade nas proximidades de Londres, Blake (Dave Johns) é afastado do trabalho por causa médica. Começa seu infortúnio para receber seu seguro saúde.
Somente isso já daria à obra o impacto suficiente para mexer com corações e mentes do público. Mas vem mais. Blake encontra Katie (Hayley Squires), mãe de duas crianças que os “pais” não assumiram.
Desempregada, Katie enfrenta dificuldades ainda maiores para dar sustento à sua família e, por não conseguir emprego, parte para uma via alternativa. Assim como um vizinho de Blake, imigrante, busca maneira de sobreviver à margem do mercado de trabalho.
A trama se passa em um país do primeiro mundo, mesmo assim, a intromissão imperialista não escapa ao olho crítico do diretor, que mostra uma empresa norte-americana e terceirizada, responsável por decidir sobre a seguridade social da classe trabalhadora inglesa.
Dá para imaginar a situação indefinidamente pior em países pobres ou emergentes. Imagine um quase sessentão, sem aposentadoria, de licença médica, na fila da Previdência Social para receber seus direitos, enquanto ainda os tem.
A obra impacta qualquer um que ainda nutra alguma esperança. Um chamamento à ação revolucionária. Porque no final, só fica faltando o diretor aparecer para dizer: a realidade é ainda pior do que mostrei na tela. E aí, o que você vai fazer a respeito?
Enfim, todo sindicato deveria exibir essa obra para seus representados.
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Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy