A terceira mesa no primeiro dia do Encontro Nacional da Juventude da CTB, dedicada ao tema a juventude e a questão rural, levantou questões relevantes para o debate sobre a realidade dos jovens trabalhadores do campo.
Welliton dos Reis, diretor da Fetag-BA, que coordenou a mesa, fez uma exposição sobre as dificuldades do jovem campesino e a necessidade de implementação de políticas que visem alterar essa realidade. Para o dirigente é primordial que os governos abram os olhos para os jovens do campo, evitando sua migração para o meio urbano. “A principal dificuldade é a falta de um atrativo concreto. Não tem acesso a educação de qualidade, aos meios de comunicação com a mesma velocidade da cidade, falta crédito para o jovem e a juventude é secundarizada nos assentamentos”.
De acordo com o dirigente, o jovem trabalhador do campo encontra uma série de obstáculos em seu caminho quando precisa recorrer aos órgãos governamentais. “É a velha historia: como identificar o que é jovem?
Então, precisamos ter uma escala de prioridades e um cadastro unificado, para não prejudicar a juventude. O Incra (Instituto nacional de Colonização e Reforma Agrária) quando vai desenvolver o programa o jovem não está cadastrado. No banco para pedir crédito ele não tem o ADAP (declaração de aptidão ao Pronaf- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). E assim vai. É uma sucessão de erros e critérios equivocados. Por isso, precisamos de um cadastro unificado”, reforça Welliton.
Processo sucessório
Durante os debates foram apresentadas várias questões e soluções que facilitaram a manutenção do jovem trabalhador no campo, o chamado Processo Sucessório, no qual o jovem encontra condições e vontade de permanecer no campo e fazer a sucessão da propriedade.
A situação do jovem rural não é diferente do urbano. Até no processo da reforma agrária ele é excluído, já que ela é voltada para a família. Hoje existe a figura do jovem agricultor, que precisa de políticas públicas que facilitem o crédito e o acesso aos programas de financiamento. A maioria dos produtores vem preparando os filhos para assumir a propriedade, mas estes dão preferência à vida urbana, pois não têm interesse em dar continuidade ao trabalho na propriedade, e sim, estudarem e trabalharem na cidade.
O processo sucessório determina a condução da propriedade para o sucesso ou para o fracasso. Dependendo da forma como se dá, se tranquila e organizada ou turbulenta e desajustada.
Por isso, os aspectos relevantes ao analisarmos o processo sucessório relacionam-se a questões tecnológicas e criação de atrativos que mantenham os jovens agricultores no campo. A cidade oferece ao jovem campesino a falsa ilusão de oportunidade.
Políticas direcionadas
Para Welliton, é necessário defender uma política de permanência dos jovens trabalhadores do campo, como por exemplo, na oferta de educação. A educação não é voltada para a realidade rural.
Muitos jovens ainda têm que ir para a cidade, por vezes para casa de parentes para poder concluir os estudos, abandonando a vida no campo. Se houvesse essa oportunidade de formação escolar no campo, diminuiria consideravelmente o esvaziamento.
Outro problema enfrentado é a masculinização do campo. Muitas vezes, as mulheres, filhas ou esposas têm que ir para a cidade trabalhar em empregos que lhes garantam uma renda mínima para auxiliar no sustento familiar.
Esse processo faz com que haja uma masculinização, já que apenas os homens permanecem para trabalhar na lavoura e cuidar do restante da família. Se houvessem oportunidades, esse quadro seria outro.
Diferentes realidades, um mesmo objetivo: oportunidade
Maria dos Reis, coordenadora da Comissão de Jovens da Fetag-BA, concedeu uma entrevista ao portal CTB, onde afirmou que é um erro tentar desvincular as duas realidades, a rural e a urbana. “Uma realidade está ligada à outra. Essa questão rural atinge a todos. Quando um trabalhador sai do campo pra a cidade, ele habita na periferia, disputa as vagas de emprego com o trabalhador da cidade e isso traz conseqüências graves para a sociedade. Costumamos dizer: se o campo não planta, a cidade não janta”, frisou Maria dos Reis.
“O sindicalista não pode apenas se ater aos problemas de sua categoria ou segmento específico, mas sim dos trabalhadores em geral. Deve querer o melhor para todos. Então, através dessas mobilizações, vamos pressionar o governo a olhar os problemas rurais com maior atenção, oferecendo a esse segmento uma maior qualidade de vida. Tem que se reformar o pensamento de que a qualidade de vida está na cidade. É uma cultura equivocada, que é repassada desde a infância, finalizou. (leia a entrevista completa).
Os jovens trabalhadores rurais cetebistas reivindicam políticas públicas, educação básica voltada para o campo, inclusão de jovens na reforma agrária, crédito acessível para a juventude; lutam pela erradicação do analfabetismo juvenil e tencionam promover ações de geração de emprego e renda e o estimulo à criação de cooperativas entre jovens.
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