Convidada para o I Encontro de Jovens Trabalhadores da CTB, para expor um quadro sobre a realidade do jovem trabalhador na atual conjuntura, a socióloga Suzanna Sochaczewski, técnica do Dieese, alertou para os altos índices de desemprego entre os jovens brasileiros, em sua maioria carentes ou de segmentos sociais menos favorecidas, e suas conseqüências.
A especialista alertou ainda para a relevância desses jovens na composição da renda familiar. Segundo dados do Dieese relativos a 1998, 76% da renda familiar das famílias mais pobres provinham dos salários dos mais jovens. Os dados mostram que as famílias de baixa renda são mantidas, em sua maioria, pelos mais jovens.
Já em 2008 esse índice caiu, ainda que não muito, para 72%. Nas faixas com maior aquisitivo, esse índice se manteve em 4% nos anos pesquisados, o que leva à conclusão de que a renda do jovem faz pouca diferença nas camadas mais ricas.
No quesito estudo, foi comprovado que os jovens com menor poder aquisitivo dificilmente conseguem concluir o ensino superior, em virtude de sua extensa jornada de trabalho e dos baixos salários. O jovem de baixa renda se submete cada vez mais a baixas remunerações e à precariedade das condições de trabalho em razão da necessidade de auxiliar na renda familiar.
Túnel do tempo
A socióloga fez um comparativo da situação da classe trabalhadora, com as mudanças através dos séculos. Para ela, o trabalhador brasileiro faz uma viagem diária no túnel do tempo. Ele sai de casa, que oferece condições de moradia do século XVIII e XIV, enfrenta um sistema de transporte precário para trabalhar em uma empresa do século XXI, com tecnologia de ponta e equipamentos sofisticados. No final da tarde, o trabalhador novamente faz o retorno ao passado ao voltar pra casa. Essas realidades conflitantes, segundo a representante do Dieese, podem gerar desânimo e sensação de impotência no jovem.
De acordo com o jornal “A Folha de S.Paulo”, do dia 23 de maio, 28% dos jovens abandonaram o estudo para trabalhar. Dentre as principais razões para o abandono está, além da falta de interesse, a falta de compatibilidade de horários com o trabalho ou com afazeres domésticos.
E quem sai perdendo com esse quadro, é o próprio jovem, que abre mão, geralmente involuntariamente, de concluir os estudos e partir para melhores salários e oportunidades profissionais.
O Dieese divulgou um estudo no qual mostra que o rendimento médio de um jovem trabalhador é de 606 reais. Jovens com até dois anos de empresa recebem, em mediam, R$ 615 e com mais de dois anos, R$ 843. O estudo comprovou que, em média, o jovem que trabalha e estuda tem uma jornada de 41 h semanais, fato que prejudica a disposição de estudar, dificultando a formação escolar.
Mais que sonhos
Técnica do Dieese, a Dra. Sochaczewski acredita que um dos papeis fundamentais do jovem é sonhar com o futuro com que se quer construir, mas que ele possa estudar e construir um conhecimento novo, uma utopia com fundamento. “O caminho que o jovem percorre determina sua vontade de sonhar e molda a possibilidade de seus sonhos. Se o conteúdo não molda seus objetivos e sua capacidade de amplitude, a história desse jovem na sociedade é marcada pelas desigualdades. Os sonhos dos jovens só serão mais do que uma utopia se eles puderem conhecer e acreditar na possibilidade de transformação”, finalizou a especialista.
Para a secretária da juventude da CTB, esse quadro é desanimador, mas só reforça a consciência de luta e mobilização dessa camada da sociedade que sente na pele os impactos da crise mundial. “Quando constatamos os números, nos deparamos com uma realidade desanimadora e esse quadro se agrava se o trabalhador for negro, mulher ou pobre. Mas não podemos e não vamos nos abater. Nós temos a força, temos a disposição!”, concluiu Ana Rita.
Cinthia Ribas – Portal CTB
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