O ano de 2016 está marcado na história brasileira como o que propiciou a repetição de uma tragédia política. Uma elite apátrida, anti-povo e antidemocrática, mantendo essa sua tradição, golpeou dessa vez não apenas um governo legitimamente eleito por 54 milhões de brasileiros, como, sobretudo, interrompeu o auspicioso ciclo do projeto democrático e popular liderado por Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff desde 2002.
Esse ataque é parte integrante de uma orquestrada conspiração conservadora de que são vítimas a América Latina e o Caribe. Um movimento que objetiva capturá-las e subjugá-las aos ditames estadunidense, e, por extensão, submetê-las ao hegemônico sistema financeira mundial que degrada a vida dos povos e da classe trabalhadora.
A resultante desse golpe no Brasil é a rápida aplicação de uma agenda ultra liberalizante. Uma toga corporativa e antipolítica produz violações contra a democracia, o ilegítimo presidente Temer aprofunda a recessão e o desemprego, eliminou direitos constitucionais que protegiam a educação e a saúde pública e agora mira desumanizar o direito previdenciário, além de desmantelar de uma única tacada um sistema de proteção aos direitos dos trabalhadores: a CLT, a justiça do trabalho e os acordos coletivos. A terceirização, em vias de aprovação, aprofunda ainda mais essa violência contra a classe trabalhadora e suas organizações sindicais.
No que tange a soberania nacional destaca-se o venal desmantelamento do sistema Petrobrás e do seu principal vértice: as reservas do pré-sal. Encerra-se o ano com a fragilização constitucional do controle brasileiro sobre essas reservas e a venda criminosa desse patrimônio nacional como se descartáveis fossem.
No que pese esses intentos contra o país e do relativo consenso programático do núcleo usurpador, suas disputas internas, seu DNA corrupto e corruptor e sua ilegitimidade eleitoral fazem crescer ainda mais a crise. As incertezas sobre a continuidade do atual mandato presidencial tornam-se quase que um consenso no país.
Pela direita engendra-se a alternativa de um golpe dentro do golpe. Uma eleição indireta que expressa o medo da consulta popular.
Do campo democrático ganha convicção a convocação de uma eleição presidencial direta. A opinião pública, além de rejeitar o atual Governo, apoia essa proposta, pois percebe que ela pode dá estabilidade ao país.
Diante desse quadro cresce ainda mais os desafios do movimento sindical, democrático e nacional. Foram dentro das jornadas em defesa da democracia e contra a pauta neoliberal que acumularam forças e produziram instâncias pelas quais busca-se a unidade política. São articulações que devem ser reforçadas, mas que precisam de ampliação e foco em sua pauta.
As defesas da democracia, da soberania e dos direitos sociais, particularmente contra a reforma da previdência, são bandeiras objetivas e conexas com a da convocação das eleições diretas presidenciais já. Elas podem unificar o nosso povo e, sobretudo, a classe trabalhadora.
Nessa perspectiva, torna-se imprescindível que as centrais sindicais convoquem já no início do ano, uma plenária sindical nacional. Uma instância para produzir uma pauta e uma agenda unitária das trabalhadoras e dos trabalhadores do Brasil. A dimensão da crise e os propósitos neoliberais não nos recomenda táticas com meras demarcações políticas, pois essas promoveriam a dispersão e a nossa fragilização.
Será no calor das lutas que ampliaremos a resistência e descortinaremos melhores condições para as nossas conquistas.
Que venha 2017!
Mãos à obra!
Divanilton Pereira é secretário de Relações Internacionais da CTB e Secretário Geral Adjunto da Federação Sindical Mundial.