Alckmin e sua PM são atingidos por bomba na ONU

A ONG Conectas prestou um serviço inestimável à democracia brasileira ao denunciar a PM de São Paulo no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra.

O pronunciamento citou “o crescente processo de criminalização do direito de protesto no Brasil”.

Foi mencionado o caso da estudante Deborah Fabri, de 19 anos, que teve o olho esquerdo perfurado por causa do estilhaço de uma bomba de efeito moral.

“O Brasil vive um momento político conturbado após o afastamento definitivo da presidenta Dilma Rousseff. As ruas de várias cidades do país têm se tornado o principal espaço de manifestação das pessoas que reclamam por novas eleições ou denunciam propostas do Governo de Michel Temer que representam graves retrocessos em matéria de direitos humanos”, diz o texto.

“No estado de São Paulo, onde os protestos de rua têm sido os mais numerosos, o governador Geraldo Alckmin reprimiu com truculência os manifestantes. Vários manifestantes foram feridos. Como resultado da repressão do dia 31 de agosto, uma estudante universitária perdeu a visão do olho esquerdo após ser atingida por fragmentos de bomba de gás.

4 dias após esse triste episódio, a mesma polícia sob comando do governador Alckmin realizou uma operação de grande porte detendo ilegalmente 26 jovens, sendo 8 menores de idade. Depois das prisões, os jovens foram deixados incomunicáveis por 6 horas, sem contato com suas famílias ou advogados. A detenção foi declarada ilegal pela justiça.

Para esse operativo, um oficial do exército se infiltrou num grupo de manifestantes ocultando sua identidade. Essa prática remete às épocas mais obscuras da história de nossa região. A sociedade e a comunidade internacional devem reagir condenado o fato com veemência.”

A acusação ocorreu no mesmo dia em que Temer passou um vexame histórico ao mentir sobre o número de refugiado em Nova York.

Assim como o golpe foi exposto internacionalmente, já era era hora de Geraldo e sua Polícia Militar passarem pelo mesmo processo. Juntamente com Alexandre de Moraes, ex-secretário de Segurança de SP e atual ministro da Justiça, Alckmin montou uma máquina de dar porrada.

No domingo, dia 18, uma ambulante foi cercada e agredida por policiais na frente de um carro de som na Paulista. Não houve como faze-los largar sua presa. Era um bando de hienas enlouquecidas e totalmente despreocupadas com a repercussão da covardia.

Virou uma cultura. Gosto de lembrar o sociólogo americano Robert Nisbet, que faz uma distinção entre autoridade e poder. “A autoridade pressupõe relacionamento, lealdade e é baseada, em última análise, no consentimento de quem está sob ela”, escreve.

“O poder, por outro lado, é externo e baseado na força. Existe onde as alianças se enfraqueceram ou nunca nasceram. O poder surge quando a autoridade desaparece”.

Alckmin não tem autoridade e sua polícia é reflexo disso: uma gente paga para fazer o que ele manda, ou seja, descer o cacete nos vagabundos.

É claro que sempre aparece uma turma dizendo que a atitude da Conectas não tem efeito prático, mas não se trata disso. A ONG conseguiu mostrar na Europa o que o pequeno e vaidoso Geraldo e seus homens fazem impunemente no quintal. O governo brasileiro está em campanha para uma vaga naquele conselho, principal órgão de monitoramento de violações em âmbito global.

É uma bomba de efeito moral mais forte do que a que atingiu Deborah.

Kiko Nogueira é diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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