Em entrevista, Thiago de Mello defende “Brasil mais solidário”; evento celebra os 90 anos do poeta

O poeta amazonense Thiago de Mello concedeu entrevista coletiva à imprensa nesta segunda-feira (14) no Novotel Jaraguá, no centro da capital paulista, e afirmou que sua obra é “uma ode ao futuro da humanidade”. Aos que dizem que ele é um utópico, responde que “é melhor a utopia do que o apocalipse”.

Nesta terça-feira (15), a Fundação Maurício Grabois realiza uma homenagem ao poeta pelos seus 90 anos de vida, que serão completados no dia 30 deste mês. “Estão celebrando os 90 anos de minha juventude”, diz ele, que vive há 10 anos na cidade de Freguesia de Andirá, no seio da floresta amazônica. 

A Biblioteca Mário de Andrade será palco das comemorações com leitura de poemas, cantos e muita alegria, como gosta o poeta das águas, da floresta e da vida, que dedicou quase 70 anos de sua vida à poesia. 

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“Sinto-me mais jovem hoje, porque tenho mais esperança e acredito na construção de um Brasil mais solidário, igual e justo”. Ao ser indagado sobre as questões sociais em seus poemas, Mello respondeu que é “poeta político, poeta da vida. Qual a diferença?”

A maior parte do tempo falou da floresta Amazônica, da expropriação de suas riquezas e das constantes ameaças que sofre a população cabocla. Para ele, “solidariedade você encontra na floresta”. Nas regiões onde o capital ainda não dominou as relações.

Em seu poema “Para os que virão”, do alto de seus (quase) 90 anos, ele ensina: “É tempo sobretudo/de deixar de ser apenas/a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro. Se trata de abrir o rumo”. Leia abaixo, na íntegra:

Para os que Virão (Thiago de Mello)

Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
– muito mais sofridamente –
na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

Serviço

Aniversário de Thiago de Mello
Data: Terça-feira (15), às 19h
Local: Biblioteca Mário de Andrade/Auditório
Rua da Consolação, 94, Centro, São Paulo

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