Nesta segunda-feira (1), os Estados Unidos começaram a primeira etapa da corrida presidencial que definirá, em outubro, o sucessor de Barack Obama – as eleições primárias dentro dos partidos democrata e republicano. As nomeações prévias foram votadas no estado de Iowa, mas o que era para ser um ritual de praxe se transformou em uma batalha de voto-a-voto quando o candidato socialista Bernie Sanders chegou ao empate com Hillary Clinton. Ele é atualmente senador pelo estado de Vermont.
O precedente para um candidato socialista forte naquele país é o de Franklin Roosevelt, mais de 70 anos atrás. E ele acabou presidente. Não é à toa que a esquerda americana está em polvorosa.
Conforme as urnas foram sendo abertas, o que era uma clara vitória para Hillary Clinton foi se acirrando até o empate. Na madrugada da terça-feira, três distritos desistiram de contar votos e decidiram seus vencedores em um literal cara-ou-coroa. Hillary, favorita do comando nacional dos democratas, levou os três, e acabou vencendo por 22 a 21 na contagem de delegados para a decisão final.
O resultado, contudo, é imensamente favorável a Sanders. Até meses atrás, ele se encontrava com desvantagem eleitoral superior a 40%, comparado com Hillary, e conseguiu erguer sua campanha com ajuda intensa do voluntariado progressista. Empatar, portanto, é uma vitória extraordinária, amplificada pelo fato de Iowa ter peso crucial na formação de tendências para os estados seguintes. Em 2008, foi por este mesmo caminho que Barack Obama conseguiu sair de seus 7% iniciais para a presidência americana.
Na semana que vem, a votação do estado de New Hampshire está cercada de expectativas de que Sanders vença, acelerando ainda mais a trajetória política de sua campanha. As últimas pesquisas indicam uma vantagem de 18% sobre a ex-primeira dama, fruto de um sistema regional que permite a participação de eleitores independentes – pessoas que se enxergam à esquerda, mas que discordam do centrismo de Hillary e não se ligariam a sua campanha. Esses podem reforçar a mensagem de “revolução política” que Sanders carrega em seus discursos.
O resultado indica que, depois de um longo período de estigmatização, o socialismo americano finalmente está livre das comparações inconsistentes com a União Soviética a que foi submetido. A jornada de retorno surfa no pique de setores populares, estudantes, intelectuais, artistas e uma parte adormecida e desanimada da opinião pública americana, que vê o fosso das desigualdades sociais com reprovação. Os números não deixam dúvidas: Sanders é o vencedor absoluto entre os mais jovens (84%), entre os mais pobres (57%), entre eleitores independentes (69%) e entre todos aqueles que preferiam não se envolver com eleições anteriormente (59%).
Com o sistema bizantino de decisão partidária dos EUA, ainda é impossível prever as chances de Sanders. Mesmo que ele vença a maioria das primárias, ainda caberá ao comando do Partido Democrata e seus “super delegados” darem os votos de minerva a esta corrida, que se provará apertada. Independente disso, está claro que a nova geração americana terá valores mais alinhados com a esquerda – um alívio, de fato, considerando a onda conservadora que varre a América do Sul.
Por Renato Bazan, com informações do New York Times e da Associated Press