Em maio de 1968, em Paris, França, milhares de mulheres saíram às ruas e queimaram sutiãs contra a opressão machista e patriarcal. O ato marcava um avanço da luta das mulheres por direitos iguais, que se espalhava pelo mundo.
Dia 30 de outubro de 2015, uma sexta-feira quente, milhares de pessoas (maioria de mulheres e jovens) esquentaram o coração financeiro do Brasil, a Avenida Paulista, com manifestação de amor e vontade de avançar.
Mais de 30 mil pessoas, segundo os organizadores, começaram uma marcha na Praça do Ciclista, ali bem próximo à Avenida Consolação, fechando uma pista inteira da Paulista e depois descendo pela Brigadeiro Luiz Antônio. A principal palvara de ordem: “Fora Cunha”.
Com muita alegria, as mulheres levaram para a rua o seu grito contra o Projeto de Lei 5069/2013, de autoria do ainda presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Esse PL proíbe até a pílula do dia seguinte até para mulheres vítimas de violência sexual.
“A nossa luta é contra o machismo, o racismo e a LGTBfobia”, disse Maria das Neves, da União da Juventude Socialista Feminista e da União Brasileira de Mulheres.
Logo em seguida vem a ciranda das mulheres, maioria absoluta de jovens. “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente com a roupa que escolhi e poder me assegurar que por causa do shortinho, ninguém vai me estuprar” (paródia de “Eu só quero é ser feliz”, de Julinho Rasta e Kátia).
Os bares lotados da Paulista pararam para ver a passeata, fotografar e filmar com seus celulares e pular quando as manifestantes gritavam: “quem não pula é machista”. Uma velha senhora sentada num banco de ônibus filmava alegre o cortejo. “É muito bom isso, meu filho”, disse a senhora.
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“Estamos na rua contra o ódio, a violência e a discriminação de gênero”, disse Maria. Perto de um cartaz que dizia “Cunha é o inimigo número 1 das mulheres”. “Mas não é só ele, são todos os fundamentalistas religiosos, os misóginos, os que odeiam homossexuais”, complementa a líder feminista.
Depois as meninas entoaram: “machismo mata, feminismo liberta” ao se referir aos milhares de assassinatos de mulheres que acontecem diariamente no país. “A cada 15 segundos uma mulher é agredida”, dizem.
Em relação ao estupro, estima-se que mais de 500 mil mulheres são estupradas anualmente no Brasil. E o PL 5069 criminaliza as vítimas e privilegia os criminosos.
Enfim, a multidão feminista deu o seu recado em alto e bom som: “estaremos nas ruas até esse PL ser arquivado, juntamente com todos os outros projetos que trazem o retrocesso, privilegiando a desigualdade e a violência”, diz Maria.
“A unidade de todas as mulheres é capaz de derrotar o fascismo que tenta tomar conta do país”, complementa.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB (texto e fotos)