Nesta quinta-feira (6), o grupo de jornalismo Terra anunciou um das maiores demissões da imprensa moderna, com aproximadamente 80% de sua equipe de jornalismo sendo dispensada. São cerca de 60 profissionais, no total, a maior parte deles integrante das sucursais do Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. Essas filiais funcionarão apenas como escritórios comerciais a partir de agora. Somente oito jornalistas devem permanecer no portal, com função de abastecer o site com notícias e conteúdos de parceiros brasileiros.
Ao Portal Imprensa, o CEO do Terra, Paulo Castro, explicou que as mudanças não têm relação com a atual crise econômica enfrentada pelo Brasil, mas correspondem a “uma reorganização que responde a como o mercado contrata publicidade, de como o mercado remunera a atividade da mídia”, e que “a mudança foi planejada com anos de antecedência”. Castro explicou que o Terra continuará atuando como portal de notícias, utilizando o conteúdo de agências, parceiros e colaboradores. Entre as fontes de notícias que serão priorizadas estão a revista IstoÉ, o diário esportivo Lance! e agências de notícias internacionais EFE e BBC.
Precarização do trabalho e da diversidade na imprensa
Apesar de ser apresentado apenas como uma mudança no plano de negócios, o que acontece no Terra é mais um passo no processo de precarização de trabalho e concentração de poder que a imprensa vem atravessando na última década. Ao demitir quase todo o seu quadro de jornalistas, o portal passa a depender da produção de outros veículos, que se vêem projetados em um número cada vez maior de espaços de leitura. A diversidade de vozes fica menor, e com isso desaparecem interpretações alternativas para os fatos públicos. A força dos veículos oligárquicos aumenta a cada nova demissão.
A isso, os jornalistas costumam dar o nome de “pasteurização jornalística”, por tirar dos veículos individuais a variedade de pontos de vista.
Ainda mais nocivo para os profissionais do setor é a tendência a que o Terra adere ao dispensar funcionários devidamente contratados, regularizados pela CLT, para buscar material pronto de terceiros. O uso de conteúdo de agências de notícias e repórteres freelancers é um ataque duplo ao mercado de trabalho, pois diminui o número de vagas disponíveis e dá margem a processos de hiperexploração do trabalho, em que o trabalhador é remunerado de forma pobre e não tem nenhuma proteção do vínculo empregatício.
Assim, a qualquer momento, a empresa pode encerrar a relação contratual sem arcar com o ônus da decisão. E mesmo que a mantenha, não precisa remunerar férias nem prover qualquer espécie de benefício, como o registro no INSS ou a concessão de licença-maternidade.
Não à toa, as ondas de demissão no jornalismo são normalmente seguidas da contratação de colaboradores freelancers e jornalistas “pejotizados” (que trabalham como Pessoa Jurídica), que recebem pagamento mais baixo e não têm direito às proteções das Leis do Trabalho.
O que o Terra faz, portanto, é implementar uma forma velada de burlar a CLT. Ele não é o primeiro veículo a fazer isso – a Globo faz isso há uma década em seus próprios portais -, nem será o último.
Por Renato Bazan, com informações do Portal Imprensa
Arte: V. Kazanevisky