Já que quase ninguém tem falado sobre o assunto, eu vou falar! Ou melhor, vou fazer aquilo que os jornais e os grandes veículos de comunicação deveriam estar fazendo (nos informando) mas não o fazem.
Dos anos 90 para cá a Sabesp, empresa responsável pelo saneamento do estado de São Paulo vem sendo lentamente privatizada através da venda de suas ações ao capital privado.
E o que isso tem de ruim?
Desde então a Sabesp vem sendo pressionada pelos seus acionistas a dar margens de lucro cada vez maiores. O problema é que quase sempre dar altas margens de lucro para seus acionistas é incompatível com oferecer bons serviços públicos.
E o que isso teria a ver com a atual crise de abastecimento?
Primeiro, é a ausência de investimentos. Não houve nos últimos vinte anos investimentos na ampliação de mananciais. Nos últimos 30 anos a população da Região Metropolitana de São Paulo passou de 12 milhões para 22 milhões e os mananciais existentes não são capazes de atender essa demanda. Ou seja, para manter os acionistas felizes, as remessas de lucro não podem cessar e aí não sobra dinheiro para investir na qualidade do sistema.
E o sistema Cantareira?
De todos os sistemas que abastecem a região metropolitana, o Cantareira é o mais lucrativo pois o custo de tratamento da água é o mais baixo. Portanto, dentro desta lógica do lucro que rege a Sabesp e, em detrimento da qualidade dos serviços prestados ficou fácil entender o esgotamento do sistema Cantareira.
E a falta de chuvas?
O acelerado desabastecimento de São Paulo é resultado direto da ausência de planejamento e da falta de investimentos dos governos do estado nas duas últimas décadas. O que tivemos foi uma estação (verão) atípica, com poucas chuvas, já que o inverno esteve dentro da média histórica de precipitações. Portanto, cabe uma pergunta: será que uma estação pouco chuvosa seria suficiente para acabar com todo o sistema Cantareira? A resposta é óbvia! Não!
O maior problema é que a Cantareira era uma reserva de umidade. Assim como o Lago Paranoá faz em Brasília, as águas da Cantareira potencializavam o ciclo hidrológico da região metropolitana. Toda a água que evaporava nesse sistema voltava através de chuva, mas agora que esgotaram o sistema, não tem mais água e também não tem chuva.
Agora, de todas as perguntas a mais importante é: porque a grande mídia não fala a verdade sobre este assunto e coloca a culpa em um tal de São Pedro, que mal pode se defender?
Por André A. de Souza Cavalcanti, geógrafo