Nestes tempos de baixo crescimento da economia e às vésperas de uma eleição que pode definir os rumos do Brasil para as próximas décadas, vale a pena observarmos com maior cuidado um setor fundamental para o desenvolvimento do país: a indústria naval.
Um dado, logo de cara, impressiona: desde 2004, o setor cresce 19,5% ao ano, em média. Não por acaso, essa data coincide com o segundo ano de governo do ex-presidente Lula, responsável por abraçar a causa da indústria naval e elevá-la a uma condição única na história do país.
Até a fase atual, o auge da produção naval havia ocorrido nos anos 70 do século passado, quando o Brasil contava com cerca de 39 mil trabalhadores diretamente envolvidos nessa atividade industrial, especialmente no estado do Rio de Janeiro. Nas duas décadas seguintes, com o advento das políticas neoliberais de Collor e Fernando Henrique, esse número ficou reduzido a menos de 10 mil trabalhadores. Hoje são mais de 81 mil homens e mulheres em estaleiros localizados em diversos estados da Federação, montante que acaba por gerar cerca de 250 mil empregos indiretos.
O que explica, em um intervalo de menos de 40 anos, tamanha reviravolta? Para nós, sindicalistas classistas, diretamente ligados ao dia a dia da categoria, faltou ao Brasil por mais de duas décadas uma política industrial de Estado, com diretrizes claras inseridas em um grande e soberano projeto de Nação.
É consenso entre os trabalhadores do setor que, no atual estágio em que o país se encontra, existem plenas condições de se estabelecer essa política. Mais do que isso: com o advento do pré-sal, essa é uma necessidade que não pode ser ignorada, sob o risco de o Brasil perder uma oportunidade histórica para alcançar um novo patamar de desenvolvimento.
Essa discussão não pode ser ignorada neste momento, a poucos dias das eleições presidenciais. Diante do atual cenário, está claro que somente a candidatura de Dilma Rousseff tem condições de avalizar uma política industrial consistente, capaz de gerar avanços tecnológicos para o país e fortalecer sua soberania. Aécio Neves, por seu DNA tucano, não hesitaria em deixar todo esse potencial nas mãos de estrangeiros; Marina Silva, por sua vez, manifestou em seu Programa de Governo que o pré-sal não deve ser uma prioridade.
É impossível antever o resultado que sairá das urnas. Por conta disso, os trabalhadores da indústria naval devem ter a convicção de que essa política é uma urgência para o país, de modo a garantir que governante nenhum seja capaz de enfraquecer o setor e reduzi-lo aos níveis vivenciados durante o auge do neoliberalismo.
Independentemente do que o povo decidir nas urnas, a construção desse projeto é uma tarefa que deve ser definida como prioridade pelos trabalhadores e empresários diretamente envolvidos com a indústria naval do país. A opção por Dilma tende a oferecer maiores chances de sucesso para essa política de desenvolvimento, mas precisamos estar prontos para qualquer que seja o desfecho das eleições deste ano.
Alex Ferreira dos Santos é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro e secretário setorial Naval Off Shore da Fitmetal. Artigo publicado originalmente na FitMetal.
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