Nesta sexta-feira (19) comemora-se o Brasil, o Dia Nacional do Teatro. Uma expressão artística inicialmente popular no Brasil, foi ganhando ares elitistas com a chegada da Família Real ao país em 1808. Quando o rei D. João VI defendeu a construção de “teatros decentes”. O período marca a início da trajetória de uma forma de fazer teatro genuinamente brasileira com as peças de comédia e costumes, principalmente de Martins Pena (1815-1848). Os especialistas consideram a estreia de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, em 1943 como o nascimento do teatro moderno brasileiro.
As dificuldades vivenciadas pelos grupos de teatro no país são muito comumente esboçadas nos parcos recursos e poucos espaços que conseguem para manter esta arte em palcos pelo país agora. “Eu faço teatro por amor, mesmo porque viver disso é difícil. Não existe nada igual subir no palco. Você não é mais você e ao mesmo tempo é”, declara a atriz Isadora Tucci, do Espaço Cênico Produção e Arte em Santo André, no ABC paulista.
O teatro surgiu no Oriente antigo com encenações de rituais religiosos. Mas foi na Grécia que ganhou uma conotação mais parecida com a atualidade. As tragédias e comédias gregas ainda conservavam algo de religioso e serviam como profundos questionamentos sociais e morais, além de funcionarem com entretenimento. Textos de autores como Ésquilo e Aristófanes permanecem encenados até hoje, com diz a atriz Isadora. “O teatro brasileiro teve um grande público nos anos 1960 a 1970. É um fato curioso: o teatro mais popular no Brasil foi o político, o que criticava e denunciava a ditadura, era uma arte quase militante. Quando acabou a ditadura, o teatro perdeu a vigilância crítica”, acredita Wellington Andrade colunista de teatro na revista Cult e professor da Faculdade Cásper Líbero.
Para driblar a censura do Estado Novo surge o teatro de revista e as primeiras companhias de teatro estáveis do país, com nomes como: Procópio Ferreira, Jaime Costa, Dulcina de Moraes, Odilon Azevedo, Eva Tudor, entre outros. O Teatro do Estudante do Brasil entra em cena em 1938 e o Teatro Brasileiro de Comédia dez anos após. Em 1944, pela primeira vez na história os negros brasileiros veem nos palcos suas angustiadas encenadas por atores negros com a criação do Teatro Experimental do Negro em 1944, no Rio de Janeiro. A experiência duraria até 1961.
Em contraponto ao TBC, entra em cena o Teatro de Arena em 1957. O Arena aborda temáticas sociais com enfoque do ponto de vista do trabalhador como a antológica com Eles Não usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri e Arena Conta Zumbi, de Augusto Boal.
Ainda na efervescência dos anos 1960, a turma do Teatro de Oficina lança o manifesto do Tropicalismo em São Paulo.Com forte influência do alemão Bertolt Brecht, surge o Teatro do Oprimido, criado por Augusto Boal, para levar aos palcos as questões sociais.
A ditadura implantada em 1964 aborta todas essas experiências. Inclusive o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, que visava levar conscientização política aos menos esclarecidos.
Com o fim da ditadura em 1985, o teatro se livrou da censura e passou a enfrentar o dilema da questão de financiamento econômico. Muitos atores globais encenam grandes produções da Broadway (espécie de Hollywood do teatro) para um público de poder econômico privilegiado, enquanto coletivos de teatro de São Paulo vivem ameaçados de despejo de suas localidades por não conseguirem pagar os alugueis. “São Paulo, por exemplo, tem quase 100 a 80 espetáculos por temporada. Quase tudo ou é experimental, stand up comedy, ou musical, ou comédias baseadas em atores de televisão. Não se cria uma tradição clássica brasileira” diz Welington: “Os grandes clássicos, o próprio Boal, acabam ficando só no livro, e não vem pra representação, pra vida”.
Por essas e por outras que o teatro brasileiro depende da dedicação de pessoas como a atriz Isadora para manter a chama do teatro brasileiro acesa. Para tentar ajudar o Ministério da Cultura conta com dois programas importantes os Pontos de Cultura e o Vale-Cultura, que infelizmente os empresários ainda não perceberam as melhorias que esse benefício pode trazer aos trabalhadores e à produção de suas fábricas. “O teatro tem um poder de se reinventar inesgotável. Em São Paulo, tem um movimento muito interessante. É um processo de criação coletiva que quer investigar a ocupação da cidade. O grupo Vertigem, por exemplo, fez um espetáculo que o público caminhava pelo Bom Retiro. E a atuação se misturava com a cidade, com a vida real” sugere Wellington. Já Isadora concorda que os problemas são muitos, mas que é impossível viver sem: “Acho que a delícia do nosso trabalho é essa. Contemplar os clássicos e genialidades que se estendem desde a Grécia. Destrinchar cada pedacinho da obra, estudar a atitude de cada palavra emitida, o significado de cada movimento. Aí então vem o estudo da obra – social e historicamente – para depois transportar para o real – o agora, e passar tudo isso para o público”.
Por Marcos Aurélio Ruy e Raul Duarte – Portal CTB