Nos próximos dias Fortaleza irá receber as delegações dos países que integram o Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para a realização da 6ª Cúpula do grupo.
Diversas atividades estão sendo preparadas paralelamente à iniciativa com o objetivo de ampliar os debates sobre o papel do Brics na nova geopolítica mundial, entre elas está o 3º Fórum do Brics Sindical – organizado pelas centrais – (veja aqui a programação) que começa nesta terça-feira (15).
Em entrevista exclusiva para o Portal CTB, o secretário de Relações Internacionais da organização, Divanilton Pereira, explica qual a importância da atividade e como o sindicalismo deve se inserir neste cenário internacional.
Portal CTB: Qual a expectativa do movimento sindical para a 6ª reunião dos Brics no Brasil?
Divanilton Pereira: Para o sindicalismo brasileiro, em particular, mas também para o sindicalismo classista internacional, nós enxergamos esta sexta cúpula e o terceiro Brics Sindical com uma perspectiva estratégica nova, pois compreendemos que o bloco é uma expressão desta tendência por uma nova geopolítica, por isso é o novo leito que o sindicalismo pode e deve disputar com uma perspectiva classista.
Em relação à criação do Banco de Desenvolvimento e do Fundo de Reserva do Brics, como a iniciativa vai interferir na economia mundial?
Como o Brics é uma expressão dessa nova tendência pela multipolaridade, no concreto se revela isso: a constituição de um banco de fomento, que venha não só atender aos ditos países emergentes que compõem o bloco, mas atue mais amplamente e venha a se constituir numa alternativa ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial, além de estabelecer relações comerciais e financeiras que não sejam intermediadas pelo padrão dólar ou euro, uma iniciativa importante que precisa ser consolidada. É um processo que os trabalhadores veem como uma possibilidade política estratégica muito interessante.
Qual será a diferença do Banco dos Brics em relação ao Banco Mundial e ao FMI?
O Banco dos Brics tem um foco, eu diria que tem um foco de investimento, especialmente em infraestrutura, que deve propiciar o combustível para realizar projetos nacionais soberanos e elevar a capacidade produtiva desses países, de forma que não fiquem reféns das exigências das potências capitalistas e também das velhas e falidas receitas do FMI que nós já conhecemos e que estão sendo impostas atualmente na Europa: o socorro, ou seja os empréstimos, são condicionados à perda de soberania e submissão aos interesses rentistas internacionais. Este banco, do Brics, tem de ser diferente, porque vem para fomentar a logística e infraestrutura destes países.
Recentemente a Rússia e a China realizaram um importante acordo sobre o gás, qual a importância deste acordo diante desta nova arquitetura financeira em curso?
São acordos de grande importância estratégica, de grandes volumes e veja que não por coincidência são acordos que se desenvolvem entre países que compõem o Brics, então são caminhos alternativos para tentar fugir da unilateralidade norte-americana e também da chantagem europeia, sobretudo da Alemanha.
O tema deste sexto encontro é o crescimento inclusivo e soluções sustentáveis, como fazer com que estes objetivos se transformem em realidade?
Não é uma tarefa simples e fácil. Nós percebemos a dificuldade que é um país com as características do nosso, por exemplo, desenvolver um projeto nacional sustentável, autônomo e que valorize o trabalho. Eu diria que os outros países que integram o Brics também têm suas complexidades. Então são duas grandes tarefas: fortalecer, constituir seus projetos nacionais e estabelecer uma nova relação política, comercial, tecnológica e até cultural entre esses mesmos países. São duas tarefas que se complementam, mas que têm grande complexidade, porque os interesses de cada nação também estão em jogo, não é apenas um clube de amigos. Eles se respeitam, se relacionam, mas também têm os interesses nacionais a serem preservados. Penso que o Brasil precisa reafirmar mais ainda a sua política externa e criar as condições, sobretudo, para uma nova política macroeconômica que venha disputar e ocupar espaço nessa nova configuração política e financeira em curso no mundo.
Uma das reivindicações das centrais sindicais é a oficialização do Brics Sindical. Qual a expectativa em relação a isso?
É um objetivo que a gente proclamou há alguns anos porque também nós temos alegrias que são resultantes das vitórias dos povos, da nova tendência pela multipolaridade, dessa nova reconfiguração econômica e financeira, mas também não queremos uma ordem qualquer. Queremos uma ordem que encare o trabalho com sua devida centralidade, por isso que nessa nova configuração o movimento sindical tem que se posicionar e lutar para que de fato o trabalho seja valorizado. Essa é a estratégia do sindicalismo brasileiro e também do sindicalismo que atua no Brics.
De Fortaleza, Ceará
Érika Ceconi – Portal CTB