Morreu na manhã desta quinta-feira (8) um dos principais representantes da música popular brasileira. Jair Rodrigues deixou uma lacuna no mundo do samba aos 75 anos, comemorados em fevereiro. Um infarto e levou e maculou corações de sues milhares de fãs em todos os cantos do Brasil.
O cantor de estilo alegre e brincalhão fez de sua voz a sua arte e o seu ganha pão. Começou cantando em casas noturnas paulistanas ainda em 1957, tempo em que CD era algo muito distante. Gravou os primeiros discos de vinil, compactos simples em 1964 e no ano seguinte gravaria dois “bolachões” (LPs) e assim decolava a solidez de seus 57 anos de carreira sempre em destaque na mídia e defendendo a cultura nacional.
Seu primeiro grande sucesso foi Deixa Isso Pra Lá (Alberto Paz e Edson Meneses) em 1964 criou para si a marca de artista extremamente brincalhão. Sua vontade era somente cantar para entreter e alegrar ao público num tempo áspero da vida brasileira com a vigência da ditadura fascista (1964-1985).
Fazendo coreografia com as mãos, o cantor interpretava toda a delicadeza que ainda existia no país, mesmo em meio ao regime autoritário, num letra até certo ponto ingênua em Deixa Isso Pra Lá:
“Deixa que digam
Que pensem, que falem
Deixa isso pra lá
Vem pra cá…
Vem balançar
Amor é balanceio, meu bem
Só vai no meu balanço
Quem tem
Carinho para dar
Carinho para dar”
E assim encantava multidões. Ainda em 1965 gravou com Elis Regina o LP Dois na Bossa. O sucesso do disco levou a TV Record a convidar a dupla para apresentar o programa O Fino da Bossa, que levava ao ar cantores antigos e os novos talentos que surgiam.
As suas ideias conservadoras e seu estilo brincalhão quase o impediram de interpretar Disparada no Festival da Record em 1966. Mas o cantor se postou à altura da canção de Geraldo Vandré e Theo Bastos, que ficou em primeiro lugar num inédito empate com A Banda de Chico Buarque.
Ele cantou com simplicidade e beleza ímpares a linda Disparada:
“Prepare o seu coração
Pras coisas
Que eu vou contar…
Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo pra consertar”…
Dos anos 1960 para cá emplacou inúmeros sucessos entre sambas e músicas sertanejas. Entre centenas de interpretações singulares de grandes canções do repertório popular do país. Jair Rodrigues gravou: A Majestade, o Sabiá (Roberta Miranda), A Voz do Morro (Zé Keti), Tristeza (Miltinho e Haroldo Lobo), Vem Chegando a Madrugada (Noel Rosa e Zuzuca do Salgueiro), Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Luar do Sertão (Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco), Se Acaso Você Chegasse (Lupicínio Rodrigues).
Seu último CD, Samba Mesmo, foi lançado no dia 5 de abril em São Paulo. Dirigido e produzido pelo filho, o músico e cantor Jair Oliveira, o disco traz clássicos da música brasileira: Fita Amarela (Noel Rosa), Esses Moços (Lupicínio Rodrigues), Na Cadência do Samba (Ataulfo Alves), Luz Negra (Nelson Cavaquinho), No Rancho Fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo), entre outras canções antológicas da música brasileira.
Deixou dois filhos (Jair de Oliveira e Luciana Mello, que seguiram a carreira do pai com estilos bem diferentes e quatro netos, além da companheira de vida, Clodine Mello). O sambista paulista soube emprestar sua voz a grandes músicas populares do Brasil e com isso ganhou um lugar na história da MPB e da cultura popular do país. Ele foi um desses cantores pelos quais não se pode passar indiferente tamanho o seu talento. Fará muita falta para a interpretação do samba. A poesia de Tristeza pode reverenciar esse cantor sem igual no mundo:
“Quero de novo cantar
Tristeza, por favor vá embora
Minha alma que chora
Está vendo o meu fim
Fez do meu coração a sua moradia
Já é demais o meu penar
Quero voltar à aquela vida de alegria
Quero de novo cantar”
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB
Algumas interpretações de Jair Rodrigues:
Deixa Isso Pra Lá (Alberto Paz e Edson Meneses)
Disparada (Geraldo Vandré e Theo de Barros)
Tristeza (Niltinho e Haroldo Lobo)