A América Latina perdeu nesta quinta-feira (17) uma de suas vozes mais contundentes. O escritor, jornalista e ativista Gabriel García Márquez morreu aos 87 anos na Cidade do México. Aposentado desde 2009, o autor colombiano sofria de demência a havia perdido a memória, fator crucial para quem sempre dizia que o que ficava da gente eram as lembranças. Tratava-se de um câncer linfático e não resistiu a uma pneumonia e uma infecção respiratória.
O mundo perde um dos mais brilhantes escritores de todos os tempos. Para muitos críticos o seu livro mais conhecido Cem Anos de Solidão configurou-se na segunda mais importante obra literária em língua espanhola, perdendo apenas para Dom Quixote, do espanhol de Miguel de Cervantes.
Na literatura e na vida García Márquez, ou Gabo pra os íntimos, manteve uma dignidade ímpar marcando sua posição política em favor dos oprimidos e atacando as mazelas dos opressores. No discurso A América Latina Existe, de 1990, denuncia a forma preconceituosa como somos vistos pelos países do chamado Primeiro Mundo: “tudo o que não parece com eles parece um erro, e fazem tudo para a sua maneira, corrigir isso, como, aliás, fazem os Estados Unidos”, concatena com pujança.
Ainda prenuncia um novo momento nessa parte subjugada do continente americano ao afirmar que vivemos num continente “no qual a morte há de ser derrotada pela felicidade e haverá mais paz para sempre, mais tempo e melhor saúde, mais comida quente, mais rumbas saborosas, mais de tudo de bom para todos. Em duas palavras: mais amor”.
García Márquez na fugiu à regra de ser amado por seu povo e ignorado pela elite nativa tão burra quanto a do Brasil, que valoriza qualquer subextrade de pseudocultura estrangeira em detrimento do que possa ter de melhor em seu própriopaís. Tanto que escolheu viver fora da Colômbia, país dominado pelo narcotráfico e pela direita submissa ao imperialismo ianque. Ele se antecipa aos acontecimentos e defende a e da criação de uma “cultura da paz” contra a barbárie, a violência, a opressão e aos ditames de uma elite tão igual em todos os países latino-americanos, subserviente ao imperialismo e aos interesses do capital, sempre contra o mundo do trabalho.
Voz constante em defesa da integração latino-americana e no engajamento permanente em favor dos povos oprimidos e pobres do mundo, contra as guerras. Para ele “toda guerra é burra”. Disse em encontro literário que “a corrida das armas vai ao sentido contrário da inteligência”.
A América Latina de tantos grandes escritores chora a perda de um dos seus mais importantes e atuantes defensores. García Márquez já antevia a necessidade de se lutar pela educação pública de qualidade no continente subjugado por ferozes ditaduras submissas aos ricos. Estaria feliz hoje não fosse sua demência ao ver a maioria dos países por quem tanto esbravejou pelo mundo afora vivendo momentos de normalidade democrática com ampla liberdade individual e permanente combate à pobreza.
Por fim, Gabo foi um forte defensor da cultura e da liberdade de expressão num momento em que essas palavras eram artigos de luxo. Escreveu certa vez que “a cultura é a força totalizadora da criação: o aproveitamento social da inteligência humana” e “como disse Jack Lang sem maiores rodeios: ‘a cultura é tudo’”.
A perda de um escritor tão amado quanto lido, nos enche de tristeza, mas nos renova na certeza de que nada do que García Márquez fez foi em vão. A sua luta como a de muitos outros em favor da classe trabalhadora permite que a América Latina respire no século 21 ares de liberdade, como jamais experimentou antes. Por isso tudo, Valeu Gabo, a sua literatura permanecerá para toda a eternidade por sua consistência humana e libertadora. Os trabalhadores do mundo choram essa perda irreparável.
Marcos Aurélio Ruy é jornalista do Portal CTB
Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.