A 9ª Semana de Prevenção das LER (Lesão por Esforço Repetitivo) foi realizada nos dias 27 e 28 de fevereiro no auditório da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Foram abordadas questões vitais para a classe trabalhadora, como o alto índice de profissionais em licença para tratamento de saúde e de aposentados em consequência dessa doença que é considerada “surda e invisível” pelo patronato.
“Cada trabalhador deve ser um militante dessa causa que atinge toda a sociedade, senão em 10 ou 15 anos uma geração estará incapacitada para o trabalho”, advertiu Paulo Ricardo Fabris, médico do trabalho do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (Cerest) Regional de Porto Alegre.
Para Débora Melecchi, o encontro serviu para reavivar as principais bandeiras da CTB-RS: contra a terceirização, contra o PL 4330, pela luta para a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, por melhores condições de trabalho, pela exigência de que as normas regulamentadoras sejam realmente colocadas em prática. “Também precisamos reverter o quadro no Ministério do Trabalho e Emprego, que hoje passa por um processo de sucateamento, em que a fiscalização está precária por não ter auditores em número suficiente para verificar as condições dos trabalhadores em seus locais”, alertou a Secretária.
O encontro contou também com um painel sobre LER e depressão, intitulado de “A Depressão Relativa por LER (DRL)”, apresentado pelo psicólogo clínico e do trabalho Antônio Jane Cardoso. O especialista expôs um breve resumo dos principais sinais que o ser humano que está sofrendo com lesões causadas por esforço repetitivo apresenta, como dores contínuas, a frequência com que objetos caem, e sentimento de inutilidade. “O maior problema da LER é que seus sintomas são invisíveis, contudo, ela é evitável mediante prevenção. As pessoas não conseguem se salvar sozinhas, precisam de ajuda, mas os lesionados, em geral, têm dificuldade de buscar tratamento”. Cardoso defendeu ainda a criação da sigla DRL, que se refere à depressão relativa por LER, como uma forma de se lutar de maneira mais ativa para se evitar que esse problema surja como uma consequência das lesões.
A 9ª Semana serviu para que fosse discutido todo o histórico das lesões por esforço repetitivo e a necessidade dos trabalhadores estarem atentos a medidas de prevenção e cuidados com a saúde. Hoje, a LER é a segunda causa de afastamento dos trabalhadores no Brasil. “Esse é o resultado da falta de colaboração dos responsáveis pela saúde daqueles que produzem a riqueza do país. O que enfrentamos é uma contradição entre o capital e o trabalho, em que os trabalhadores estão sujeitos a jornadas extenuantes, a práticas da automação, quando há movimentos repetitivos e contínuos. Precisamos reverter esse quadro, não apenas na lógica do trabalhador estar atento a esses riscos, mas também ao exigirmos dos empregadores medidas que venham proteger esses trabalhadores”, defendeu Débora Melecchi.
No final do encontro, foi divulgada uma carta de recomendações em que estão previstas as principais questões reivindicadas pelas CTB-RS e que servirá também como instrumento de debate para os trabalhadores que participarem da etapa macrorregional da serra (realizada nos dias 21 e 22 de março, em Caxias do Sul), evento este que acontece em preparação para a 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador. ”Buscaremos debater, juntamente com o Governo e no âmbito do sistema de saúde, o que podemos fazer de fato, de ações concretas, para transformarmos essa realidade que nossos trabalhadores estão vivenciando”, finalizou a Secretária da Saúde da CTB-RS.