Representantes sindicais denunciaram aos deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que membros da Polícia Militar estariam impedindo manifestações e promovendo perseguições a trabalhadores durante campanhas por melhorias trabalhistas no Estado. As queixas foram feitas em audiência pública realizada nesta segunda-feira (09), a pedido do deputado Durval Ângelo (PT), para tratar do problema.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem, Geraldo Maria Valgas Araújo, os policiais usam de truculência contra os trabalhadores há muito tempo. Ele denunciou que membros da corporação são vistos dentro das empresas, onde se alimentam e prestam serviço de segurança particular. “São policiais civis, militares e reformados, que criam espécies de milícias, usando o poder público em benefício de interesses privados”, disse.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, João Alves de Almeida, acrescentou que a Fiat persegue os movimentos sindicais dos seus trabalhadores com uso de força policial. Segundo ele, viaturas são vistas dentro da empresa diariamente. Além disso, de acordo com ele, as empresas proíbem seus empregados de se associar, participar e até mesmo ler os informativos dos sindicatos. “O Bola – envolvido no suposto assassinato de Eliza Samúdio a mando do ex-goleiro Bruno – já foi contratado para nos intimidar”, afirmou.
Criminalização
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Marcelino da Rocha, lamentou que a ameça aos direitos sindicais exista há muito tempo sem a devida intervenção do poder público. Para ele, as empresas têm usado o que chamou de “bandidos travestidos de policiais” para sua segurança privada. “Há criminalização dos trabalhadores em todas as categorias. É preciso que a Fiemg pense menos em lucratividade e mais em dialogar com os sindicatos”, salientou, referindo-se à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais.
A repressão policial durante o movimento grevista dos professores em 2011, a Copa das Confederações neste ano e as campanhas salariais da Cemig e outras categorias foi lembrada pela presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), Beatriz Cerqueira. Para ela, o desrespeito com as mulheres tem sido um agravante, e o único diálogo do Estado com os trabalhadores tem sido feito por meio do aparelho repressivo. “Há o uso de tropa de choque, cães, serviço de inteligência e viaturas ocupadas por policiais armados. Não entendo como um grupo de mulheres, muitas delas aposentadas ou em companhia dos seus filhos, pode representar qualquer risco à sociedade”, disse.
Neste contexto, ela acusou o crescimento da violência em Minas Gerais, principalmente pela falta de ações preventivas e repressivas das forças de segurança. “Peço à comissão que participe das manifestações; questione o Estado sobre o efetivo policial nas fábricas, assim como o setor de inteligência que se infiltra nas ações sindicais; e por que a corporação não concentra esforços na proteção da população”, finalizou.
Providências
Ao final, o presidente da comissão, deputado Durval Ângelo, recebeu das mãos dos representantes sindicais um dossiê que comprovaria a ação policial nas empresas privadas. Ele se comprometeu a solicitar o envio das notas taquigráficas da reunião à Organização Internacional do Trabalho (OIT), à Comissão do Trabalho da ALMG, à Corregedoria da PM, à Secretaria de Estado de Defesa Social e à Promotoria dos Direitos Humanos. Para o parlamentar, esses fatos remetem aos tempos de ditadura militar. “Há perseguição, criminalização e violência contra os trabalhadores. Iremos traçar ações para 2014, inclusive em órgãos internacionais, para acabarmos com esse tipo de prática”, concluiu.
Fonte: CTB-MG