A realização do curso de Formação Sindical, nos dia 10 e 11 de outubro, organizado pela CTB-RS, na cidade de Santana do Livramento, teve ampla repercussão entre os sindicalistas que participaram dele, a maioria formada por integrantes da Regional Fronteira.
Coordenado pela Secretária Geral da CTB-RS, Eremi Melo, os professores Adelmo Rodrigues de Oliveira, Secretário de Formação da CTB-MG, e Renato Soares Bastos, Mestre em História Econômica pela USP, ambos do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES), dividiram as aulas em quatro módulos: 1) Origem do sindicato e história do movimento sindical brasileiro; 2) Como fazer análise de conjuntura: 3) Projeto Nacional de Desenvolvimento e Desafios do Movimento Sindical; 4) Sindicalismo Latino-Americano.
“A análise da conjuntura serve para mostrar a realidade e avaliarmos o que está acontecendo atualmente no país; o Projeto Nacional de Desenvolvimento e Desafios do Movimento Sindical nos ajuda a compreendermos qual a nossa tarefa sindical para o atual momento e no módulo sobre o Sindicalismo Latino-Americano, apresentamos exemplos e todas as situações decorrentes, com o objetivo de questionar essa política neoliberal que tanto dano trouxe aos povos do mundo”, sintetizou o professor Adelmo Oliveira, que ministrou esses três módulos.
Já o módulo sobre a origem e a história do movimento sindical brasileiro, lecionado pelo professor Renato Bastos, foi considerado fundamental para os participantes entenderem “que nada do que temos hoje nos foi dado, mas passamos por uma longa e difícil construção histórica, com avanços e retrocessos”.
Segundo Adelmo Oliveira, que é Diretor do Sindicato dos Professores de Minas Gerais, Secretário de Formação da CTB-MG e Formador do Centro de Estudos Sindicais (CES), esse curso de formação destinado aos dirigentes dos sindicatos regionais da CTB é muito importante. “A todo o momento o dirigente sindical enfrenta situações novas porque não existe um ‘manual do sindicalista’, que ensine a ser dirigente sindical. O que vai qualificar o dirigente sindical para atuar frente a essas novas situações é exatamente a formação. Por isso ela se reveste de uma importância muito grande e os sindicatos, as federações e a central sindical tem que dar todo o apoio para a realização desses cursos. Eles servem para formar os dirigentes, os ativistas sindicais e toda a categoria. São três eixos distintos, mas tem em comum nos preparar para os desafios que surgirão porque a realidade é muito complexa e dinâmica, o tempo todo ela está mudando. A formação é que nos permite estar preparado para essas mudanças” analisou.
Esse conteúdo é uma parte da formação que o CES oferece. “É preciso entender que a formação não é só o curso. Ele é muito importante, assim como ler e estudar, mas o fazer cotidiano também é essencial na formação, que é um processo contínuo.”
“O curso que nós ministramos teve uma participação bastante significativa, não só do ponto de vista do número de pessoas, mas também das intervenções muito ricas por parte de quem esteve presente”, destacou Anselmo. “É preciso entender que a formação é uma via de mão dupla: o dirigente sindical ou aquele que vai para a atividade de formação não é uma caixa vazia em que vamos colocar conceitos na sua cabeça. O dirigente sindical tem a sua experiência, trajetória, a história pessoal e daquele ambiente em que vive. A formação tem que levar em consideração todas essas questões. Foi uma atividade bastante rica exatamente porque houve essa troca. Costumo dizer que nós, os formadores, somos quem mais se forma porque cada um desses cursos é um curso para nós.”
“Aliás, da mesma forma que o movimento sindical mundial tem sido protagonista em uma série de processos, no Brasil, em particular, o movimento sindical tem cumprido um papel importantíssimo. E certamente vai ser muito importante o fortalecimento e a organização do movimento sindical para propor alternativas que façam com que esse momento em que a gente está vivendo avance. Está na hora de darmos um salto. O povo brasileiro tem dado um recado muito claro e muita coisa já aconteceu. Agora é hora de se obter mais avanços e para isso o movimento sindical terá uma importância muito grande.”
Com 47 anos, dos quais quase 30 deles na militância sindical e participante do Congresso de fundação da CTB, Adelmo se orgulha de dizer que foi químico em uma indústria, atuou no Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e hoje é professor de Química. “Falo isso para que as pessoas entendam que, para ser formador, o que você precisa é ter vontade. É preciso estudar e ler muito porque o seu conhecimento tem que ser aperfeiçoado, até para ter condições de dar as respostas. Nós temos pessoas na formação que nem são professores de formação. Ou seja, ser formador – e tem muita gente que gostaria – não está fora do horizonte de quem quiser colaborar.”
“A gente viaja o Brasil inteiro e, infelizmente, nem todo lugar é tão articulado como a CTB no Rio Grande do Sul, mas a formação é interessante porque nunca podemos viajar sem um plano B ou C, pois os imprevistos acontecem. Já passamos por cada situação! Por exemplo, preparamos a apresentação com data show, vídeos, fotos e chegamos a um lugar onde não tem energia elétrica. Já andamos em cima de burro ou na garupa de uma moto para chegar a um determinado lugar. Mas são situações que se enfrenta com muita satisfação. Enquanto a gente entender que os nossos dirigentes querem ser formados a fim de estar preparados para dar respostas, nos sentimos estimulados.”
Adelmo faz questão de lembrar que também é dirigente sindical e sabe que problemas aparecem todo o dia. “Os sindicalistas têm que ter a compreensão de que se a gente não se forma, vira enxugador de gelo, está sempre apagando incêndio, correndo atrás do prejuízo e nunca propõe nada de concreto. Então, quando os dirigentes sindicais quiserem ser formados, a equipe do CES enfrenta qualquer dificuldade mais vai com muita disposição.”
Ele conta que viajou 24 horas seguidas – de Divinópolis, cidade situada no centro oeste de Minas Gerais, até Santana do Livramento – para estar presente no Curso de Formação da Regional Fronteira. “Fiz com uma satisfação muito grande porque a importância do projeto de formação é algo que nos estimula. A CTB é uma central sindical que às vezes carece de recursos materiais, mas deixa de privilegiar alguns setores para investir na formação. A partir do momento em que a gente entende que a formação para a CTB é uma questão de prioridade – e a CTB prioriza a formação porque tem um projeto político muito claro – nos sentimos muito estimulados a participar.”
“Em matéria de formação, a CTB do Rio Grande do Sul é uma das mais articuladas e organizadas. A CTB é uma das poucas centrais sindicais que tem claro o que ela quer para o Brasil e esse perfil ideológico nos une. É um diferencial em relação a outras centrais. Nesse sentido a CTB está um passo à frente no que se refere a entender, dar respostas e a propor soluções para um momento em que o Brasil vive, pois estamos chegando a uma encruzilhada. Desde 2003 o Brasil vive o processo da aplicação de uma política antineoliberalismo que nos trouxe enormes avanços. Só que essa política começa a visualizar os seus limites. Então agora é o momento da gente avançar ainda mais. É o momento de discutir, por exemplo, mudanças estruturais no Estado brasileiro. E para que haja essas mudanças, o movimento sindical cumpre um papel muito importante”, projetou o Secretário de Formação da CTB-MG.
A Formação serve para ampliar o papel dos sindicatos
O módulo “Origem do Sindicalismo e História do Movimento Sindical Brasileiro”, ministrado pelo professor Renato Soares Bastos, de 30 anos, teve grande participação dos sindicalistas por contar desde as origens da classe operária brasileira, no final do Século 19, até a atualidade. “Ao resgatar toda a trajetória do movimento sindical brasileiro, que é uma trajetória de luta, muito aguerrida, combativa e muito casada com o projeto de Nação, desperta nos sindicalistas que eles têm um papel muito além do cotidiano, de fazer homologação ou alguma denúncia.”
Para Renato, o processo de formação é extremamente importante. “O cotidiano acaba absorvendo o sindicalista em várias tarefas. Ele entra em uma rotina e vai perdendo a visão mais ampla do seu papel na sociedade. Quando se faz um curso de formação é para conversar com o sindicalista que está lá na base sobre temas que normalmente ele não discute e que vai abrir novos horizontes, resgatar novas perspectivas. Muita gente que assistiu o curso sobre a História do Movimento Sindical no Brasil sequer passou pelo que aconteceu na década de 1980.”
“A gente costuma dizer que os três papéis do sindicato são a luta econômica – o que geralmente eles fazem bem porque é a alma do sindicato – mas junto com ela é preciso fazer a luta política e a luta ideológica. O trabalho de formação serve para ampliar o papel dos sindicatos, levá-lo mais à luta política e à luta ideológica. O Centro Nacional de Estudos Sociais (CES) desenvolve esse trabalho há 28 anos, uma trajetória que é fruto do processo de redemocratização do Brasil. Ele tem uma gama de cursos que são desenvolvidos nos sindicatos, através de convênios com federações, confederações, centrais sindicais e sindicatos interessados. Há um leque de cursos de formação básica e de gestão sindical, as duas principais áreas de atuação do CES”, lembrou o mestre em história da USP.
O convênio com a CTB tem dado um resultado extremamente gratificante. Nos últimos cinco anos cerca de oito mil sindicalistas participaram dos nossos cursos, uma quantidade bem considerável, sem contar aqueles que não fazem parte da CTB.
“É sempre uma felicidade participar de cada curso de Formação porque plantamos ali uma semente. Não se trata de depositar conhecimento nas pessoas, mas despertar aquela chama que fez com que entrassem no movimento sindical e a sua importância no conjunto da sociedade. No Rio Grande do Sul, o CES tem uma parceria que já é antiga porque é uma CTB que sempre investe em formação.”
“A prática de descentralizar a Formação pelas regionais é algo extremamente importante porque se fosse realizado somente em Porto Alegre, não haveria a presença de todas as pessoas da Fronteira. Por isso, os cursos de formação nas regionais da CTB vão atingir uma área muito maior do Estado e deixarão as Regionais mais fortalecidas. Esperamos que renda frutos, tendo uma base muito mais combativa na CTB, que tem feito um trabalho importante de ir ao encontro das suas Regionais”, elogiou o pesquisador da CES.
CTB-RS vai ampliar cursos de Formação em todas regionais
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS), Guiomar Vidor, destacou a importância dos cursos de formação e a necessidade dos participantes se tornarem formadores junto aos seus sindicatos. “Decidimos intensificar a formação política e sindical dos nossos dirigentes para que a gente possa fazer frutificar a partir daqui. Por isso, os conhecimentos adquiridos nesse curso de formação não podem ficar apenas dentro de nós, é preciso que ele seja reproduzido para que se possa avançar. Os cursos de formação serão feitos em todas as regiões e o resultado disso é que vamos avançar cada vez mais e ocupar espaços no Rio Grande do Sul, onde já temos mais de 130 entidades filiadas. É bastante para quem tem cinco anos e muito pouco para o que esperamos fazer.”
“Não podemos ficar só formando dirigentes sindicais mas precisamos ter, nos locais de trabalho e nas fazendas, pessoas com consciência política e sindical porque a partir daí vamos ampliar a consciência de classe dos demais trabalhadores. Pretendemos investir bastante para entrarmos em um novo momento político e queremos que os trabalhadores tomem conhecimento das lutas que os dirigentes da CTB estão fazendo e se incorporem nesse movimento, a fim de que a gente dê um salto de qualidade em cada uma das nossas regiões a fim de identificar lideranças políticas e intensificar a formação dos nossos trabalhadores”, concluiu o presidente da CTB-RS.
Fonte: CTB-RS