12 de outubro: garantir proteção e saúde para as crianças é dever de todos

No próximo sábado (19) Vinicius de Moraes completaria 100 anos, quando a CTB publicará uma homenagem ao poeta e compositor. Porém, neste sábado (12), Dia das Crianças a homenagem fica por conta de sua produção dedicada ao público infantil. A obra do poetinha, como era chamado, leva a reflexões sobre o tratamento dispensado às crianças no país e no mundo e propõe uma transformação respeitando as crianças como seres em fase de desenvolvimento.

No Brasil essa questão ganhou relevância com a promulgação da Constituição de 1988, que garantiu a essa parcela da população o acesso á educação, à saúde, ao lazer, a segurança como obrigações do Estado e da sociedade. Em 13 de julho de 1990 entrou em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com definição clara de como elas devem ser tratadas. O ECA determinou todas as formas de garantir proteção e desenvolvimento saudável às crianças.

Justamente porque segura os direitos dos mais jovens, o ECA tem sido solapado pelos setores conservadores que inclusive defendem a redução da maioridade penal para 16 anos para encher as cadeias com gente cada vez mais jovem. Violações aos direitos da infância estampam diariamente as páginas dos jornais, sendo que muitas dessas violências são cometidas dentro dos lares por quem deveria proteger seus filhos. Além de transgressões que lhes tira o direito à infância. Não lhes garantem atos simples que fazem parte de um desenvolvimento saudável como o ato de brincar e lhes impõe o trabalho como obrigação, quando não fazem coisas piores.

Lógico que todo dia é dia da criança, mesmo aquela que dorme dentro da gente e desabrocha com o sorriso de uma criança que pede colo. Assim é a obra de Vinicius de Moraes. Dá colo às crianças e alento de um futuro melhor aos adultos. A Sony relançou os dois discos do escritor multimídia. A Arca de Noé (1980) e A Arca de Noé 2 (1981) com suas 27 canções, a maioria em parceria com Toquinho e eternizadas nas vozes de Elis Regina, Chico Buarque Tom Jobim, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, As Frenéticas, Elba Ramalho, Clara Nunes, entre outros.

Em Valsa para uma Menininha o poeta denuncia a opressão sofrida pelas mulheres e conclama a menininha a não crescer porque a “vida é ruim”:

“(…) Menininha, que graça é você

Uma coisinha assim

Começando a viver

Fique assim, meu amor

Sem crescer

Porque o mundo é ruim, é ruim

E você vai sofrer de repente

Uma desilusão

Porque a vida é somente

Teu bicho-papão (…)”

Como não poderia deixar de ser, boa parte dos personagens são bichos, que sugerem a delicadeza como forma de relacionar-se com a vida e com o mundo. O Pato, A Foca, As Abelhas, A Formiga, O Leão, A Corujinha, O Gato e vários outros. Mas sintetiza o tema na belíssima Os Bichinhos e o Homem. Ele fala da “irmã mosca”, do “irmão besouro”, da “irmã barata”, do grilo, do carrapato, do bicho-do-pé, da borboleta e ataca no final o bicho-homem:

“(…) E o homem que pensa tudo saber

Não sabe o jantar que os bichinhos vão ter

Quando o seu dia chegar

Quando o seu dia chegar”

Mas duas canções entre essas canções essenciais para qualquer discoteca sobre a música infantil merecem ser destacadas pelo desempenho que tiveram e são sempre muito lembradas. A Casa brinca com a questão de morar bem, isso no início dos anos 1980 quando milhares de famílias não tinham nenhum teto e muitos ainda não têm:

“Era uma casa muito engraçada

Não tinha teto, não tinha nada

Ninguém podia entrar nela, não

Porque na casa não tinha chão

Ninguém podia dormir na rede

Porque na casa não tinha parede

Ninguém podia fazer pipi

Porque penico não tinha ali

Mas era feita com muito esmero

Na rua dos bobos, número zero”

A outra destacada para homenagear todas as crianças ganhou o nome de O Filho que Eu Quero Ter. Uma ode ao ato de ser pai com todas as alegrias e responsabilidades que isso acarreta:

“É comum a gente sonhar, eu sei

Quando vem o entardecer

Pois eu também dei de sonhar

Um sonho lindo de morrer

Vejo um berço e nele eu me debruçar

Com o pranto a me correr

E assim, chorando, acalentar

O filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho

Dorme que a noite já vem

Teu pai está muito sozinho

De tanto amor que ele tem (…)”

Que a obra infantil do grande poeta e músico carioca leve a todos a repensarem o relacionamento com seus filhos e tratem de protegê-los quando necessitam de proteção, mas lhes garantam liberdade par crescerem autônomos, independentes e dessa forma tornem-se adultos capazes de transformar o mundo num local bom de viver. Vale a pena conferir o documentário Invenção da Infância, de Lilian Sulzbach, uma crítica à transformação das crianças em meros consumidores. Feliz Dia das Crianças para todos. 

Por Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

Trailer de Invençâo da Infância (2000), de Lilian Sulzbach:

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Vídeos de músicas:

O Pato (Vinicius de Moraes e Toquinho, com MPB4)

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A Corujinha (Vinicius de Moraes e Toquinho, com Elis Regina)

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O Filho Que Eu Quero Ter (Vinicius de Moraes e Toquinho, com Chico Buarque)

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A Arca de Noé (1980)

 1. “A Arca de Noé” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

2. “O Pato” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

3. “A Corujinha” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

4. “A Foca” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

5. “As Abelhas” (Vinicius de Moraes e Bacalov)

6. “A Pulga” (Vinicius de Moraes)

7. “Aula de Piano” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

8. “A Porta” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

9. “A Casa” (Vinicius de Moraes)

10. “São Francisco” (Vinicius de Moraes e Paulo Soledade)

11. “O Gato” (Vinicius de Moraes, Bacalov e Toquinho)

12. “O Relógio” (Vinicius de Moraes e Paulo Soledade)

13. “Menininha” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

14. “Final” (Orquestrado)

A Arca de Noé 2 (1981)

1. Abertura – “A Arca de Noé” (Vinicius de Moraes)

2. “O Leão” (Vinicius de Moraes e Fagner)

3. “O Pinguim” (Vinicius de Moraes, Paulo Soledade e Toquinho),

4. “O Pintinho” (Pipo Caruso, Vinicius de Moraes, Sérgio Bardotti, Gilda Mattoso e Toquinho)

5. “A Cachorrinha” (Vinicius de Moraes e Tom Jobim)

6. “O Girassol” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

7. “O Ar (O Vento)” (Vinicius de Moraes, Toquinho e Bacalov)

8. “O Peru” (Vinicius de Moraes, Paulo Soledade e Toquinho)

9. “O Porquinho” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

10. “A Galinha d’Angola” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

11. “A Formiga” (Vinicius de Moraes e Paulo Soledade)

12. “Os Bichinhos e o Homem” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

13. “O Filho que Eu Quero Ter” (Vinicius de Moraes e Toquinho)

 

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