George Mavrikos: Trabalhadores devem estar organizados em sindicatos com orientação de classe

O 3º Congresso Nacional da CTB contou com a participação de dezenas de convidados internacionais, entre eles o secretário-geral da Federação Sindical Mundial, George Mavrikos.

 Confira abaixo a íntegra do discurso proferido por Mavrikos na Abertura do 3º Congresso:

Queridos Camaradas da CTB,
Querida Classe Operária do Brasil,
Camaradas e amigos de todo o Continente Americano,

Saudamos o Congresso da CTB, uma organização sindical de luta que defende incansavelmente os interesses da classe operária no seu país e região.

A CTB apoiou e continua a apoiar a Federação Sindical Mundial no novo curso dinâmico que a FSM tem tomado ao longo dos últimos anos com memoráveis e decisivos atos no interesse da classe trabalhadora internacional.

Novos membros de todos os continentes vêm se organizando na FSM nos últimos sete anos.

Dias de Ação Internacional vêm sendo organizados pela FSM para tratar de todos os assuntos cruciais que preocupam a classe trabalhadora. A CTB tem participado com sucesso deles e organizado atividades no Brasil nesses dias, congratulamo-nos por isso mais uma vez.

A FSM organiza muitos eventos internacionais, assim como conferências, reuniões, encontros, fóruns para facilitar a troca de experiências e a tomada de posições e ações comuns em nível internacional. A FSM tem intensificado seus esforços para a organização de programas de formação sindical, particularmente útil nas condições contemporâneas da luta de classes. A FSM está marcando presença e intervenção nas Organizações Internacionais como a ONU, em Nova York, a FAO, em Roma, a UNESCO em Paris, a OIT, em Genebra.

A FSM publica materiais úteis e ricos em nível internacional e que, geralmente, têm uma imagem dinâmica, moderna, confiável, que mais e mais organizações apoiam e acreditam que assim a luta de classes ganha terreno e se torna mais forte.

Todos concordamos que demos passos importantes, a FSM está viva, é ativa, tem presença, tem uma voz, orientação classista. Reconhecemos que estamos num curso ascendente. Esta é a verdade. Alguns estão muito preocupados com este curso. Mas fora disso, todos os nossos amigos, os membros da FSM estão muito felizes, sentem-se orgulhosos por esta trajetória que é resultado do esforço comum de todos os nossos membros e amigos, de todos os nossos quadros em todos os continentes e setores.

Em nome de toda a liderança da FSM, gostaria neste importante Congresso da CTB, de agradecer a todos os nossos quadros em seus países e em seus setores que lutam constantemente, honestamente, sem medo das dificuldades e da autocracia dos capitalistas e seus governos.

Estamos comprometidos em continuar esta trajetória.

No entanto, não podemos ficar satisfeitos quando, em nível internacional, a classe trabalhadora está sendo pressionada contra a parede por um ataque sem fim contra os direitos trabalhistas, as horas de trabalho, a negociação coletiva, a previdência social, a idade de aposentadoria e os direitos dos aposentados, os sistemas públicos de educação e saúde, a moradia segura e de baixo custo, etc.

Podemos estar satisfeitos quando nossos colegas perdem a vida todos os dias nos locais de trabalho por acidentes de trabalho fatais ou quando parte da classe operária e das camadas populares sofre com a agressividade imperialista e a competição pelos recursos produtores de riqueza na África, no Ásia e na América Latina?

Podemos estar satisfeitos quando, apesar das enormes possibilidades produtivas e necessidades existentes da população, milhões de jovens e outros trabalhadores estão fora da produção, da criatividade e da contribuição para a sociedade, por estarem desempregado?

Podemos ser felizes quando as multinacionais de todo o mundo estão tendo uma explosão de sucesso com o petróleo, os diamantes, o ouro, o urânio, a produção agrícola, a água, o ar, a riqueza natural e mineral ao invés de darem soluções aos críticos problemas sociais?

Em tais momentos, é dever de cada sindicalista íntegro, classista, consciente e determinado pensar seriamente: por que os problemas dos trabalhadores aumentam, mas a resposta do movimento dos trabalhadores não está crescendo, de acordo com as expectativas?

Hoje, temos de perceber que há cada vez mais milhões de desempregados, sem-teto, que vivem na pobreza, grandes massas da nova geração diante de um futuro precário, mas, no entanto, por que uma parcela significativa destes estratos populares não participa ativamente do movimento sindical? Será que não confiam na ação coletiva?

Estamos na conjuntura de uma crise capitalista profunda e prolongada, mas as lutas dos trabalhadores, sua participação nas lutas e os seus resultados não estão crescendo de acordo com as necessidades.

Apenas o movimento sindical classista pode colocar, discutir e projetar tais pensamentos e tal perspectiva com essas características. Apesar desses debates, podemos trazer o movimento sindical em nível nacional ou setorial mais perto da formação de uma proposta que será contemporânea e vital, para o renascimento das organizações sindicais internacionais e regionais, reforçando seu grande papel como escola, ferramenta que fornecem soluções para os problemas dos trabalhadores e trarão o sucesso da nossa luta pela abolição da exploração capitalista.

O 16º Congresso Internacional da Federação Sindical Mundial, que foi realizado em abril de 2011, em Atenas, Grécia abordou todas essas questões candentes e concluiu, depois de uma discussão substancial, ampla e coletiva, sobre alguns princípios orientadores significativos para o tipo de movimento que queremos e o movimento que precisamos. O que devemos mudar, o que devemos deixar para trás e como devemos seguir em frente com ousadia e fé aos nossos princípios e à experiência do movimento em todos os continentes.

Porque todos nós concordamos que a reconstrução do movimento classista internacional em um movimento forte, com orientação de classe, de massa, equipado com a experiência do passado, a fim de evitar as armadilhas e erros. Um movimento determinado a liderar o movimento popular para o confronto com monopólios e organizações capitalistas, com elementos fortes de solidariedade internacionalista e com a percepção de que a luta nacional está interagindo com a luta internacional, é mais do que necessário.

É nossa opinião que a organização metódica e decisiva de novos membros para os sindicatos é uma disposição fundamental para a reconstrução do movimento sindical.

A classe trabalhadora deve estar organizada em sindicatos com orientação de classe. Os sindicatos devem ser a voz da classe trabalhadora, o seu representante genuíno e devem ter maior presença em todos os setores cruciais básicos da economia, nas grandes indústrias, o lugar onde uma grande parte da juventude, as mulheres, os trabalhadores migrantes trabalham, deve ter atenção especial para a primeira organização e, acima de tudo, da parte mais profundamente explorada e de vida árdua da classe trabalhadora.

Nossos sindicatos devem reforçar diariamente a sua função aberta e democrática, fornecendo espaço para os seus membros expressarem sua opinião e contribuírem ativamente na prática, deve se ampliada a crítica, a autocrítica e o estimulo da camaradagem. A direção e as posições de liderança devem incluir jovens, mulheres e trabalhadores migrantes. Líderes eternos não deveriam existir. Não queremos sindicatos que são fechados, sindicatos de uma pequena elite que compartilha as mesmas posições, viagens e benefícios. Devemos combater o carreirismo, a burocracia e a corrupção. Devemos evitar o individualismo e projetar os valores da coletividade, o interesse de classe comum, o humanismo e a fraternidade.

A provisão crucial para a reconstrução do movimento sindical classista, em todos os níveis, é o papel das bases. Devemos ajudar as bases a tornarem-se os verdadeiros protagonistas, as bases devem tomar as decisões. Se as bases estão na posição de controle e avaliação, então, podemos acreditar que o curso para o reavivamento e a reconstrução dos sindicatos será menor e melhor sucedido.

A formação da consciência de classe é a próxima medida essencial. Os sindicatos classistas devem unir os trabalhadores por setor e por região, para que possam formar laços com consciência de classe entre os trabalhadores, para que todos nós sejamos parte da classe trabalhadora, irmãos de classe, na verdade, independentemente da nossa posição na linha produtiva.

Deve ser compreendido em profundidade que, além dos altos preços, a corrupção, o desperdício de dinheiro público, as propinas e a política de isenção de impostos para os empresários, a exploração da força de trabalho é algo muito maior e mais profundo. É o nosso futuro versus o lucro dos capitalistas. O trabalhador deve pensar como parte de sua classe e estar determinado e preparado em cada momento da luta.

O cultivo da consciência classista nos ajuda a unir todos os trabalhadores de uma entidade que se baseia nos interesses comuns da nossa classe. Somos capazes, desta maneira, de unir todos os trabalhadores para as demandas imediatas e diretas e, ao mesmo tempo, uni-los para a vitória final sobre o sistema da barbárie capitalista.

A consciência de classe vai colocar de lado as teorias raciais extremistas que visam a dividir a classe trabalhadora tanto local como internacional, e é o que protegerá a todos nós de ilusões reformistas, e nos dará confiança nos momentos mais difíceis de a luta longa e difícil que estamos realizando.

Ao mesmo tempo, uma disposição básica para a reconstrução do movimento operário é a seleção de reais e estáveis aliados. Aliados da classe trabalhadora são todos aqueles que são prejudicados pelos monopólios em  sua atividade e não exploram a força de trabalho. A construção de um poderoso e eficaz movimento popular (e eficaz) não pode se tornar uma realidade sem a aliança com os pequenos agricultores, os trabalhadores independentes, os jovens e as mulheres das camadas populares. O acúmulo de forças, em torno da classe trabalhadora, suas metas e objetivos, é uma condição básica para o caminho a seguir.

Finalmente, há uma necessidade diária para o aprimoramento do caráter internacionalista do movimento da classe trabalhadora. Cada luta realizada em nível nacional reflete e ilumina o caminho para dezenas de países, fortalecendo o movimento internacional. Cada sindicato nacional, como parte do movimento sindical com orientação classista internacional tem o dever, para com a classe trabalhadora internacional, de lutar com todas as suas forças para a intensificação da luta em seu país. Além disso, cada sindicato que passa por dificuldades, sofre agressões, ameaças e sente os obstáculos de cada luta, deve ver a necessidade de se tornar um defensor das lutas travadas em outros países e mesmo em outros continentes.

Dessa maneira, fortalecem seus colegas e os estimulam a continuar lutando e enfrentando receios e preocupações com os governos e os empregadores.

Em uma época onde há uma grande interconexão e inter-relação entre os países e suas economias, bem como a uma intensa atividade das multinacionais em todos os setores, o desenvolvimento de lutas comuns desempenha um papel crucial. O esforço que o FSM tem sido trabalhar para fortalecer a UIS que é uma decisão muito importante, com papel significativo para o presente e o futuro.

Queridos camaradas e amigos,

O esforço para a reconstrução, o reavivamento e o fortalecimento do movimento sindical com orientação classista é um processo contínuo e ininterrupto, de forma a que, em cada época, possamos expressar com sucesso os interesses reais da classe trabalhadora, a fim de defender e atender com eficácia as necessidades contemporâneas na vida de todos os assalariados.

Ao intensificar as características aqui apresentadas sucintamente, acreditamos que podemos fazer nossos sindicatos mais vivos, mais atraentes e mais eficazes para as expectativas contemporâneas da classe trabalhadora, em todos os cantos do planeta. Ao melhorar esses elementos e ainda mais, de acordo com o nível de cada país e setor, podemos ser otimistas e acreditar que estamos fazendo o nosso dever para com o nosso tempo e simultaneamente estamos construindo as bases para as próximas gerações.

Todas estas disposições se tornam significativas e poderosas quando se tem uma bússola constante. Quando sabemos para onde queremos ir. E queremos trazer o Novo, que nasce hoje, em cada greve pequena ou grande, em cada pequena ou grande manifestação, queremos uma sociedade onde a prosperidade, a criatividade, a produtividade e a solidariedade possam tomar o lugar da podridão do lucro, das guerras imperialistas e da exploração do homem pelo homem. Queremos uma sociedade onde a classe trabalhadora tenha o poder e a autoridade, e onde a exploração seja deixada para trás.

Com estes pensamentos, desejo todo o sucesso ao seu Congresso e mais uma vez, assumo frente a vocês o compromisso de que a FSM continuará nosso caminho comum e nossas lutas fraternas comuns.

Obrigado.
São Paulo, 22 de agosto de 2013

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