O Brasil necessita de ‘Mais Médicos’

A presidenta Dilma Rousseff nem sequer terminou de anunciar a ampliação das vagas de residência médica e contratação de milhares de médicos, inclusive profissionais estrangeiros, para que a categoria respondesse nos sucessivos protestos: não queremos médicos estrangeiros. Por sorte, uma parte grande desses profissionais da saúde não bebe na fonte da disciplina, e faltaram até nas suas manifestações. Conversa pra lá, confabulações pra cá e até rimas inventaram: médico na rua, Dilma a culpa é sua! A essa altura do campeonato sem tanta explicação, para bom entendedor, meia palavra há de bastar: no Brasil médico defende o médico e não uma medicina humanizada com o sentido que cuidar do outro é cuidar de mim. Medicina virou comércio; paciente é cliente, o que indica que as universidades do Brasil formam ou deformam médicos empresários; ou, no mínimo, que a lição de humanizar a medicina não foi aprendida direito.

Por outro lado, enquanto o crescimento da infraestrutura no setor da saúde pública alcançou 72,3% nos últimos anos, como resultado dos investimentos do Governo Federal, a oferta de médicos formados no Brasil apenas capengou os 13,4%. Diante da situação as medidas foram anunciadas, como é o caso do Pacto Nacional pela Saúde. O pacto pela saúde contempla a aceleração dos investimentos já contratados para melhorar a estrutura da rede pública do Brasil. Os investimentos, que superarão os R$ 7,4 bilhões na construção, reforma e compra de equipamentos para postos de saúde, Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), e os hospitais, nestes momentos de crise se tornam imprescindíveis para acelerar o ritmo das mudanças na saúde pública. Está claro que é necessário melhorar a estrutura, porém dizer que a população só reivindica isso, não é mais que “conversa para boi dormir” e, diga-se de passagem, a estrutura da Atenção Básica está melhor que ontem e o que se clama pela sociedade é presença do médico. Mais de 700 cidades do país não possuem um médico residindo no município, além de 1,9 mil municípios com menos de um médico por 3 mil habitantes, por isso dizer que no Brasil não faltam médicos é no mínimo um argumento pífio da elite médica conservadora, cartorial e burocrática.

Com o quadro caótico no setor assistencial, que se resume também a distribuição desigual dos médicos, unido a deficiência numérica dos profissionais, a miopia na ótica corporativista das entidades médicas do Brasil, cabresteadas pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) insistem que o número desses profissionais é suficiente, quando suficiente são os médicos para a classe média e alta, que atendem no conforto de suas luxuosas clínicas particulares e defendem posições esdrúxulas para manter o caos no setor que faz movimentar o mercado privado da saúde no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que o Brasil possui 17,6 médicos para cada 10 mil pessoas, enquanto a Áustria possui 48 médicos a cada 10 mil cidadãos, contra 40 na Suíça, 37 na Bélgica, 34 na Dinamarca, 33 na França, 36 na Alemanha e 38 na Itália.

Ante tal situação, primeiro o governo criou o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), para levar médicos às áreas desprovidas de cobertura. A demanda era de 13 mil trabalhadores, mas apenas 3,8 mil postos foram preenchidos, apesar do salário de 8 mil reais que é oferecido, agora aumentado para 10 mil. Com o fracasso do Provab, foi criado o Programa Mais Médicos, que visa melhorar o atendimento aos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde), ampliando o número de médicos no país e qualificando sua formação. O programa é uma medida adequada à conjuntura para dar passos maiores no futuro, por isso é de suma importância sua funcionalidade mesmo com todas as agressões. A primeira e mais forte hostilidade já está sendo investigada pela Polícia Federal, quando o Ministério da Saúde recebeu denúncias de que grupos estão se mobilizando nas redes sociais para inviabilizar o programa, existindo possibilidade de uma mobilização dos médicos para gerar um alto número de inscrições e, em seguida, provocar desistência em massa, com a intenção de atrasar o cronograma do programa impedindo a entrada de médicos estrangeiros.

O “Programa Mais Médicos” também contemplará milhares de médicos brasileiros formados no exterior e que não pode exercer a profissão. O caso mais expressivo são o dos brasileiros formados em Cuba, país que é reconhecido mundialmente pela excelência no sistema de saúde e cuja proficiência é atestada pela Organização Mundial da Saúde.

O governo cubano oferece bolsas de estudos gratuitamente por 6 anos, tempo do curso de medicina. Diferente da cantilena enfadonha e inverídica de muitos médicos, não é necessário estar ligado a nenhum partido político ou movimento social para ter direito a uma bolsa de estudos em Cuba. O curso de medicina possui a mesma grade curricular e carga horária dos cursos nas universidades brasileiras e os estudantes não recebem nenhuma aula de orientação política ideológica, apenas aprendem que o médico deve ser de ciência e consciência.

A verdade, como disse um velho amigo, é um horror para o reacionarismo de branco assistir médicos da ilha de Fidel, muitos entre eles negros, pegando no batente em locais para os quais seus colegas brasileiros viram as costas e tapam o nariz. A nudez de seu comportamento lhes seria insuportável.


Hermann Hoffman, publicado no site Aditel

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