O balanço das eleições municipais de 2008, encerradas no último domingo (26-10) com a realização do segundo turno em algumas capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores, revela um avanço dos partidos progressistas, de esquerda (PCdoB, PSB, PT e PDT), que elegeram prefeitos em 11 capitais e cresceram significativamente em número de votos e candidatos vitoriosos.
A base municipal do governo Lula, que não inclui apenas os partidos de esquerda, mas também, cresceu fortemente e vai governar 72% do eleitorado brasileiro, incluindo 20 das 26 capitais. PT e PMDB conquistaram seis capitais cada, enquanto PSB, PTB, PP, PCdoB e PDT ficaram com oito. A situação no Congresso Nacional reúne 16 partidos (PT, PMDB, PSB, PDT, PCdoB, PRB, PR, PP, PTB, PV, PSC, PMN, PHS, PCdoB, PTC e PRTB.
Oposição encolheu
Os partidos que fazem oposição (DEM, PSDB e PPS e PSOL) encolheram e representam somente 28% do eleitorado. Conforme avaliou o presidente Lula, em entrevista ao jornalista Ricardo Kotoscho, esses três partidos “foram os que perderam mais prefeituras, enquanto os partidos da base do governo, todos eles, cresceram”.
Todavia, é preciso ressaltar que os partidos da direita neoliberal (PSDB e DEM), embora arranhados, também colheram vitórias importantes, destacando-se o caso da capital paulista, uma metrópole com 11 milhões de habitantes que ficou nas mãos da aliança DEM-PSDB . A mídia capitalista (“Folha de São Paulo”, “Estadão” e “Uol”) fez campanha aberta para o “demo” Kassab e comemorou fartamente o resultado como um sinal de fortalecimento da candidatura José Serra a presidente.
Correlação de forças
Na nota que divulgou sobre as eleições municipais, a direção nacional da nossa CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) salientou que o pronunciamento das urnas vai repercutir nas eleições quase gerais que deverão ser realizadas em 2010, destinadas a renovar o Congresso Nacional, assembléias legislativas, governos estaduais e Presidência da República.
“O pleito municipal convocado para 5 de outubro”, sublinhou a direção da Central, “constitui uma das mais importantes batalhas políticas do país neste ano. Nele não serão decididos apenas os rumos administrativos dos municípios. O resultado das eleições será determinante da correlação de forças para a disputa de 2010 pela Presidência da República, governos e legislativos estaduais e Congresso Nacional.”
O desafio da crise
A nova correlação de forças que nasceu do pleito de outubro parece favorável aos partidos e organizações progressistas, mas não afasta a possibilidade de retrocesso neoliberal. A forma com que a mídia capitalista retratou o resultado do segundo turno e comemorou a vitória em São Paulo é um sinal inequívoco de que a direita não só não está morta como dispõe de reservas e instrumentos poderosos para a luta política, o que transformará o sufrágio de 2010 numa batalha de vida ou morte.
É preciso ter consciência de que muita água ainda vai rolar ao longo dos quase dois anos que nos separam das eleições presidenciais. O Brasil e o mundo estão a mergulhar numa crise de duração e dimensão inédita, conforme observou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“Vamos ter um forte impacto na atividade econômica, na economia real, e no mundo todo vai desacelerar e isso está ficando nítido agora”.
Mudanças na macroeconomia
Assim como a popularidade de Lula é conferida, em larga medida, pelo desempenho favorável da economia, do mercado de trabalho e da distribuição de renda, a moral e credibilidade do presidente e dos partidos de esquerda dependerão da forma como o governo pilotará o país doravante, da resposta que será dada à crise. Isto, em certa medida, ainda é uma incógnita.
O governo já deixou claro que não pretende adotar a dieta recessiva recomendada pela direita neoliberal e o FMI. A intenção é boa, porém não basta. O Brasil já está sofrendo um processo de fuga de capitais e, como afirmou o presidente da CTB, Wagner Gomes, é imperioso adotar medidas imediatas e corajosas para proteger as reservas, controlar o câmbio e a conta de capitais, reduzir as taxas de juros e o superávit primário, expandir o crédito e investimentos públicos, preservar o emprego e o crescimento. É preciso contornar o risco de um novo vôo de galinha e dar a resposta certa à crise global, mudando a orientação da política macroeconômica para obter um saldo positivo em 2010.
Por Gilda Almeida, Secretária de Defesa do Meio Ambiente