“Educação e formação de boa qualidade representam as garantias de competitividade a todos os brasileiros e é isso que a política de cotas busca corrigir – esse quadro de discriminação e porque não dizer –, ‘abismo’ entre negros e brancos. Queremos ter acesso a todos os setores”. Essas afirmações foram feitas pelo Professor da USP, recém aposentado e residente no Brasil há 15 anos, Kabengele Munanga, durante a Conferência “Diálogo com os cotistas: construindo um futuro melhor”.
Com ampla participação da comunidade estudantil ligada à universidade e de escolas públicas, público interessado no assunto, intelectuais, docentes e representantes de sindicato, como a Assufba (Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da UFBA e UFRB), que lotaram o auditório, foi debatida a política de cotas raciais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira, na manhã do dia 15/04(segunda).
A Conferência promovida pela Universidade do Recôncavo da Bahia, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis teve como convidado o professor Kabengele Munanga, graduado em Antropologia Cultural pela Université Officielle Du Congo à Lubumbashi e doutor em Ciências Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. O mediador da conferência foi o Pró-Reitor de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis da UFRB, Ronaldo Crispim Senna Barros.
Kabengele Munanga é professor titular da USP, representante do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo, autor de mais 40 artigos acadêmicos e de mais de uma dezena de livros sobre raça, racismo, relações raciais e cultura negra e é uma das principais referências no pensamento anti-racista no Brasil.
Diálogo
Munanga abriu a conferência apresentando um dado gritante. “Após 125 anos de escravidão, as taxas de alfabetismo ainda são baixas e as taxas no ensino superior são ainda menores no país, o que significa que apenas 4% de negros tem diploma de nível superior diante de um quadro de 52% de afrodescendentes no país”.
Munanga que foi o primeiro professor negro a ingressar na USP diz que desde 2001 quando a política de cotas efetivamente começou a ser discutida e implantada em universidades estaduais e federais muito foi dito no país de que a política de cotas raciais era importada e de que as cotas violariam o principio do mérito. “Provamos que por meio de programas de ação afirmativa o número de ingresso e de diplomados no ensino superior chegou a um índice jamais alcançado em todo o século anterior”, ressaltou o professor.
Para o professor Osmundo Pinho, coordenador de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRB, “o significado político da inclusão social se dá através das cotas raciais que são um mecanismo democrático já que permitem que negros e indígenas consigam ter acesso à educação de qualidade e chegar a setores da vida nacional onde nunca antes poderiam imaginar representados”.
Mitos
O Pró-Reitor de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis da UFRB, Ronaldo Crispim Senna Barros diz que a Universidade resolveu promover a conferência sobre a política de cotas numa perspectiva de futuro por entender que é preciso fazer a formação dos acadêmicos em ações positivas.
“Muitos mitos e preconceitos vem sendo apresentados sobre as cotas raciais. Entre os mitos está o de que baixaria a qualidade no ensino, a universidade ter em seu quadro estudantes não qualificados. As pesquisas vem mostrando exatamente o contrário: os cotistas vem alcançado em muitos casos resultados superiores aos estudantes não cotistas em muitas das unidades de ensino”. Para o Pró-Reitor da UFRB em Cachoeira, “a universidade é o espaço da diversidade, quanto mais diversa, melhor e que para enfrentar vários mitos e preconceitos, a formação é o melhor caminho”.
Para o coordenador de Formação Sindical da ASSUFBA Sindicato, Antônio Bomfim Moreira, “As políticas de acesso ao ensino superior através das cotas raciais são um avanço, mas a universidade precisa avançar mais. Hoje, 80 universidades realizam as cotas. Precisamos ampliar esses números para permitir que mais negros sejam inseridos nas universidades, estudantes que por razões históricas e culturais encontraram barreiras que agora não são mais intransponíveis”.
Fonte: Assufba