“Acorda ABC” é o projeto de um grande encontro, na realidade, um “tudo junto e misturado” dos movimentos sociais, que visa mobilização para buscar depoimentos, pesquisar e denunciar os crimes da ditadura militar (1964-1985) na região do grande ABC, que vem a somar à luta pela abertura dos arquivos da ditadura militar que está ligado à Comissão Nacional da Verdade no Governo Federal. O projeto vem sendo desenhado desde novembro do ano passado e teve seu primeiro ato público na noite do dia 27 de Março de 2013, no Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá – Santo André/SP.
O Coordenador do evento, Adonis Bernardes, diretor executivo do Centro de Memória do Grande ABC, enfatizou sobre a necessidade de discutirmos com mais afinco sobre o projeto e seu futuro e que o mesmo é importante porque traz a necessidade de diálogo com as diversas forças políticas que atuam no movimento social. Apoiando o movimento, a fala de Cícero Martinha, presidente do sindicato, foi na linha de denúncia e salientou que “o imperialismo americano foi fonte de incentivo ao golpe militar de 64 e que o sindicato também está na luta pela abertura dos arquivos”.
Uma das falas mais entusiasmadas foi a do já conhecido pela luta sindical e classista da região, o camarada Marcelo Toledo, que é um dos idealizadores e dirigentes do projeto. Falou do “atraso que representou a ditadura militar para o Brasil”, da censura na cultura, da repressão e o ataque aos direitos humanos, bem como, relembrou a Guerrilha do Araguaia e a importância de “bradarmos à memória”.
Fátima de Carvalho, presidenta do SindServ Santo André, disse rapidamente que essa “interrupção na história e do avanço do país não pode ficar impune”. A representante da Comissão da Verdade, Vivian Mendes, informou das dificuldades encontradas pela comissão para a abertura dos arquivos e de que é preciso “ambiente de unidade política”. Esteve presente também para saudar o evento o Secretário de Esporte, Cultura e Lazer de Santo André, Raimundo Salles.
A atividade foi marcada por fortes emoções, como a mesa composta por depoentes que nos passaram informações a respeito da opressão da ditadura militar no ABC. Um dos depoimentos mais marcantes foi o do Padre Rubens Chasseraux, que sob um plenário lotado relatou o que é ser preso pelo golpista Fleury, das contribuições na luta contra a ditadura, da aproximação com os moradores dos bairros do ABC, do congresso da UNE em Ibiúna e de seu amigo, saudoso, Frei Tito.
No sindicato, com a bandeira da UNE estendida, a juventude cantava a palavra de ordem: “Pela abertura! Pela abertura! Dos arquivos da ditadura!”.
Com esse feito, os trabalhadores e trabalhadoras do ABC, estudantes, movimentos sociais vivem um novo momento pra se unirem em prol da batalha pela verdade no país. O ABC protagonista da luta pela democracia no país, também agora se mobiliza para descobrir e organizar a documentação dos efeitos do golpe militar na região, muitos ocorridos antes das conhecidas greves dos trabalhadores e trabalhadoras do ABC nas décadas de 70 e 80.
André Lemos é cientista social e membro da equipe do Centro de Estudos Classistas (CES).