Paulo Eduardo: Onde São Paulo é mais negra

No estado de São Paulo a população, no ano de 2010, era de 14.287.843 negros e negras das mais variadas idades, ideologias, crenças, profissões e quaisquer outras categorias que possamos imaginar. Este contingente de negros e negras paulistas correspondia, em percentuais, a 34,63% da população do Estado e a 14,76% do total de negros e negras do Brasil (sim, São Paulo é o Estado com mais negros e negras no país!) e, se fossemos uma nação independente, com o mesmo idioma, mesmos costumes, unidos por hábitos, tradições, religiões, línguas e consciência nacional, seriamos um país com população maior ou equivalente a Bélgica, a Bolívia, a Grécia ou ao Senegal separadamente. Esta força demográfica, infelizmente, não se traduz nos números. Temos no Estado de São Paulo, historicamente, uma repressão social e econômica que atinge diretamente os negros e negras e os impede de conquistar a ascensão social proporcionada ao nível nacional por um governo progressista, mas desconhecida pelo povo negro paulista devido à política retrógrada levada a cabo nos últimos 18 anos (!!!).

Mas o que queremos apontar nesta coluna é outro dado que calculamos, tão curioso quanto os de cima, a cidade com maior percentual de negros e negras em sua população no Estado de São Paulo é Iporanga, localizada no Vale do Ribeira, região Sul do Estado… Sabia?

Vale notar que das dez cidades, 4 estão no Vale do Ribeira (Iporanga, Itaóca, Barra do Turvo e Barra do Chapéu), 2 estão no Pontal do Paranapanema (Euclides da Cunha Paulista e Marabá Paulista) e 3 estão entre Grande São Paulo e Baixada Santista (Francisco Morato, Itaquaquecetuba e Cubatão).
Mas o que significa isto?

Se olharmos com mais atenção para os dados de Iporanga, podemos ver refletida neles a situação dos negros e negras no Estado de São Paulo e, aqui é o ponto, os indicadores sociais e econômicos são sofríveis:

Empregos formais na cidade: Iporanga apresentou um extraordinário crescimento em seus empregos desde 1991 até 2011, saltaram de 129 para 467.

Trabalho: A taxa de desocupação em Iporanga é de 6,18% e a taxa de atividade (pessoas com ocupação no município) cresceu, de 2001 a 2011, 2% – no Estado de São Paulo a taxa cresceu, nos últimos dez anos, 44%.

Condição de vida: medida por um indicador criado pelo próprio governo paulista, o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) em Iporanga, saltou do nível 5 em 2000 (Municípios mais desfavorecidos, tanto em riqueza com nos indicadores sociais) para o nível 4 em 2008 (Municípios que apresentam baixos níveis de riqueza e nível intermediário de longevidade e/ou escolaridade).

As taxas de fecundidade (61,3/1.000 mulheres) e de natalidade (15,3 por 1.000 hab.) vêm em decréscimo em Iporanga desde 1991, resultando em um numero maior de idosos no município. Iporanga apresenta uma taxa de mães adolescentes (com menos de 18 anos) que é o dobro da encontrada no Estado de São Paulo (12,12% x 6,88%).

Na educação, encontramos em Iporanga dados chocantes: entre as pessoas com mais de 25 anos de idade (pessoas aptas à atividade econômica e ao estudo), 60% estão no agrupamento dos que nem completaram o ensino fundamental ou nem possuem qualquer nível de instrução.

Vemos, pelos dados apresentados, que a realidade dos negros e negras paulistas é dramática. Iporanga tem indicadores sofríveis e que afetam, indistintamente, seus cidadãos; porém, nesta localidade, em que a maioria de seus habitantes pertence à raça negra, reside também outro problema – inerente aos negros e negras paulistas, paulistanos, soteropolitanos, fluminenses, gaúchos e de outros Estados e locais do Brasil -: uma enorme desigualdade nas condições de vida entre negros e brancos, com a balança pendendo, ainda desfavoravelmente, aos negros e negras. A solução disto é urgente e não pode ser adiada.


Paulo Eduardo Alves Camargo-Cruz é Sociólogo, especialista em Economia pela PUC-SP e pós-graduando em Saúde Pública pela USP.

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