O último dos painéis de debate do Seminário Internacional sobre a integração latino-americana, organizado pela CTB e pelo CES, foi marcado pelas fortes opiniões dos palestrantes a respeito da necessidade da unidade dos trabalhadores da região, com vistas a evitar quaisquer retrocessos políticos e garantir novos avanços.
A partir do tema “O processo de integração sob a ótica dos trabalhadores”, o painel , coordenado pelo secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB, João Batista Lemos, reuniu três especialistas no tema: Juan Castillo, dirigente uruguaio da PIT-CNT e coordenador do Encontro Sindical Nossa América (ESNA), o cubano Ramón Cardona, secretário das Américas da Federação Sindical Mundial (FSM), e a socióloga brasileira Silvia Portella, especialista em movimento sindical latino-americano.
Segundo Castillo, a região vive atualmente uma oportunidade histórica, que não deve ser desperdiçada pelos trabalhadores. Ele se refere ao ciclo de vitórias eleitorais de governos progressistas iniciado na Venezuela, em 1998, seguido por países como Brasil, Uruguai, Argentina, Bolívia, Equador, entre outros.
Apesar desse cenário favorável, o sindicalista uruguaio entende que esse processo de integração não se tornou realidade. “Havia uma expectativa de que com a vitória de governos de esquerda na região haveria uma aceleração na integração, mas isso não ocorreu”, disse. “As oligarquias seguem tendo força suficiente para impedir que tais processos avancem”.
Nesse sentido, Castillo falou da importância de a classe trabalhadora se unir para acelerar esse processo, de forma a atuar ao lado de iniciativas como o Mercosul, a Unasul, a Alba e a Celac. “Somente a unidade poderá garantir à região um novo tipo de desenvolvimento. Precisamos aprofundar não-somente o projeto de integração, mas sim o processo de unidade. Precisamos trabalhar por aquilo que nos une, que não nos divida mais. Temos que defender os interesses da classe trabalhadora e criar uma plataforma para termos uma unidade de ação em prol de um projeto político que impeça qualquer retrocesso”, sustentou.
“O que queremos?”
Com essa pergunta, Cardona iniciou sua apresentação, fazendo uma espécie de provocação aos sindicalistas presentes ao Seminário. “Ou nos unimos ou padeceremos”, enfatizou o dirigente cubano.
Para ele, o movimento sindical latino-americano tem um objetivo muito bem definido na atualidade: fazer-se escutar em toda a região. “O que se impõe como resultado deste seminário é que o processo de integração requer nossa participação e é necessário para os trabalhadores. Os sindicalistas têm que buscar seu papel e garantir de que podem participar e serem escutados”, completou.
Para o cubano, as forças que se contrapõem aos interesses dos trabalhadores na América Latina são extremamente poderosas, e contam com o suporte do imperialismo norte-americano. “Estamos constantemente ameaçados e estaremos cada vez mais, conforme conquistarmos novos avanços. Por isso a necessidade de unidade”, defendeu.
Discurso desviado
Silvia Portella fez uma ampla apresentação, por meio da qual explicou a formação dos diferentes blocos regionais existentes na América Latina. Ao comparar o Mercosul à União Europeia, a socióloga lembrou que o bloco do Velho Continente, em seu início, ignorava por completo a atuação das centrais sindicais e os interesses dos trabalhadores.
Ao tratar da integração latino-americana, Silvia afirmou que o tema do trabalho, nos fóruns da região, acabou sendo diluído em outras questões sociais do continente. “As ONGs e os movimentos sociais acabam dominando um discurso que deveria ser tratado pelos sindicatos”, apontou.
Fernando Damasceno – Portal CTB
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