Sindicatos baianos entram na disputa de ideias por meio de investimentos em comunicação

A democratização da comunicação no Brasil e a necessidade de avanços na consolidação de uma imprensa sindical foram abordados, nesta quarta-feira (5), durante a abertura do Seminário Política e Atualidade, organizado pela CTB Bahia, no Hotel Sol Victoria Marina, em Salvador. Cerca de 150 trabalhadores e dirigentes sindicais participam do evento que vai até a próxima sexta-feira (7) e faz parte das atividades de formação promovidas anualmente pela Central no estado.

O jornalista Altamiro Borges, presidente do Centro de Mídia Barão de Itararé, abriu os debates da mesa sobre Mídia e Democracia. Na oportunidade, ele ressaltou que os brasileiros são, no cotidiano, “bombardeados” por uma interpretação de mundo que não é sua, motivo pelo qual os sindicatos precisam investir em meios de comunicação próprios e ganhar espaço na disputa de ideias. “Se o movimento sindical não fizer o contraponto, o trabalhador vai sendo bombardeado diretamente com essas ideias contra a organização, contra a luta, contra os direitos, por isso, a comunicação é questão estratégica. Então, eu não vejo possibilidade de avanço na luta dos trabalhadores, no sentido do avanço da consciência, da organização e da pressão, sem você ter uma comunicação que alerte sobre isso”, pontua.

Autor de livros sobre mídia e sindicalismo, Altamiro Borges afirma que a comunicação é questão decisiva no enfrentamento à dominação e a exploração de classe. Defensor de um marco regulatório para a democratização da mídia no país, ele critica o monopólio da comunicação e o uso de padrão de manipulação pela imprensa. “A mídia sempre teve papel político ideológico. Ela tem visão seletiva, não mente, mas omite o que não lhe interessa e realça o que lhe interessa. Uma greve ela transforma em congestionamento de trânsito, uma passeata transforma num transtorno para a população”, explica.

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Durante a palestra, Borges apresentou ainda uma série de exemplos dessa manipulação, como a cobertura do julgamento da ação penal 470, chamada de mensalão, que foi destaque na cobertura às vésperas da eleição deste ano, e o caso emblemático em que trabalhadores sem terra derrubaram pés de laranjas em fazendas da Crutale, em São Paulo. “Mostraram o trator passando sobre as laranjas, mas não disseram que aquela terra era grilada por uma empresa que comete crimes ambientais, responde a diversos processos trabalhistas e promove o monopólio da laranja no Brasil. A imagem é o que ficou. Portanto, chama a atenção o tratamento diferenciado que a mídia dá”, aponta o jornalista.

Presente na mesa de debates, o representante o Instituto Mídia Étnica – Correio Nagô, Paulo Rogério Nunes, destacou que a democracia só pode ser efetivada com uma mídia plural e diversa. E que isso é o oposto do que há na mídia brasileira, classificada por ele como extremamente concentrada na mão não apenas de grupos, mas na posse de famílias. “Esquecemos de um detalhe importante, essas famílias não são de Santos, Silvas, de Jesus ou Oliveira, são grupos com caráter étnicos específicos, uma elite de imigrantes que chegou ao Brasil no início do século passado e controla o poder, a informação e a mídia. E a comunidade negra, que veio para este país saqueada de seus valores, ela chega no Brasil e é colocada de maneira acessória, marginalizada”, diz Nunes, que lembra ainda que 70% da verba publicitária no Brasil está concentrada entre 10 conglomerados de mídia.

O debate sobre a democratização da comunicação vem sendo pautado pela CTB Bahia de forma efetiva, a entidade ocupa uma cadeira no Conselho de Estadual de Comunicação, pioneiro no país, além de ter em sua base o único sindicato do Brasil, a manter um jornal diário, o Sindicato dos Bancários. Para o presidente estadual da central, Adilson Araújo, é saudável aprofundar este tema. “O sindicalismo vive uma nova conformação e, de certa forma, os trabalhadores e trabalhadoras precisam tirar lições deste processo, que se soma a um ciclo mudancista iniciado com o governo Lula, a fim de buscar seu fortalecimento”.

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Reforma agrária

A segunda parte do dia teve como tema os “Dilemas da Luta pela Terra no Brasil”. David Wylkerson de Souza, secretário geral da Contag e vice-presidente da CTB Nacional defendeu o desenvolvimento articulado com base em aspectos econômicos e sociais, com acesso à terra e condições dignas ao trabalhador rural. “A reforma agrária continua sendo saída para fixar o homem no campo e contribuir com o desenvolvimento do país, já que a agricultura familiar é a grande responsável pela soberania alimentar. Os dados comprovam que, enquanto temos 1/4 das terras cultivadas no país e agronegócio tem três vezes mais propriedades, somos nós qem contribuimos com mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros”, destaca o dirigente.

A queda gradatida da criação de assentamentos no Brasil, também, foi criticada por Souza. “Com o discurso de estabelecer viabilidade às famílias já instaladas, o governo vem diminuindo o acesso à terra. É um équivoco porque a reforma agrária, com um custo muito menor, ela mantém o homem no campo e diminui o desemprego nos centros urbarnos. Essa é a nossa bandeira e nossa mobilização tem mostrado que isso é viável e é possível”.

O Seminário Política e Atualidade segue até a próxima sexta-feira (7/12). Ainda serão debatidos temáticas relacionadas à crise financeira mundial, saúde e segurança no trabalho, além da política industrial e energética.

Por Wilde Barreto (fotos: Manoel Porto)

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