Jill Stein e Cheri Honkala são candidatas à presidenta e vice nas eleições americanas da próxima terça-feira. Ambas vieram do ativismo social, a primeira no ambiente e na saúde pública, a segunda na pobreza e nos sem-abrigo. Contam com o apoio do Partido Verde, da Alternativa Socialista, de Noam Chomsky, de Ralph Nader, entre muitos outros ativistas e coletivos. Durante a campanha eleitoral já foram detidas duas vezes, uma num banco enquanto participavam num protesto sit-in contra despejos e outra ao tentarem invadir um debate presidencial a dois, em protesto com a exclusão de todos os outros candidatos.
Na “terra dos livres e da abundância” o acesso à democracia é extremamente dificultado. O primeiro desafio de qualquer candidato é conseguir o seu nome nos boletins de voto. Para tal é necessário dinheiro, seja para pagar essa inscrição seja para recolher as imensas assinaturas, por vezes em nível de todos os condados do estado. Em alguns estados, mesmo não constando nos boletins, os seus votos são contabilizados se o eleitor escrever o nome à mão. Em outros estados podem ficar de fora da corrida. Na prática, a lei deixa de fora os Democratas e os Republicanos destas exigências que até facilmente concluiriam e, em geral, ainda lhes dá o exclusivo do parco financiamento público. Não há tempos de antena e o tempo televisivo custa ouro e mesmo colocar cartazes na rua paga taxa.
Neste aspeto a candidatura de Stein, que defende uma extensa reforma da própria democracia (com sistema proporcional e não majoritário) e que recusa donativos de empresas conseguiu já uma grande vitória: tem o seu nome em quase todos os boletins de voto.
O pleno emprego é um objetivo declarado através da reconversão para as energias renováveis, da resposta às alterações climáticas e aos problemas ambientais. Para financiar este plano há que reduzir os gastos militares, reduzir o desperdício nos seguros de saúde privados e aumentar os impostos sobre o capital, os offshores e o patrimônio imobiliário de luxo. Para trabalho igual salário igual. Para o salário mínimo dignidade. As propostas de Stein e Honkala não são meigas para o sistema.
A justiça na economia começa com a nacionalização da Reserva Federal
Propõem a nacionalização da Reserva Federal (o banco central norte-americano, paradoxalmente privado) para haver controlo público sobre a política monetária e a criação de crédito. A banca privada perde o poder de criar dinheiro. Não há mais resgates à elite financeira e os bancos falidos poderão mesmo ser reabertos como bancos públicos se possível. A fábula dos bancos “demasiado grandes para cair” é para acabar, todos eles deves ser divididos a começar pelo privado Bank of America. A banca comercial e a banca de investimento têm que estar separadas.
Defendem a reescrita de toda a fiscalização do país, garantindo a progressividade, a proteção de quem menos tem e o contributo efetivo dos ricos. Todos devem ter direito a bens que querem públicos: aquecimento, eletricidade, telefone, internet e transportes coletivos. As infraestruturas essenciais como as autoestradas, a ferrovia, a rede energética, o sistema de águas, as escolas, as bibliotecas, a internet devem resistir à privatização e à gestão para o lucro.
Para além do corte para metade no orçamento do Pentágono, propõem o fecho de 140 bases militares no estrangeiro e o fim das guerras do Iraque e do Afeganistão com retirada dos militares e dos mercenários. Iniciativas de desarmamento nuclear, fim dos ataques com drones e dos assassínios como instrumento de política externa. O Patriot Act é para rasgar e as liberdades civis para proteger. Em suma, querem reduzir a dependência do petróleo e respeitar os direitos humanos e a lei internacional.
Educação pública sem propinas desde o jardim-escola ao secundário, advogam. Perdão para a dívida existente dos estudantes. Saúde para todos através do Medicare (seguro público não lucrativo onde o risco é repartido por toda a sociedade e não consoante a saúde de cada um). Para a habitação haverá uma moratória para que ninguém seja despejado e vários programas até que cada pessoa possa aceder a uma casa a menos de 25% do seu rendimento.
A candidatura tem bastantes propostas claras também no que se refere ao ambiente, à energia, à justiça, à imigração e à barbárie da pena da morte. São propostas radicais e de ruptura com o status quo norte-americano. São propostas que quer Obama quer Romney não podem nem querem defender. Eles são os rostos do 1% e tudo farão para que a democracia se mantenha bem longe dos cidadãos, que a desigualdade seja o motor da sociedade e que a violência seja o dia-a-dia de tantos povos.
A esquerda norte-americana não se esgota em Stein e Honkala, há outros candidatos que concorrem em poucos estados, outros que terão ficado pelo caminho e muitas mais ativistas que estão nas ruas e nas lutas de todos os dias. Mas pensar que a esquerda é dispensável onde o abuso é tão forte é uma fantasia. Julgar que a solidariedade da esquerda pode faltar à esquerda onde e quando ela mais precisa não será seguramente um exercício útil.
Como Jill Stein disse, “os eleitores não serão forçados a escolher entre dois servos de Wall Street na próxima eleição”…
Fonte: Esquerda.net