Nem a chuva fina que caiu na manhã da última terça-feira (09) impediu a manifestação promovida pelo Sindicato dos Comerciários de Taquari, em frente ao Sindicato dos Lojistas (Sindilojas), no centro do município de Montenegro.
Antes mesmo de completar uma hora do início do Ato de Valorização do Comerciário, o sindicato já havia conseguido dialogar com a classe patronal. A representação dos comerciantes prometeu voltar à mesa de negociação até a próxima terça-feira (16).
Uma reunião improvisada com representantes sindicais da região em frente à sede do Sindilojas selou o compromisso dos patrões. A secretária-executiva da entidade patronal, Márcia Scherer, disse, na frente de vários manifestantes, que, até a quarta-feira, 12 de outubro, iria entrar em contato com o Sindicomerciários Taquari e Montenegro e marcar mais uma rodada de negociação. “Até segunda-feira ou terça-feira da semana que vem, vamos nos reunir”, prometeu.
A promessa da secretária-executiva acena com o fim de um silencio de 70 dias. Desde 31 de julho, quando reduziu a proposta patronal de reajuste do piso salarial dos comerciários de 6,4% para 5,9%, na terceira rodada de negociação, o Sindilojas não retornou ao diálogo com o Sindicomerciários Taquari, Monenegro e São Sebastião do Caí. Essas propostas foram rejeitadas pela categoria em Assembléia do dia 30 de agosto. No dia 10 de setembro, o Sindicomerciários Montenegro pediu a intermediação do Tribunal Regional do Trabalho.
“O país cresce apesar da crise internacional. A média de renda das famílias é maior. As pessoas estão consumindo mais, e os comerciantes ganham com esse cenário de crescimento econômico. Nossa intenção neste ato foi chamar a atenção para o fato de que é preciso dividir este lucro com o comerciário e a comerciaria, que trabalham sábado, domingo e ajudam a produzir a riqueza de Montenegro e Região”, disse Joemir de Oliveira, presidente do Sindicomerciários Montenegro.
Os Sindicatos querem mostrar aos comerciantes que aumento salarial para uma base muito importante da economia brasileira, como são os trabalhadores comerciários, representa retorno em vendas. Por isso, a proposta dos trabalhadores é um aumento real de R$ 51 e chegar num piso de, pelo menos, R$ 800. A proposta do Sindilojas prevê o pagamento de um piso de R$ 765, com aumento real, descontada a inflação de 4,9% (junho de 2011 a junho de 2012), de apenas R$ 7.
“Os sete pila que o Sindilojas está oferecendo é o mesmo que pagar 23 centavos de aumento real a cada dia de trabalho. Não dá para comprar um pãozinho para o café. Mal dá para comprar meio pãozinho”, diz o diretor do Sindicomerciários de Alegrete, João Procópio Prado.
O representante da Federação dos Comerciários do RS, Fernando Lemos, disse que o cenário econômico é amplamente favorável a um aumento histórico que irá beneficiar também os patrões. Segundo ele, a redução na taxa de juros, o Imposto sobre Produtos Industrializado (IPI) menor para eletrodomésticos tem estimulado as vendas e os lucros no comércio. “Está na hora de valorizar o comerciário. Se o trabalhador ganha mais, onde ele gasta? Vai gastar aqui na região”, explicou.
O Secretário do Sindicomerciários de São Sebastião do Caí, Pedro Diomar, disse que, em sua cidade, há vários comerciantes que já remuneram seus empregados por um valor acima dos R$ 800 no salário base. “Ninguém está quebrando nem vai quebrar por pagar um salário decente. Muito pelo contrário. Lá no Caí os comerciantes não se queixam de pagar melhor, mas dizem que é possível e é melhor até para as vendas”, diz Pedro.
Para o presidente do Sindicomerciários de Taquari, Vitor Espinoza, o Sindilojas de Montenegro adota uma estratégia que os patrões reproduzem em outras cidades do Estado, através da Fecomércio. “Eles querem trancar a pauta e arrochar o trabalhador. Os comerciários não podem ter reajuste menor do que outras categorias da base econômica. Salário tem efeito multiplicador”, disse Vitor.
O diretor do Sindicomerciários de Taquari, Raul Cerveira, exaltou a mobilização da categoria. Segundo ele, o fato de que várias pessoas enfrentaram a chuva e o tempo ruim e os representantes dos patrões significa que a categoria está mobilizada e consciente do seu valor. “Se nós não conseguirmos avançar na pauta de negociações. Se o Sindillojas continuar arrochando o nosso salário e nos desvalorizamos, nós vamos voltar, e acampar na frente do Sindilojas. Estamos prontos para buscar aquilo que merecemos”, explicou.
Entenda as diferenças de propostas dos comerciários de Taquari e do Sindilojas
Piso atual R$ 723,00
Inflação junho de 2011 a junho de 2012: 4,9%
Piso sem ganho real: R$ 758,43
Proposta dos trabalhadores
Aumento de 12% = Aumento real de 7,1%
R$ 51,00
Valor do piso: R$ 809,80
Proposta do Sindilojas
3ª rodada de negociações (31 de julho)
Aumento de 5,9% = Aumento real de 1%
R$ 7
Valor do piso = R$ 765,00
Portal CTB com Sindicato dos Comerciários de Taquari