Dorenice Cruz, 28, secretária da Juventude Rural da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Mato Grosso (Fetagri-MT), em entrevista exclusiva para o Portal CTB, analisou como está a situação da juventude rural brasileira na atualidade, relatando que a falta de políticas públicas para a juventude está fazendo com que os jovens abandonem o campo.
E sobre o questionamento sobre uma possível falta de protagonismo da juventude rural dentro do movimento sindical, levantada durante o encontro de trabalhadores rurais da CTB, a dirigente se mostrou contraria a essa tese. Para a dirigente matogrossense, apesar das dificuldades existe, sim, uma juventude rural organizada e sindicalizada.
A secretária, que está há 10 anos no movimento sindical, ressaltou ainda a importância da juventude rural para o desenvolvimento do país, e as atividades que vem desenvolvendo dentro da Fetagri-MT.
Confira abaixo a entrevista:
Portal CTB: Quando e como você começou no movimento sindical?
Dorenice Flor da Cruz: A minha vida no movimento sindical começou em 2002, participando no sindicato de Mato Grosso, participando da diretoria. No mesmo período também comecei a participar na Fetagri representando a juventude da minha região e também enquanto mulher. E na Fetagri em 2006 já havia um departamento de juventude, e durante o 7º Congresso foi criada a Secretaria de Juventude Rural, a qual fui escolhida para coordenar, e já estou no segundo mandato.
Portal CTB: Quais atividades da Secretaria de Juventude você destacaria?
Dorenice: Dentre as nossas atividades, podemos destacar a grande quantidade de jovens que participam do Projeto Saber, superando a exclusão digital, aprendendo informática. Temos também uma forte participação na escola de formação da Contag e no estado nós temos a escola de formação da Fetagri, com grande participação da juventude. Há também um curso técnico em agropecuária que acolhe a todos, independentemente da idade. E fazemos os trabalhos nos sindicatos chamando os jovens para dentro do movimento sindical e fortalecendo a luta.
Enquanto juventude do movimento sindical, nosso foco principal no momento é a preparação para o Congresso da Contag, e vamos organizar no mês de outubro, em nível estadual, a Plenária da juventude rural de preparação para o Congresso. E no final do mês de outubro iremos a Brasília para continuar o debate com jovens de outros lugares do Brasil.
Portal CTB: Como você analisa a situação da juventude rural dentro do movimento sindical?
Dorenice: Eu vejo que nós, enquanto juventude trabalhadora rural, estamos organizados, sim. Temos muitos jovens organizados no movimento sindical e nós, da Fetagri, tivemos a capacidade de reunir cinco mil jovens em um festival. Sendo assim, quando fazemos atividades nos municípios não há dificuldades em reunir os jovens.
Mas é claro temos dificuldades, principalmente para a permanência dos jovens no campo, devido à falta de oportunidades – e não porque os jovens queiram sair do campo. O que dificulta a vida dos jovens no campo são as dificuldades em relação à própria renda, as péssimas condições de estudo e ainda há a escassez das áreas de lazer. Tudo isso faz com que os jovens abandonem o campo. A realidade atual mostra que a juventude está sendo expulsa do campo devido à falta de políticas publicas. E o jovem que sai em busca de melhorias e acaba se frustrando.
Portal CTB: O que pode ser feito em sua opinião para reverter esse quadro?
Dorenice: Nós precisamos de um reforma no conjunto do movimento sindical – e falo também enquanto CTB. Os sindicatos precisam valorizar mais a juventude organizada dentro e fora do movimento sindical, porque há também outros espaços. A juventude precisa estar no processo e integrar as discussões, e assim continuar contribuindo para o desenvolvimento do país. A juventude rural também contribui para a alimentação dos brasileiros. Enquanto agricultores, também somos responsáveis por 70% da produção da agricultura familiar que vai para a mesa das pessoas. Além disso, hoje dentro do movimento sindical 20% são de jovens e podemos dizer que temos um grande número de jovens sindicalizados e participando das lutas do movimento sindical. A juventude esteve presente ao Grito da Terra e à Marcha das Margaridas, fazendo a luta para a sua permanência no campo e pela melhoria da qualidade de vida das famílias. Sendo assim, nós enquanto juventude rural organizada e mobilizada, precisamos ser valorizados.
Portal CTB: Existem algumas políticas públicas destinadas ao trabalhador do campo, como o Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar]. Que efeito essas iniciativas vêm obtendo junto aos jovens?
Dorenice: O Pronaf Jovem, que é o crédito especial de investimento relacionado a projetos específicos de interesse de jovens, veio para incentivar a questão de renda. Mas quando analisamos a realidade, o jovem não tem condição de acessá-lo. Foi lançado no último Plano Safra, com a ampliação de R$ 12 mil para R$ 15 mil, mas qual a condição que o jovem tem para alcançar esse valor? No nosso estado, por exemplo, nós temos um jovem que está com um projeto no Banco do Brasil desde novembro de 2011. O projeto já foi refeito e ele está insistindo, mas até quando terá forças para continuar insistindo para que o projeto seja aprovado? Segundo o técnico, o projeto é viável e a única explicação que o Banco do Brasil nos deu é que o sistema do banco e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) não está conseguindo cruzar os dados.
Sendo assim, precisamos trazer essas iniciativas para a prática. Não adianta termos políticas públicas só no papel e para divulgar na mídia. Do que adianta termos os recursos do Pronaf Jovem se quem precisa não consegue ter acesso a ele?
Paula Farias – Portal CTB