Rapper GOG fala sobre o desenvolvimento sustentável na periferia, onde a luta é pela sobrevivência

Genival Oliveira Gonçalves. Este é seu nome, e as iniciais o tornaram conhecido. Filho de seu Genésio e Dona Sebastiana, o rapper Gog, levou à Arena Socioambiental, evento na Cúpula dos Povos na Rio+20, a luta da periferia. “Nós somos quem menos polui e quem menos contribui para o efeito estufa”.

E quem mais trabalha para que esse sistema se alimente do nosso sangue e da nossa vitalidade, da nossa caminhada diária”, disparou. Ele destaca que na periferia, o desenvolvimento sustentável é outro, é o do sustento. E questiona qual é esse projeto de desenvolvimento discutido na Rio+20: “Restará aos jovens negros vender cerveja na Copa de 2014 e catar latinhas, ao final do espetáculo?”

No encontro que debateu a experiência brasileira de participação social da Juventude, o rapper defendeu as cotas raciais, a “legalização do arroz com feijão para todos” e teceu críticas à violência policial contra jovens negros. Em sua opinião, quem pacifica as favelas são as Unidades de Poesia Periférica. “Não temos políticas públicas que evitem que os meninos que nasceram em 2001 estejam na Febem no ano que vem”, disse. “O Estado tem a mão que aperta o gatilho.”

A seguir confira entrevista concedida à revista Fórum.

Fórum – Como você vê o desenvolvimento sustentável na ótica da periferia?
Gog – Para nós, é quase como um desenvolvimento etário, diante do extermínio, diante da alimentação, do protagonismo. Para nós as questões são muito mais profundas, nos temas da esquerda, dos movimentos sociais, a questão negra é sempre um recorte dentro desses temas. Temos que lutar tanto pela inclusão do tema, como para sermos incluídos dentro do tema. Vejo a Rio+20 ainda como um vento, uma brisa, diante do nosso desenvolvimento que passa por um sustento que é vital para nós. A nossa discussão aqui é sobre a vida. É para que nossos jovens não sejam exterminados, no momento em que ele mais pode produzir, essa pátria mãe os elimina através de seu braço armado, que é a polícia. E o pior, com o aval, não só do Estado, mas da opinião pública.

Qual o papel da literatura periférica, do hip hop, nesse desenvolvimento?
Só a cultura transforma. A educação pode te dar o caminho, mas a cultura vai te dar o discernimento, ela vai te dar a liberdade. Mas eu vejo a ausência muito grande dessa vitamina C, da cultura, nas discussões da Rio+20. Nós vemos propostas, fundo mundial, mas como aplicar isso aí? Não adianta ter dinheiro se nós não temos o foco da aplicação dessa verba.

Em 2010, você apoiou a eleição da presidenta Dilma, qual a sua avaliação do governo até agora?
A campanha da Dilma pode ser vista de várias formas. Primeiramente, eu não queria o PSDB nem o DEM no governo. Toda pauta que é reacionária está ligada a esses dois partidos. A princípio o meu apoio a Dilma era estratégico, porque eu teria mais espaço para ocupar, como a Secretaria de Igualdade Racial, temos pessoas que faziam parte dos movimentos sociais que estão no governo. Dilma tem essa revolução da mulher, tem essa questão da corrupção, porque, hoje, ela está sendo contada. Mas, acima de tudo, quero dizer que o hip hop votou na Dilma, mas cobra da Dilma. Eu não sou um ponto.gov, eu sou um ponto.Gog. A gente vai falar o que está errado, vai exigir. Por exemplo, hoje, na questão negra, não tem como a gente discutir, sem exigir a retirada da Marinha no Quilombo do Rio dos Macacos, na Bahia. Embora eu seja de dois conselhos, meus cargos estão sempre à disposição, porque se a Dilma me deixar, a favela vai me abraçar. Eu já estou abraçado com quem eu quero.

E neste ano de disputa municipal, vamos continuar com essa ótica de quem está com gente, quem consegue ‘aturar o cheiro do povo’. Não dá para você fechar com quem é a favor da maioridade penal, com alguns partidos de direita que, embora estejam em alianças nacionais não estão conosco no nosso dia a dia. A gente tem que lembrar, nesse período de eleição, que você não vota na pessoa, vota no partido. Por isso, a gente tem que ter uma Reforma Política no Brasil. Muita coisa tem que ser mudada. Não adiantam as CPIs, se a gente não sabe para onde ir.

Fonte: Site Revista Fórum

Foto: Caso do Eixo

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