Uma análise da crise internacional

Discurso proferido durante a 101ª Conferência Internacional do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Senhoras e senhores,

Também neste ano a Conferência Anual da OIT é celebrada em condições de profunda crise do sistema capitalista. Uma profunda crise que abarca todos os níveis de todos os setores da economia, da política, da cultura, do meio ambiente e em todas as partes.

Quase toda a União Europeia está em crise profunda. Grécia, Espanha, Itália, Portugal, Irlanda, Bélgica, etc. Agora a crise está alcançando o núcleo duro. Está batendo às portas da França e envia mensagens à própria Alemanha.

A profunda crise em quase todos os países da UE agrava perigosamente a competitividade entre esses países. A Alemanha está tratando de construir suas próprias alianças com a Rússia e outros países. França está tratando de construir suas próprias alianças.

A rivalidade entre esses Estados capitalistas pelo controle de novos mercados, pela criação de novas fronteiras, pelo gás, petróleo e pelas vias de transporte da energia, constituem um grave risco para a paz, um grave risco para as pessoas.

Na Líbia, mataram 120 mil pessoas para controlar as fontes naturais geradores de riqueza.

Na Síria, os emires, reis e sultões do Golfo Pérsico, junto do governo da Turquia, estão enviando armas para que os sírios se matem entre si.

Os imperialistas empurram ao Sudão do Sul todos os dias novas demandas; na Somália, na Nigéria e nas Ilhas Malvinas a situação é perigosa.

As calúnias dos Estados Unidos e da UE contra a Venezuela, Cuba (e sei bloqueio desumano), contra a situação no Paquistão e no Afeganistão completam o quadro de intervenções imperialistas.

Nós, como trabalhadores, como movimento sindical de classe, como FSM, temos o dever de divulgar os planos dos exploradores e fazer com que cresça nos trabalhadores de todo o mundo o espírito de luta, do internacionalismo, da luta constante contra as guerras imperialistas.

A FSM, nossos sindicatos filiados e amigos de todo o mundo têm levado a cabo importantes lutas durante o ano passado. No centro dessas lutas esteve a luta contra o desemprego. O desemprego é um fenômeno social produzido pelo capitalismo. A taxa de desemprego atual afeta a todos nós, mas sobretudo aos jovens e às mulheres. As cifras mostram que 75 milhões de jovens buscam trabalho.

A OIT expressa com facilidade desejos, generalidades e vagas promessas. Há anos escutamos bonitas palavras sobre dignidade, igualdade, direitos democráticos, etc.

– No dia de hoje, senhores da OIT, há mais de 200 jovens encarcerados nas prisões israelenses. O que vocês estão fazendo para que tenham uma vida digna e um futuro com trabalho decente em se próprio Estado?

– No dia de hoje, na América Central cerca de 4 mil crianças são obrigadas a participar em bandos a serviço do narcotráfico. Como vocês tem intervido?

– No dia de hoje, quase 1.500 crianças morrerão por falta de água e enfermidades relacionadas. Quais foram suas intervenções e quais resultados obtiveram?

– Na Grécia, 2350 pobres se suicidaram nos dois últimos anos, aposentados e desempregados. Qual condenação fez a OIT contra os governos gregos?

– Atualmente, 52% dos desempregados gregos são jovens, enquanto que na Espanha esse número corresponde a 50,5%. A FSM lhes enviou uma carta para que interviessem por eles. Vocês não fizeram nada.

– Milhares de pessoas jovens sofrem com o HIV/AIDS e não podem pagar pelos medicamentos. A esperança de vida em Botsuana se reduziu em 20 anos, em 16 anos na Suazilândia e 13 anos na Zâmbia e em Lesoto durante a última década.

– Na Suazilândia, os jovens são expulsos do país por seu regime ditatorial. Os sindicatos e os sindicalistas são perseguidos.

– No Cazaquistão, grevistas e sindicalistas são assassinados; na Malásia, sindicalistas são demitidos.

– Na Colômbia são assassinados sindicalistas e a OIT tirou seu governo da lista do Comitê de Aplicação de Normas.

– Nas minas do Chile e Peru morrem trabalhadores diariamente. Que medidas cautelares foram impostas pela OIT?

– O direito à greve dos trabalhadores está sendo gravemente atacado. Os ataques contra os trabalhadores da Helliniki Halivourgia, na Grécia, que já estão há mais de 200 dias em greve, e contra os trabalhadores da Unilever, na França, com mais de 600 dias em greve, são uma prova disso. No Panamá, os trabalhadores do Canal são proibidos de exercer seu direito de greve.

Para nós da FSM, as palavras “dignidade”, “igualdade” e “justiça social” não são generalidades – têm um conteúdo específico. Por isso, as oficinas regionais da FSM e nossas organizações setoriais internacionais organizam ações significativas em todos os setores-chave, em todas as regiões.

Por isso, para o próximo 3 de outubro a FSM convocou um Dia Internacional de Ação, sob o lema “Alimentos, água potável, livros, moraria e medicamentos para todos os trabalhadores”.

Escolhemos esses temas porque consideramos um crime que haja trabalhadores no século 21 que morram de fome, de sede, que durmam nas ruas; milhões de estudantes que não têm livros; doentes que não têm remédios.

Consideramos que é um crime as multinacionais e os monopólios roubarem os ricos recursos naturais gerados de riqueza em cada país – e que os povos sofram com isso. Esse mundo é desigual e antidemocrático. Nós, da FSM, continuaremos a luta até que o mudemos e construamos um mundo sem exploração do homem pelo homem.

Tradução: Fernando Damasceno


George Mavrikos é secretário-geral da Federação Sindical Mundial (FSM)

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